Prefeitura de Corumbá |
No Brasil, o índice de mortes violentas caiu em relação a 1980. Levantamento apresentado pelo professor e sociólogo Júlio Jacobo, mostram que, naquele ano, foram 633 mortes para cada 100 mil habitantes. Houve uma queda em 2006 para 552 mortes. Segundo Jacobo, isto não chega ser motivo para comemorar, principalmente pelo fato de que a incidência envolvendo jovens entre 15 e 29 anos, se manteve. Em 1980 foram registradas 128 mortes violentas para cada 100 mil habitantes, contra 129 e 2006. Os números foram apresentados durante palestra de Jacobo no encerramento do III Encontro de Promoção do Protagonismo Juvenil – Geração Jovem Consciente, ontem à noite, sexta-feira, no auditório Salomão Baruki. Preocupação maior ainda é que, Mato Grosso do Sul ocupa o sétimo lugar no ranking da violência envolvendo o jovem no País, com uma média de 95,1, e Corumbá é o 211º município mais violento com 44,4 para cada 100 mil habitantes.
Autor do Mapa da Violência dos Municípios Brasileiros, Jacobo informou que, em todo o Estado, a maior incidência de mortes violentas está relacionada a homicídios, 46,9 para cada 100 mil habitantes. Acidentes de trânsito é o segundo no ranking com 35, e suicídio fica em terceiro, com 13,2. Mato Grosso do Sul fica atrás apenas de Alagoas (líder do ranking da violência com 135,6 mortes para cada 100 mil habitantes), Espírito Santo, Pernambuco, Rio de Janeiro, Paraná e Amapá.
Jacobo alerta que Mato Grosso do Sul está acima da média nacional que aponta 48,8 jovens mortos por homicídio para cada 100 mil habitantes; 4,5 por suicídio, e 22,4 mortes por violência no trânsito para cada 100 mil habitantes, uma média de 75,7. Com relação a homicídio, supera a Europa que aponta uma incidência de 1,2 mortes para cada 100 mil habitantes. Dado preocupante revelado durante a palestra é que o maior crescimento da violência, de 1994 a 2006, ficou na faixa etária dos 15 aos 29 anos (30 em 80, 52,1 em 2000 e 51,3 em 2006.
No ranking, Corumbá é considerado o quinto município mais violento do Estado, conforme dados divulgados até 2006, com uma média de 44,4 mortes apara cada 100 mil habitantes. Em 2002 a taxa ficou em 33, subiu para 34 em 2003, para 47 em 2004, queda em 2005 para 34, voltando a subir em 2006 para 42. Coronel Sapucaia, na divisa com o Paraguai, é o município mais violento, ocupando inclusive o primeiro lugar no Brasil, com uma taxa de 107,2.
Segundo o sociólogo, a maioria dos homicídios se concentra em apenas 10% dos municípios do País. De acordo com estudo da Organização dos Estados Ibero-Americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura (OEI), 71,8% dos homicídios no Brasil concentram-se em apenas 556 cidades. Entre 1994 e 2004, o número total de homicídios passou de 32.603 para 48.374, um aumento de 48,4%. No mesmo período, a população brasileira cresceu 16,5%.
Queda
Jacobo informou que São Paulo foi o único estado brasileiro que conseguiu reduzir os índices de violência nos últimos cinco anos. Segundo ele, isto se deve à implantação de infraestrutura, dotada de espaços adequados para os jovens desenvolverem suas atividades culturais, sociais e de lazer, como também à campanha desenvolvida pelo Instituto São Paulo Contra a Violência. “A violência interiorizou . São os municípios do interior que mais registram mortes violentas”, afirma, citando que a maior concentração está no centro-oeste, com três cidades do Mato Grosso entre as 10 mais violentas do Brasil: Colniza, Itanhagá e Juruena.
O levantamento do sociólogo revela que proporcionalmente, a maior taxa de mortalidade do País, em 2004, foi a de Colniza, com população de 12,4 mil habitantes. Enquanto o Brasil registrou 27,2 homicídios por 100 mil habitantes naquele ano, em Colniza chegou a 165,3 óbitos por 100 mil habitantes.
O Mapa da Violência dos Municípios Brasileiros mostra que as vítimas mais comuns dos homicídios são jovens, sendo a maioria negros do sexo masculino. O estudo foi elaborado com base nos dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde. Indica que a criminalidade cuja vítima são os jovens chega a cifras astronômicas quando comparada às registradas em países desenvolvidos. Entre 1994 e 2004, o número de assassinatos cujas vítimas tinham entre 15 e 24 anos cresceu aproximadamente 64%, o que corresponde a mais de 100 vezes o número de assassinatos de jovens na Áustria e no Japão.
Protagonismo
Jacobo aponta que a solução para redução da mortalidade entre os jovens, por violência, passa pelo protagonismo juvenil, exemplo do que está ocorrendo em Corumbá, cidade fronteira com a Bolívia que, pelos seus estudos, trata-se de região onde ocorre maior incidência. Exemplificou lembrando Coronel Sapucaia e Foz do Iguaçu.
No entender o sociólogo, o primeiro passo é dimensionar o problema, para vem seguida diagnosticar as causas e colocar em prática as experiências que podem contribuir para uma solução. Conforme ele, em São Paulo, uma das causas da redução da violência se deve à lei seca. Citou Diadema, cidade que em 2000, registrou 147 mortes para cada 100 mil habitantes e, agora, está com uma média de 30 mortes.
“Temos que buscar a causa da morte violenta envolvendo jovens. Juventude não é problema, é parte da solução. Cada jovem tem que construir o seu caminho. A sociedade tem que engajar”, diz, apontando também a necessidade da “municipalização do enfrentamento” e que a “estratégia nacional não dá certo”.
Destacou que o jovem está se integrando ao protagonismo, está decidindo sobre o que fazer “para melhorar as condições dele”. Comentou que o encontro ocorrido em Corumbá, foi um mecanismo para o jovem conhecer, “o início do caminho do protagonismo juvenil”.