Povo das Águas promove troca cultural com crianças pantaneiras

Fotos: Gesiel Rocha

Enquanto médicos consultavam e assistentes sociais cadastravam famílias, as crianças eram atores e público de brincadeiras lúdicas

O olhar profundo, o sorriso fácil e o cabelo trançado materializam a inocência e a doçura de criança. Já o chapéu de boiadeiro, a camisa vermelha de mangas compridas e as botas quase nos joelhos, com as marcas dos estribos do cavalo, revelam um aspecto mais adulto. Ketlin Martins Paes tem 10 anos, é moradora da Colônia São Domingos, às margens do Rio Taquari, aluna do 4º ano da Escola Municipal Rural Polo Porto Esperança – Extensão Santa Aurélia, e traz no rosto moreno e de olhos expressivos a síntese do povo pantaneiro: a marca do sol, a sinuosidade do rio e a leveza do sorriso. Como as outras gerações e os próprios colegas de sala, só quer ir à cidade a passeio.

Ketlin mora com a avó Ana Regina Martins Paes, 50 anos, professora da escola onde estuda, e quer se tornar professora para continuar o que ela faz há 24 anos: ensinar outras crianças pantaneiras para que, mesmo optando por viver longe do ambiente urbano, possam descobrir, por meio da educação, os caminhos de uma vida mais saudável e menos sofrida. No último fim de semana, entre os dias 20 e 22, ela foi uma das tantas crianças que receberam a visita da equipe multidisciplinar do Programa Social Povo das Águas, da Prefeitura de Corumbá, que, em sua quarta edição em 2010, voltou à região do Paiaguás, no nordeste do Pantanal sul-mato-grossense.

Assim como nas outras três edições, o barco Éda Ipê III levou profissionais de diversas áreas para oferecer serviços de saúde, assistência social e educação às famílias ribeirinhas, além de inúmeros itens de primeira necessidade, como cestas básicas, kits de higiene pessoal, roupas, agasalhos e brinquedos. Desta vez, ao trabalho da equipe que percorreu três rios por quase 15 horas até chegar às comunidades do Paiaguás, foram acrescentados dois elementos: a ludicidade e a alegria. Enquanto médicos consultavam e assistentes sociais cadastravam famílias para os benefícios sociais, as crianças eram ao mesmo tempo os atores e o público de brincadeiras lúdicas.

Tal como Ketlin, dezenas de crianças das comunidades do Corixão, Cedro e São Domingos, entre outras, tiveram contato com a diversidade literária e as brincadeiras comuns à zona urbana e, por outro lado, puderam expressar a cultura, os trabalhos escolares e as próprias brincadeiras típicas da região ribeirinha. “Brincar é fundamental para o desenvolvimento das crianças, e é claro que nem tudo o que existe na cidade chega aqui. Por isso, trouxemos um pouco das brincadeiras de lá para socializar com as brincadeiras daqui”, explica a psicopedagoga Miriam Bastos de Oliveira da Cruz, técnica em Educação Infantil da Secretaria Executiva de Educação de Corumbá.

A pedagoga Neide Leones Pereira, técnica da mesma secretaria, acrescenta que, por meio das brincadeiras interdisciplinares é possível atingir todos os campos da educação infantil, como português, matemática, história e geografia, e trabalhar questões sérias de forma divertida, como as preocupações com a saúde e o meio ambiente. “Além de trazer informação e atualização, também prestigiamos o trabalho que essas crianças realizam aqui, como as representações culturais, as demonstrações de danças locais, a exposição de trabalhos sobre o meio ambiente, conhecendo e verificando que aqui elas também são capazes de criar”, enfatiza.

Miriam acrescenta que faz parte deste processo de troca o resgate de brincadeiras locais que foram se perdendo ao longo do tempo, para que tal conhecimento também seja levado à cidade. “Além disso, durante a construção dos brinquedos, mostramos, de forma prazerosa e lúdica, que aquilo que às vezes é jogado no rio pode se transformar em um brinquedo, o que é importante para eles e para o meio ambiente”, diz. “Com este trabalho, conhecendo melhor a realidade das crianças ribeirinhas, pudemos verificar que o Núcleo do Campo da Secretaria de Educação tem proporcionado o melhor nível de informação possível, como já constatamos nas avaliações que temos”, completa Neide.

É o que expressa a professora Ana Regina, avó de Ketlin, para quem a presença da equipe do Programa Povo das Águas beneficia tanto as crianças do ponto de vista escolar, quanto as famílias do ponto de vista social. “Para os alunos, as novidades e a troca de experiências são fundamentais para o crescimento pessoal e para a melhoria do desempenho escolar, principalmente com o kit da Escola Ativa. E para as famílias, esse apoio é essencial no âmbito da saúde e até mesmo da alimentação”, afirma. Para ela, mais do que uma brincadeira diferente, uma escova de dente nova e um brinquedo, a ação está ajudando a construir a cidadania das crianças pantaneiras.

Aos 10 anos, Ketlin quer ser professora para ensinar outras crianças pantaneiras a descobrir os caminhos de uma vida mais saudável


Gesiel Rocha – Subsecretaria de Comunicação Institucional

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