"Completei quatro meses de tratamento no Habilitar. Antes eu dormia na rua, ficava jogado no chão, pedindo comida. Muitas vezes precisei roubar para comprar drogas e fui preso por isso. Agora, muita coisa mudou e, pouco a pouco, estou me recuperando das drogas. Estou seguindo minha vinda, ficando de boa (sic)". Este é um trecho de um dos relatos de jovens que estão em tratamento no programa Habilitar, da Prefeitura de Corumbá, por meio da Secretaria Municipal de Ações Sociais, que visa livrar crianças e adolescentes do vício das drogas em uma casa de acolhimento, oferecendo a atenção especial que falta na vida dos dependentes químicos.
Em mais de 120 dias de tratamento, o jovem de 16 anos – que vivia nas ruas de Corumbá e apenas tinha como meta conseguir dinheiro para fumar pasta base – começa a enxergar novos rumos, um futuro diferente daquele proporcionado pela marginalidade. "Estou há três meses sem fumar. Hoje estou aprendendo a ler, quero trabalhar, arrumar uma mulher e ser feliz", confessa. Ele conta que, antes de pedir a reabilitação, o caminho percorrido não foi fácil. "Fui preso várias vezes por roubar, apanhei muito na rua. Até que um dia quis sair dessa vida", lembra, ao apontar no corpo as marcas das agressões resultantes do uso de drogas.
A vontade de largar o vício das drogas é, segundo os especialistas, a parte mais importante do tratamento. Sem isso, muitos acabam voltando para o mundo dos entorpecentes e para a criminalidade. E foi durante uma audiência com um juiz criminal que mais um caso de superação começou. Acusado de envolvimento no furto de uma máquina de lavar, o adolescente de 15 anos pediu ajuda ao magistrado para largar a dependência química. "Hoje muita coisa mudou na minha vida, desde que entrei no Habilitar parei de fumar. Gosto de vir aqui, quero ir para a escola no ano que vem", comentou. Usuário de drogas desde os oito anos, ele pedia dinheiro no estacionamento de um supermercado para financiar o vício. "Temos que respeitar para ser respeitado. As pessoas me enxergam diferente hoje", disse.
Participando ativamente das atividades relacionadas ao filho mais novo, a mãe de mais um jovem que teve o curso da vida alterado por conta das drogas agora começa a respirar mais aliviada. "Ele melhorou muito, não está saindo muito à noite e está me obedecendo. Já prometeu que no ano que vem vai voltar a estudar", contou. Para a dona de casa, estar presente nos encontros organizados pela equipe do Habilitar é de suma importância para a melhora do filho caçula. "O programa foi uma coisa muito importante que fizeram para os jovens. Estou sempre nas reuniões, para saber de cada melhora que ele tem", disse. Os encontros ocorrem uma vez por semana.
A interação entre família, jovens e equipe técnica do Habilitar é um dos diferenciais do atendimento aos menores. "O programa busca reintegrar essa pessoa, para que ela possa retomar o seu desenvolvimento normal. Não é possível alcançar esse objetivo se focar somente no adolescente de uma maneira separada da sua vida familiar. Por isso, a família é fundamental nesse processo", resumiu o médico Cláudio Luiz Pereira da Rosa, que atua como voluntário na instituição e coordena os encontros com os parentes dos jovens em tratamento.
Conforme ele, a equipe também é um diferencial na missão de reabilitar crianças e adolescentes. "Com uma equipe multidisciplinar há uma busca em cada setor, como, por exemplo, o social, psicológico e pedagógico. Inicialmente precisamos conhecer a família na qual esse adolescente está inserido e tentar corrigir possíveis falhas nesse processo para tentar reinserí-lo na vida normal", complementou o médico. O programa Habilitar funciona em um prédio na Rua Delamare, 272, no centro da cidade. O telefone de contato para outras informações é 3232-4732.