Sete anos vivendo em condições subumanas, dentro de um barraco, a maioria com apenas duas peças, e rezando para não chover. Depois desta situação, no entanto, o drama de 171 famílias do Cravo Vermelho III está chegando ao fim. Elas iniciam o ano novo de casa nova, com toda a infraestrutura necessária para uma vida melhor, no novo conjunto habitacional construído pela Prefeitura de Corumbá, em parceria com o Governo Federal, por meio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC-Casa Nova).
Desde o fim do ano passado, as famílias estão sendo reassentadas no conjunto Ana de Fátima Brites Moreira, no bairro Guatós, inaugurado pelo prefeito Ruiter Cunha de Oliveira (PT) no dia 23 de dezembro. Elas fazem parte de um grupo composto por 272 famílias que estão sendo remanejadas para o novo endereço, deixando para trás anos de sofrimento não só no Cravo Vermelho III, mas também no antigo prédio da Alfândega (15), no Morro do Cruzeiro II (17), no antigo lixão do Cravo Vermelho I (9) e no loteamento Lar para Todos (60).
As mudanças começaram logo após a inauguração, no último dia 23. A primeira família reassentada foi de Jaciele Araújo Melgar, 28 anos, ex-moradora do Cravo Vermelho III, na alameda Santa Luzia. Hoje, ao lado da filha Janiele, de 8 anos, e a mãe Elenir, 44 anos, que sofreu três AVCs (Acidente Vascular Cerebral), exibe com orgulho, a placa inaugural do conjunto, instalada ao lado da porta de entrada de sua nova moradia, em frente a uma das praças centrais do conjunto.
Elenir fez questão de mostrar o interior de sua residência, já mobiliada. "Passei o Ano Novo aqui", conta, para em seguida falar da tranquilidade do local, enquanto observava as crianças brincando na praça. "É muito melhor. Não tem comparação. Lá no Cravo era muito sacrifício", afirmou, dizendo que não vai tirar a placa inaugural: "Vou guardar de recordação".
Rotina
As mudanças viraram rotina no conjunto Ana de Fátima Brites Moreira. A movimentação diária de caminhões é intensa. Uma equipe social da Prefeitura acompanha o reassentamento das pessoas, realizado após prévio agendamento que ocorre todos os dias, no período das 13h às 16 horas, no plantão social existente no local. As mudanças ocorrem das 16h às 18 horas. São recebidas pela equipe que faz a entrega das chaves. Até esta quarta-feira (5), 80 famílias já haviam sido reassentadas.
Uma das mais novas moradoras do conjunto, na casa 72, quadra 55, Helena Ferreira, 39 anos, deixou o cansaço de lado, para ajudar um grupo de homens a carregar os móveis para o interior da sua residência. Disse estar aliviada. "Era sofrimento demais no Cravo III. Quando chovia era uma tristeza. Foram sete anos de sofrimento. Agora, tudo vai mudar", comemorou. Ela e o marido, João de Souza Oliveira, 42 anos, são integrantes da Associação dos Catadores que trabalham com reciclagem no lixão municipal.
O casal Aparecida Monteiro Medina, 41 anos, e Marcelo Lacerda Conceição, 28 anos, também estava fazendo a mudança nesta quarta-feira. Os dois preferem nem lembrar muito o sofrimento que era morar no Cravo III. "Sonhei muito com este momento. Lá (Cravo) era muito sofrimento. Não tinha água e quando chovia era um drama, inundava tudo. Não tinha condições de viver lá", confessou, olhando para o interior da nova moradia, totalmente diferente do antigo barraco de duas peças, feito de compensado. "Só quem está ganhando uma nova casa sabe dar valor, sabe o que estou sentindo. É muito emocionante", ressaltou.
Área invadida
As três famílias deixaram para trás sete anos de incerteza e de muito sofrimento. Elas, ao lado de outras 77 já estavam no novo conjunto, onde as crianças contam com espaços para se divertir. O mesmo trajeto estava sendo feito por Fermino da Silva Vilagra, 36 anos. Ainda no Cravo III, ele retirava seus últimos pertences do barraco onde viveu um longo período. A velha casa já não existia mais. Derrubou tudo para evitar que fosse ‘invadido' por outra família, que vivesse ali, todo seu drama dos últimos anos. "Lá é vida nova. O que passei aqui não desejo para ninguém", confessou.
No Cravo III, todas as famílias que estão se mudando para o novo conjunto, estão derrubando os barracos, entregando os terrenos aos verdadeiros donos. A área, particular, foi invadida sete anos atrás, uma ação organizada pelo Movimento Nacional de Luta pela Moradia. Iracemi Pereira da Cruz, um dos integrantes, observou que todas as 171 famílias concordaram com a mudança e devolução da área. "Por isso estamos retirando tudo que é necessário, antes de derrubar o barraco", comentou.