A temporada de pesca esportiva no rio Paraguai, em pleno Pantanal Sul-mato-grossense será aberta na próxima terça-feira, dia 1º de fevereiro, na modalidade do pesque e solte. A prática é exclusiva na calha do rio Paraguai e exige regras específicas, como a necessidade da licença e equipamentos específicos, linha de mão, caniço, molinete, carretilha, anzol e iscas vivas ou artificiais.
O pesque e solte vigora na região pantaneira desde 2004 e está atraindo um grande número de adeptos a esta modalidade esportiva, movimentando o turismo em Corumbá. Está sendo alvo também de estudos científicos constantes, principalmente por parte da Embrapa Pantanal, Ibama e da Fundação de Cultura e Turismo do Pantanal da Prefeitura de Corumbá.
Uma das preocupações dos pesquisadores diz respeito aos procedimentos corretos para a prática do pesque e solte, para avaliar a efetividade desta prática de manejo para a conservação dos estoques pesqueiros. Recentemente os pesquisadores Ricardo Pinheiro Lima, biólogo do IBAMA, e Débora Karla Silvestre Marques e Roberto Aguilar Machado Santos, pesquisadores da Embrapa Pantanal, divulgaram um artigo na coluna de publicação da empresa, sobre esta prática.
Observam que muitos pescadores acreditam que praticando o pesque e solte estão conservando a natureza. Porém, fisgar o peixe e submetê-lo a uma briga longa, por exemplo, pode levá-lo a um nível muito alto de estresse e até mesmo causar alguma lesão que resultará na morte do animal. "É um grande erro pensar que o peixe é resistente a tudo, e que pode ser pescado de qualquer maneira antes de ser devolvido à água. O pesque e solte precisa ser feito seguindo algumas regras, para que o peixe, ao retornar ao seu ambiente, tenha garantida a sua sobrevivência. Afinal, se não fosse assim, o pesque e solte não teria razão de existir como prática desportiva".
Para os pesquisadores, a prática é adotada "fundamentalmente quando se quer garantir a diversão da pescaria, com vantagens econômicas e ecológicas, com a manutenção de um ambiente equilibrado. Praticando o pesque e solte da forma correta, podemos dar condições para que um mesmo peixe seja fisgado várias vezes num mesmo período e que este peixe mantenha a capacidade de fugir de predadores, se alimentar, crescer e se reproduzir, o que não ocorreria caso ele fosse abatido, ou devolvido sem condições de sobrevivência ao rio", comentam.
E, para que tudo isso ocorra de maneira correta, existem procedimentos que precisam ser cumpridos à risca. Os anzóis por exemplo, devem ser apropriados para o pesque e solte, e os indicados pelos pesquisadores são aqueles que não têm farpas, já vendidos em lojas do ramo. Mas, os anzóis comuns podem ter suas farpas retiradas ou amassadas. "Também só retire o anzol que estiver preso na boca do peixe ou nas regiões externas. Nunca tente recuperar o anzol que o peixe engoliu", ressaltam.
No artigo os pesquisadores lembram um dos grandes momentos da pescaria, a briga com o peixe. "Quanto mais uma determinada espécie de peixe resiste, mais ela é apreciada e alvo da pesca esportiva. Entretanto, o ideal é diminuir o tempo de briga com o peixe, pois a luta do peixe para escapar resulta em estresse ou alguma lesão séria, que pode comprometer a sua sobrevivência. O peixe estressado é mais suscetível a predação e a doenças. O ideal é não retirar o peixe da água. Mas, como isto é necessário para a retirada do anzol, por exemplo, quanto menor for o tempo de permanência do peixe fora da água, maior será a garantia de sua sobrevivência", esclarecem.
Outra orientação é para que o pescador evite colocar o peixe na posição vertical, para não causar lesões na coluna ou nos órgãos internos. Segundo eles, a posição correta é a horizontal. "Deve-se evitar o contato direto com a pele do peixe, revestida por muco, que entre as suas muitas funções, tem ação contra fungos e bactérias. A retirada deste muco representa uma porta de entrada para doenças. As brânquias são os órgãos responsáveis pela respiração dos peixes. Esta região é muito delicada e jamais deve ser tocada, pois o contato das mãos pode causar lesões e levar à contaminação por fungos e bactérias, resultando em diminuição da eficiência respiratória e doenças".
A soltura do peixe deve ser feita lentamente. O peixe não deve ser arremessado na água. Isto pode causar lesões no corpo do peixe e faz com que o animal fique cansado e desorientado e se torne uma presa fácil para outras espécies predadoras. Coloque o peixe na água, apoiando-o com as mãos por baixo do corpo para que se recupere lentamente e só saia quando estiver em boas condições e por conta própria. Evite o movimento de vai-e-vem dentro da água antes de soltar o peixe. Embora alguns pescadores acreditem que este movimento reanima peixe, na verdade ele pode comprometer a respiração e o equilíbrio do peixe e, em vez de ajudar, vai atrapalhar a sua sobrevivência.
Finalizam afirmando que, "seguindo estes procedimentos, as chances de sobrevivência dos peixes submetidos ao pesque e solte aumentam muito e esta prática torna-se efetiva na conservação e uso sustentável dos recursos pesqueiros".