Morador do Passo do Lontra – região situada a 120 quilômetros da área urbana de Corumbá – há mais de 35 anos, o pescador Antônio dos Santos Neto, 64 anos, surpreendeu-se com o volume de água que atingiu a comunidade neste ano. "De 1974, quando cheguei aqui, até 1995 ou 1996, a cheia costumava ser quase igual a essa. Depois desse tempo ela diminuiu bastante. Só que neste ano ela veio com tudo", narrou o ribeirinho. Além de receber as águas do Rio Miranda, a localidade também foi castigada pelas fortes chuvas desse verão.
A MS-184, mais conhecida como Estrada Parque Pantanal, única ligação terrestre até o Passo do Lontra, foi interditada em vários pontos. A situação ilhou os moradores e impediu que os turistas, principal fonte de renda dos ribeirinhos, chegassem aos pesqueiros ali instalados. "Esses meses foram difíceis demais. A situação ficou bastante difícil", relatou Antônio. Por conta disso, a Prefeitura de Corumbá, por meio da Secretaria Municipal de Assistência Social e Cidadania, levou nesta quarta-feira (06) uma série de serviços sociais e médicos até a região.
Além da equipe do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS Itinerante), o Município providenciou atendimento odontológico às 27 famílias cadastradas no local. Todas receberam cestas básicas, colchas, vacinas pendentes e remédios que necessitavam. Entre estas, 20 pessoas também foram contempladas com colchões de solteiro. "Este sacolão vai ‘safar' um bom tempo pra gente aqui", concluiu o pescador.
O piloteiro Mario Antonio Caetano, 30 anos, concordou com o vizinho. "Nestes meses, não teve nada por aqui. Só um ou outro frete para as fazendas, mas trabalhos pequenos. Desde que abriu a pesca, só consegui trabalho com pescaria umas duas vezes. Por isso essa ajuda é importante demais", disse Mario, que vive no Passo do Lontra há 22 anos. Hoje ele mora na comunidade com a mulher e os dois filhos. "Esse colchão vai ficar com minha filha mais velha, que estava sem", completou.
Nascido e criado no Passo do Lontra, Tone Villar Magalhães Pereira, 21 anos, aproveitou a oportunidade para acabar com uma dor de dente que o incomodava já há algum tempo. "Fui muito bem atendido, melhor ainda porque a dor parou", afirmou, justificando-se em seguida: "Para ir até a cidade é muito longe. E também acaba ficando caro. Daí a gente espera essas oportunidades que chegam por aqui".
Segundo os moradores, a água baixou cerca de 30 centímetros nos últimos dias. Muitos haviam levantado o piso das residências, com madeiras e tijolos, para evitar que os móveis fossem perdidos. Neste início de abril, quase todos retornaram seus pertences aos locais de origem. Só que a cheia ainda é grande. É possível ir de barco do Passo do Lontra até o Buraco das Piranhas, na BR-262, onde existe um posto da Polícia Militar Ambiental (PMA). Esta é a única opção dos moradores, já que uma das pontes caiu por causa da força da correnteza.