Entidades ligadas ao movimento negro de Corumbá promovem nesta sexta-feira (27) um ato religioso afro em homenagem ao companheiro de lutas Abdias do Nascimento, grande ícone do movimento pela igualdade racial no Brasil, falecido no último dia 24 de maio, no Rio de Janeiro. O ato acontece às 18 horas na academia de capoeira Cordão de Ouro, situada no bairro Universitário, conjunto Belmiro Maciel de Barros.
Estarão presentes as seguintes entidades: Instituto Made Kore Odara do Pantanal; Comunidade Vó Veia, Associação Comunitária de Cultura e Esporte de Corumbá; ACOREMA (Associação das Comunidades Religiosas de Matriz Africa de Corumbá e Região do Pantanal); Comunidade Quilombola Ribeirinha; Família Osório; Grupo de Capoeira Cordão de Ouro, Grupo de Capoeira Libertos e outras entidades ligadas ao movimento negro.
Abdias do Nascimento nasceu em Franca, interior de São Paulo, no dia 14 de março de 1914. Segundo filho de Dona Josina, a doceira da cidade, e Seu Bem-Bem, músico e sapateiro, ele se diplomou em contabilidade pelo Atheneu Francano em 1929. Com 15 anos, alistou-se no Exército e mudou-se para a Capital. Na década de 30, engajou-se na Frente Negra Brasileira e lutou contra a segregação racial em estabelecimentos comerciais da cidade.
Prosseguiu na luta contra o racismo organizando o Congresso Afro-Campineiro em 1938. Fundou em 1944 o Teatro Experimental do Negro, entidade que patrocina a Convenção Nacional do Negro em 1945-46. A Convenção propôs à Assembléia Nacional Constituinte de 1946 a inclusão de políticas públicas para a população afro-descendente e um dispositivo constitucional definindo a discriminação racial como crime de lesa-pátria.
Abdias organizou o 1º Congresso do Negro Brasileiro em 1950. Militante do antigo PTB, após o golpe de 1964 participou, ainda no exílio, da formação do PDT. De volta ao Brasil, liderou em 1981 a criação da Secretaria do Movimento Negro do PDT. Como primeiro deputado federal afro-brasileiro a dedicar seu mandato à luta contra o racismo (1983-87), apresentou projetos de lei definindo o racismo como crime e criando mecanismos de ação compensatória para construir a verdadeira igualdade para os negros na sociedade brasileira.
Como senador da República (1991, 1996-99), continuou nesta linha de atuação. Foi nomeado pelo então governador Leonel Brizola como Secretário de Defesa e Promoção das Populações Afro-Brasileiras do Estado do Rio de Janeiro (1991-94). Mais tarde, é nomeado primeiro titular da Secretaria Estadual de Cidadania e Direitos Humanos (1999-2000).
Em 2006, em São Paulo, criou o dia 20 de novembro como o Dia Oficial da Consciência Negra. Abdias do Nascimento recebeu o título de doutor honoris causa da Universidade de Brasília. Foi também professor benemérito da Universidade do Estado de Nova Iorque e escritor. Entre suas obras se destacam "Sortilégio", "Dramas Para Negros e Prólogo Para Brancos", "O Negro Revoltado", e outros.