Povo das Águas atendeu 153 famílias na região do São Lourenço

Os ribeirinhos que habitam a parte alta do Pantanal, na divisa entre os estados de Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, convivem harmoniosamente com as mudanças dos rios Paraguai e São Lourenço, a presença constante de animais silvestres e com a distância dos centros urbanos. Algumas comunidades ficam a 250 quilômetros de Corumbá, o que dificulta, e muito, o acesso dessas pessoas aos serviços básicos oferecidos no município. Neste ano, a cheia que atinge toda a planície pantaneira em grande volume tem dificultado ainda mais a sobrevivência dessa gente simples e humilde.

"A água acabou com todas as minhas plantas. Eu tinha bastante mandioca, banana, só que agora está tudo inundado. Mas fazer o que? Isso é obra de Deus. Tem que aguentar o que Ele quer", comentou Bernardo Tássio, de 81 anos, pantaneiro legítimo, nascido e criado na região da Barra do São Lourenço. Casado com Dona Irene 'há uma vida', como ele próprio definiu, Seu Bernardo teve 15 filhos. Hoje, o aposentado mora com quatro deles e uma neta, de 13 anos, no mesmo local onde ele nasceu e cresceu.

"Ali morreu meu pai, duas irmãs e um sobrinho. Da minha família, só resta eu por aqui", contou. Ele completou 81 anos no último dia 20 de maio, dois dias antes da chegada do barco que levava o Programa Social Povo das Águas, uma ação da Prefeitura de Corumbá que garante atendimento médico, odontológico e social aos moradores de áreas distantes da cidade. Medida por uma enfermeira da Secretaria Municipal de Saúde, os invejáveis 12 por 8 indicados em sua pressão arterial demonstraram a boa saúde exibida pelo ribeirinho.

Aos médicos do 6º Distrito Naval, que participam do programa social, Seu Bernardo queixou-se apenas de umas dores no joelho que teimam em aparecer depois de ele passar um dia inteiro cuidando da roça ou pescando. Depois de receber alguns medicamentos básicos, ele passou aos cuidados das vacinadoras, sendo imunizado contra o vírus da gripe. Resolvida a parte médica, ele foi cuidar da alimentação dele e da família. Da Fundação de Meio Ambiente e Desenvolvimento Agrário, ganhou uma cesta de legumes, composta por abóbora, mandioca, batata doce, laranja e tangerina, alimentos produzidos nos assentamentos do município e adquiridos por meio do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), na modalidade Compra Direta Local com Doação Simultânea.

"Eu estava já pensando em ir para Corumbá para comprar mandioca. Minha farinha já está para acabar", confidenciou o morador do São Lourenço. Para garantir ainda mais uma dieta farta e saudável ao pantaneiro, técnicos da Secretaria de Assistência Social entregaram-lhe uma cesta básica com alimentos e produtos de primeira necessidade. Com a chalana de madeira cheia de casacos, mantas e cobertores, todos os materiais doados à Prefeitura pela Receita Federal, Seu Bernardo aproveitou a visita para contar alguns causos à equipe da Prefeitura.

"Uma noite dessas chegou uma onça bem perto de casa. Do meu quarto tem uma janelinha bem pequena, telada, de onde dava para ver que ela estava sentada ali pertinho, olhando pra dentro. De manhã, deu para ver a marca dos pés e o sinal do rabo dela, que ficava abanando", narrou Seu Bernardo. Segundo ele, nesta época de cheia, é comum o aparecimento de onças e cobras por ali. Ele disse ainda que tem uma casa em Corumbá, onde atualmente moram alguns de seus filhos.

Algumas vezes no ano ele vem para a cidade, mas esta é uma viagem que ele não aprecia. "Quando a gente está lá, parece que não está nada bem. Gosto daqui porque passei a vida inteira nesta região, e levo uma vida muito boa aqui, até porque se a gente a leva a soco, acaba apanhando cedo", profetizou o pantaneiro.

Ação

A oitava edição do Programa Social Povo das Águas foi realizada entre os dias 18 e 21 deste mês. Durante este período, 20 profissionais atenderam os moradores da Barra do São Lourenço, Porto São Pedro, São Francisco, Bonfim, Mato Grande, Porto Chané, Castelo, São Domingos Ramos e Paraguai Mirim. A ação é coordenada pela Secretaria Especial de Integração das Políticas Sociais e envolve as secretarias municipais de Saúde, Educação, Assistência Social e Cidadania, Defesa Civil e a Fundação de Meio Ambiente e Desenvolvimento Agrário. Nesta edição, foram assistidas 153 famílias, sendo que todas são moradoras da parte alta do Rio Paraguai.

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