Levantamento realizado pela Prefeitura de Corumbá possibilitou o cadastramento de 45 pessoas consideradas ‘moradores de rua', que serão alvos, a partir de agora, de um programa voltado para reconstrução dos vínculos interpessoais e familiares, favorecendo a reinserção social e comunitária. O trabalho foi realizado pela Secretaria Municipal de Assistência Social e Cidadania, por meio do Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS), Albergue da Fraternidade José Lins e estagiários dos cursos de Serviço Social e Pedagogia.
Segundo o secretário de Assistência Social Haroldo Ribeiro Cavassa, o trabalho vai auxiliar a Prefeitura na formulação de políticas específicas para as pessoas que vivem em situação de rua, além de promover o acesso dos mesmos aos programas sociais. A iniciativa visa ainda incluir estas pessoas no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal.
O projeto foi elaborado pela Gerência de Programas e Projetos Sociais da secretaria. A professora Adelma Galeano, gerente da área e coordenadora do trabalho, informou que foi idealizado para atender um "segmento formado por uma população heterogenia, com diferente história de vida, tendo em comum apenas a extrema e absoluta pobreza. São pessoas fragilizadas e marginalizadas, que fazem das vias públicas o seu referencial de moradia. A maioria é formada por imigrantes que, muitas vezes, procuram sobreviver por meio de atividades informais".
O relatório com base na tabulação dos dados feita pelo CREAS, já foi entregue à Secretaria de Assistência Social e Cidadania. O levantamento foi iniciado em março com 53 abordagens em pontos estratégicos da cidade. Desse total 45 pessoas responderam o questionário e foram cadastradas pelo CREAS. Entre os cadastrados, 71% são do sexo masculino; 53% disseram que moram em Corumbá há mais de 10 anos; 92% afirmaram que vivem sozinhos na rua; 88% não possuem deficiência, e 72% afirmaram que dormem somente na rua. A idade entre as pessoas abordadas varia entre 21 e 60 anos. Desse total, 25% estão na faixa de 21 a 30 anos.
Entre os abordados 96% são brasileiros, dos quais, 30% corumbaenses. Em relação ao estado civil 78% são solteiros e 89% não possuem nenhum tipo de documento. Em relação ao grau de instrução 4% são analfabetos, 32% não concluíram a 4ª série (atual 5º ano), 11% concluíram 4ª série, 7% concluíram o ensino fundamental, 4% tem o médio completo e 16% não responderam.
Entre os 45 moradores em situação de rua, 17% estão nesta condição por um período superior a cinco anos e menos de 10, e 16% há mais de 10 anos. O levantamento constatou ainda que 27% estão nesta situação devido ao alcoolismo ou droga; 9% ao alcoolismo e problemas com a família; 16% problemas com a família, enquanto 20% não revelaram os motivos.
Outra constatação é que 37% não tem nenhum contato com a família, enquanto 20% mantêm contato esporádico. Em relação à atividade comunitária, 42% não lembram de terem participado de alguma ação ou evento, e 36% não souberam responder. Já 41% dos entrevistados afirmaram que não tiveram nenhum atendimento nos últimos seis meses; 25% foram atendidos pelo CREAS, e 13% foram atendidos pelo Albergue da Fraternidade José Lins.
O levantamento mostrou ainda que 51% já trabalharam com carteira assinada, enquanto 47% responderam que nunca trabalharam com carteira assinada. Do total, 4% sobrevivem como pedintes; 7% como guardador e pedinte; 13% por meio de serviços gerais e catador; 21% como catador de material reciclável, e 23% como guardador de carro (flanelinha) e catador de material reciclável.
Oito pessoas abordadas negaram responder o questionário, sendo cinco homens e 03 três mulheres. Após a conclusão dessa etapa, o CREAS constatou que 61% estão morando na rua não apenas por questão de droga ou alcoolismo, mas principalmente por questões familiares, com rompimento de vínculos, tornando-os fragilizados e marginalizados, tentando sobreviver apesar da extrema e absoluta pobreza.