Em 3 de abril de 2002, estive em Corumbá pela primeira vez. Era a minha primeira viagem de reportagem para o jornal Folha Interativa, publicação voltada aos servidores do Governo do Estado, por meio da então Secretaria Estadual de Gestão e Gastos. O objetivo era retratar o trabalho dos servidores públicos nas cidades do interior. Entre diversos personagens entrevistados, uma chamou-me muito a atenção pelo conhecimento e propriedade com que falava da cultura corumbaense e pantaneira, e pelo número de ações que empreendia e coordenada à frente do Instituto Luiz de Albuquerque (ILA), na época uma instituição estadual.
Tratava-se de Heloísa Helena da Costa Urt, a Helô, que naquele momento considerei um exemplo de luta e comprometimento com a causa cultural. Hoje coordenando a Assessoria de Comunicação Institucional da Prefeitura de Corumbá e há mais de dois anos em constante contato com esta mulher de incrível força e batalha para engrandecer a cultura corumbaense e sul-mato-grossense, e diante desta perda inconsolável e inestimável, tomo a liberdade de resgatar e publicar a entrevista, como uma singela homenagem a esta pessoa que, entre outras coisas, representava a voz, o rosto e as mãos da efervescência cultural que hoje é Corumbá:
No centro da cidade mais antiga de Mato Grosso do Sul, a servidora Heloisa Helena Urt, 52 anos (2002), apresenta o ILA (Instituto Luiz de Albuquerque). O prédio foi construído em 1912, com arquitetura neoclássica, e é uma das atrações turísticas da cidade. Heloisa é gestora do Instituto, que conta com apenas uma funcionária para cuidar da Biblioteca Gabriel Vandoni de Barros e do Museu do Pantanal, ambos instalados na casa. O ILA também abriga um grupo de teatro e aulas de violão, teclado, pintura e desenho. "Nós oferecemos os espaços para os artistas locais, e realizamos exposições e eventos abertos à comunidade", relata a servidora.
Ela conta que o prédio foi construído para receber o Grupo Escolar Luiz de Albuquerque, abrigando também a primeira faculdade de Corumbá, com o curso de Pedagogia, e a Escola Técnica de Comércio. Em 1972, a escola foi transformada em instituto, recebendo um acervo de livros e peças de museu, doados pelo fazendeiro Gabriel Vandoni de Barros. A biblioteca é atualmente uma das mais importantes do Estado, graças à quantidade de documentos e livros sobre a história do Estado, principalmente da região pantaneira. Em 1994, o Instituto foi restaurado, mas ainda não foi tombado, como patrimônio histórico.
Heloisa também é gestora da Casa do Artesão e diz enfrentar as mesmas dificuldades por falta de pessoal. "São apenas dois funcionários para carpir, vender, atender turistas e fazer balancetes", comenta. Mesmo assim, ela conta que os projetos culturais são frequentes nas duas instituições, com esforço e criatividade. Um exemplo é o projeto Viola de Cocho, realizado na Casa do Artesão em parceria com o ILA, que ensina desde a confecção da viola até a execução do cururu e do siriri. "São algumas das manifestações culturais mais antigas do Pantanal, que não havia como passar para as novas gerações", completa a servidora.