O prefeito Ruiter Cunha de Oliveira (PT) está buscando o apoio do governador de Mato Grosso, Silval Barbosa (PMDB), para viabilizar a conclusão da Rodovia Transpantaneira, que ligará Corumbá (MS) a Poconé (MT), cortando toda a planície pantaneira. Na última segunda-feira (19), os dois trataram do assunto em Cuiabá, durante a solenidade de outorga da Medalha Mérito Tamandaré ao governador mato-grossense, conduzida pelo contra-almirante Márcio Ferreira de Melo, comandante do 6º Distrito Naval.
"O governador sinalizou empenho na questão, disse que é preciso marcar novas reuniões para acelerar as discussões e garantiu que fará todo o esforço possível para que o projeto saia do papel", afirmou o prefeito corumbaense. A continuação da Transpantaneira – que começou a ser construída em 1972, sendo suspensa em 1977 com a divisão do então Mato Grosso Integrado – voltou a ser viável, principalmente, pela realização da Copa de Mundo de 2014 no Brasil. Cuiabá é uma das cidades sedes do maior evento esportivo do futebol mundial.
"Mas para que o projeto se desenrole, também precisamos do apoio maciço das autoridades sul-mato-grossenses, sobretudo do governo estadual e da bancada federal", continuou Ruiter, reforçando que o tema deve ser amplamente debatido durante o Festival América do Sul, que acontece de 26 a 30 de abril em Corumbá. "O América do Sul é o ambiente ideal para se falar sobre integração nacional e internacional. Aliás, esse sempre foi o grande objetivo do Festival desde a sua concepção", completou o chefe do Executivo corumbaense.
Transpantaneira
As discussões sobre a continuação da Rodovia Transpantaneira foram retomadas em setembro do ano passado, quando Ruiter recebeu a visita do prefeito de Poconé, Tico Arlindo (DEM). Acompanhado por uma comitiva de vereadores, Arlindo defendeu a federalização da estrada, o que garantiria os recursos federais necessários para a construção do trecho que falta até Corumbá, estimado em mais de 250 quilômetros. No estado vizinho, a rodovia já existe até as margens do Rio Cuiabá e é bem semelhante à Estrada Parque sul-mato-grossense.
Ainda em setembro de 2011, cinco jipeiros saíram de Poconé e percorreram o trecho por onde passaria a Transpantaneira. Sem informação exata do trajeto, cortando dezenas de fazendas, passando por trilhas, alagados e locais quase intransitáveis, os aventureiros demoraram quase três dias para andar 600 quilômetros. Com a construção da estrada, a viagem pode ser encurtada em pelo menos 150 quilômetros. "O projeto e extremamente viável", garantiu o então diretor de Turismo e Meio Ambiente de Poconé, Élson Santos.
Além de fomentar o turismo na maior planície alagada do mundo, a Transpantaneira também agregaria um impacto positivo na econômica das duas cidades. "Temos muitos criadores de gado no Paiaguás e Nhecolândia. Com a estrada, a logística para a carne chegar até a cidade seria bem mais barata, o que com certeza refletiria no preço final pago pelo consumidor", analisou o superintendente de Produção Agropecuária de Corumbá, Pedro Paulo Marinho de Barros. Atualmente, o gado do alto Pantanal viaja até três dias de barco para chegar a Corumbá.
Além de baratear o frete, a estrada também ofereceria uma nova possibilidade de mercado para os produtores do Pantanal. Dos cinco carros que iniciaram a Expedição Integração, três completaram o percurso. Entre os que venceram a viagem, estava o professor da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), Henrique Augusto Vieira. "A conclusão da Transpantaneira é uma reivindicação de vários anos. De repente, depois de tanta espera, ela pode estar bem próxima. E isso não é nenhuma dificuldade. Pelo contrário, é mais fácil do que se pensava", afirmou.
História
A Transpantaneira começou a ser construída em 1972, por ordem do governo militar. Quatro anos mais tarde, as obras finalmente chegaram até o rio Cuiabá, no Porto Jofre, distrito de Poconé. "O objetivo era que a estrada seguisse até Corumbá. Mas como as discussões sobre a divisão do Estado começaram a ficar fortes e o governo optou por interromper a construção", explicou Élson, que também é historiador. A divisão do então Mato Grosso Integrado ocorreu em 1977. "Corumbá e Poconé tem laços históricos muito fortes. Muitas famílias que desbravaram o Pantanal se espalharam pelas duas cidades, criando assim um relacionamento até de interdependência entre as cidades", continuou Santos.
O trecho mato-grossense da Transpantaneira é muito semelhante à Estrada Parque corumbaense. Nos 146 quilômetros de aterro que cortam Poconé, existem 127 pontes de madeira e dezenas de fazendas, hotéis, pousadas e pesqueiros. O projeto original foi feito pelo engenheiro Gabriel Muller. Para chegar até Corumbá, a rodovia cortaria a região do Paiaguás e da Nhecolândia, transpondo o rio Taquari. Na opinião de técnicos daquele município, o trajeto mais apropriado hoje, depois do assoreamento que provocou a mudança do leito do Taquari, seria margeando o Rio Piquiri, cuja região é menos afetada pela cheias.