Às vésperas de completar dois anos à frente da Santa Casa de Corumbá, e diante da impossibilidade de atender reivindicação dos profissionais de medicina que atendem no local, o diretor de relacionamento da instituição, Victor Salomão Paiva, está sugerindo aos integrantes da Junta Administrativa e também ao prefeito Ruiter Cunha de Oliveira (PT), a devolução do hospital à Associação Beneficente Corumbaense (ABC) em maio, quando completam os dois anos previstos pelo Termo de Acordo Judicial assinado entre os prefeitos corumbaense e de Ladário, José Antônio de Assad e Faria (PT), e o então promotor de Justiça da Cidadania, Ricardo de Melo Alves, homologado pelo juiz Eduardo Eugênio Siravegna Júnior, da Vara de Fazenda Pública e de Registros da Comarca de Corumbá.
"O TAC foi assinado em 6 de maio de 2010. De lá para cá, investiu-se muito no hospital, melhorando sensivelmente a qualidade de atendimento. Na época, por exemplo, criamos os plantões médicos; colocamos a folha de pagamento em dia, estava com três meses em atraso, isto sem contar com encargos trabalhistas atrasados, falta de produtos essenciais, bem como péssimas condições de atendimento. Avançamos muito nestes quase dois anos. No entanto, hoje, não temos condições de atender reivindicação dos profissionais de medicina que desejam aumento dos valores pagos pelo SUS por cirurgias eletivas", informou Victor Paiva.
A observação se deve ao fato de que, desde 1º de abril, 100% dos médicos anestesistas e parte dos demais médicos que atendem no hospital, iniciaram um movimento, paralisando o atendimento eletivo de Pacientes do Sistema Único de Saúde. "Eles desejam aumento dos valores pagos pelo SUS. O movimento começou com os anestesistas e se estendeu a parte dos outros médicos, mesmo porque, não há como realizar cirurgias sem o anestesista", comentou. Na terça-feira (03) os médicos se reuniram, mas mantiveram a paralisação dos serviços.
Paiva ressaltou que os profissionais desejam receber por produção, tendo como base a tabela de honorários da CBHPM (Classificação Brasileira Hierarquizada de Procedimentos Médicos), que remunera os convênios fora SUS. "Nós não temos condições de pagar o valor desejado. Vale lembrar que, neste período, não tivemos aumento das nossas receitas e, portanto, não temos como pagar o que eles desejam. Uma das saídas seria reduzir o quadro de funcionários e também dos plantonistas. A nossa sugestão ao prefeito e também aos integrantes da Junta Administrativa é não renovar o TAC e devolver o hospital à Associação Beneficente Corumbaense. Uma vez que os médicos entendem que a situação não está boa, que seja devolvido agora em maio, quando completam os dois anos estabelecidos pelo termo", sugeriu.
Prejuízos
O diretor ressalta que a paralisação trará prejuízos financeiros imediatos com queda de receita. "Não iremos atingir as metas contratualizadas e não teremos dinheiro para pagar os compromissos, inclusive os plantões dos médicos", destacou. Conforme Paiva, vários prontuários estão sendo perdidos e isso além de prejuízo financeiro do profissional, gera prejuízos para a própria Santa Casa, que não terá condições de cumprir as obrigações com fornecedores e demais trabalhadores.
"Tivemos avanços no período como reformas no prédio, compra de equipamentos, manutenções. Procuramos não deixar faltar o essencial e conseguimos isto mesmo sem qualquer reajuste na receita de produção. Recebemos nosso dinheiro com base na contratualização. Herdamos dívidas e isto acaba complicando o cumprimento das metas", afirma.
Hoje, a receita da contratualização é de R$ 983.823,31. De imediato, o Hospital perde R$ 107.226,29, referente a empréstimo feito em 2009. Sobram R$ 876.597,02 para pagar os médicos (cerca de R$ 398.000,00), e funcionários R$ 495.000,00. "Ainda temos que custear todos os demais gastos com materiais e medicamentos, limpeza, manutenção e outras", destaca. Segundo ele, além do atendimento custeado pelo SUS, os profissionais de medicina, durante o horário de plantão, atendem em os demais convênios e particulares. "O que recebem do SUS é um incremento de suas receitas", complementa.
Hoje, a Santa Casa de Corumbá tem a seguinte despensa mensal com os profissionais de medicina, sem a produtividade: anestesista, R$ 24.800,00; cirurgião, R$ 24.800,00; clínica médica, R$ 18.600,00; intensivista CTI), R$ 55.800,00; pediatra, R$ 37.200,00; ginecologista/obstetra/maternidade, R$ 55.800,00; ultrasonografista, R$ 9.300,00; ortopedia, R$ 30.000,00; endocrinologia, R$ 1.500,00; radiologia, R$ 2.500,00, e endoscopia, R$ 3.000,00.