Com apoio da Marinha, recém-nascido é socorrido pelo Povo das Águas

Os gêmeos Rodrigo e Ronaldo nasceram no último dia 05 de abril na Maternidade de Corumbá. Três dias depois, a mãe, Rosilene Moura de Arruda, já estava com eles em um pequeno sitio na região do Paraguai Mirim, parte alta do Pantanal corumbaense. Quando a equipe do Programa Social Povo das Águas aportou na localidade encontrou Ronaldo, então com 20 dias de vida, bastante desidratado e bem abaixo do peso ideal.

 

Após passar por uma avaliação médica, ele foi medicado e ficou em observação durante toda a noite. Rosilene foi alojada em um dos quartos da embarcação e, enquanto se dedicava ao filho debilitado, contou com a ajuda de toda a equipe para cuidar de Rodrigo, que estava saudável. Quando o barco atracou em frente à escola Paraguai Mirim, o corpo clínico conseguiu contato com a Secretaria Municipal de Saúde.

 

Na manhã do dia seguinte, o helicóptero do 6º Distrito Naval pousou em um campo bem próximo a unidade escolar. Rosilene e os gêmeos foram trazidos para a cidade, onde foram novamente examinados. O filho mais velho da ribeirinha, de três anos, ficou aos cuidados de uma irmã. Os meninos foram medicados, realizaram o teste do pezinho e estão, junto com a genitora, na casa de parentes no bairro Cristo Redentor.

 

Os irmãos ganharam kits-bebê, mosquiteiros, redes, brinquedos e outros produtos de primeira necessidade. “Quero ver se nessa semana ainda volto pra casa”, disse Rosilene, descendente de uma família de oito irmãos e com vários casos de nascimento de gêmeos. “Não tem lugar no mundo como a casa da gente”, continuou, ignorando a falta de energia elétrica, água encanada e os mosquitos do meio do Pantanal.

 

O apego ao lar é uma característica comum entre os ribeirinhos. “Não tenho amor por nenhum outro lugar”, descreveu Venância de Souza Espírito Santo, 69 anos. Há mais de meio século ela e o filho Júlio Marques da Silva, 55, vivem em um pequeno porto na região da Barra do São Lourenço. O patriarca da família faleceu no ano passado, mas nem isso fez com que eles pensassem em se mudar para a cidade.

 

“Quando a gente está em Corumbá fica desinquieto, louco para vir embora”, relatou Dona Venância. Julio, que se mudou para o porto ainda criança, também não cogita deixar a simples residência onde sempre morou. “Eu vim para cá muito pequeno e não quero ir embora nunca”. Outro exemplo é Vicente Manoel, 66 anos, filho da indígena Júlia Caetano, falecida em abril deste ano aos 111 anos.

 

“De jeito nenhum quero sair daqui”, reforçou o ribeirinho, que já foi convidado por várias vezes para se mudar para aldeia Uberaba, onde vivem outros descendentes dos guatós. O corpo da mãe ele enterrou bem perto da casa, onde agora vive apenas com a companhia dos muitos cachorros e gatos que habitam o Porto Guató, localizado na entrada do Parque Nacional do Pantanal Matogrossense.

 

Assistir essas pessoas é o principal foco do Programa Social Povo das Águas, mantido pela Prefeitura de Corumbá desde 2010. A cada três meses, equipes do Município levam serviços médicos, odontológicos, sociais e educacionais aos moradores das áreas de difícil acesso da Planície Pantaneira. O trabalho é coordenado pela Secretaria Especial de Integração das Políticas Sociais.

 

Em sua 17ª edição, a ação social também contou com servidores das secretarias de Saúde, Assistência e Cidadania, Educação, Defesa Civil e da Fundação de Meio Ambiente e Desenvolvimento Agrário. Em maio, o programa fecha a primeira etapa de viagens na região do Baixo Pantanal, quando serão atendidos os moradores do Formigueiro, Morrinho, Porto da Manga, Porto Esperança e Forte Coimbra.

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