Na Ilha da Sorte, no Alto Pantanal, a mais de 100 quilômetros da sede da cidade de Corumbá, vive a família do sêo Firmino e da dona Dilma. Ali, às margens do rio Paraguai-Mirim, o acesso a qualquer tipo de serviço é extremamente difícil e só se chega de voadeira ou rabetinha.
Mesmo assim, a casa do sêo Firmino periodicamente recebe a visita dos integrantes do programa social Povo das Águas. Cesta básica, atendimento médico, odontológico, psicológico, vacinação contra sarampo, rubéola e caxumba, entre outros serviços são oferecidos pela equipe do programa da prefeitura de Corumbá.
No entanto, um dos serviços mais aguardados é a vacinação antirrábica em Bob, Bethoven, Chulinho, Princesa, Pintada, Vermelhinha e Nacrei, cães leais e amigos valentes do sêo Firmino e da dona Dilma. “Tem muita sucuri aqui, jacaré, até onça pintada. A cachorrada faz um escarcéu quando avista perigo, é importante pra gente”, diz o sêo Firmino. “Quando chega alguém de barco por aqui com quem eu não converso, o Chulinho (pitbull) percebe e fica ao meu lado, de guarda. E ali fica até eu cumprimentar a pessoa”, acrescenta.
Somente na casa do simpático casal ribeirinho, foram sete cães vacinados contra a raiva, vírus letal que, uma vez contraído, pode matar em menos de dez dias. E, pior, ser transmitido ao ser humano por mordedura, arranhadura ou lambedura, mesmo não existindo necessariamente agressão.
Durante a última expedição do Povo das Águas no Alto Pantanal, foram 108 cães e gatos vacinados pelo Centro de Controle de Zoonoses (CCZ). Aliás, graças ao árduo trabalho dos 180 agentes do CCZ, a raiva foi praticamente erradicada de Corumbá, havendo somente um caso em 2012, e nenhuma ocorrência em 2010 e 2011.
Missão nada simples em uma cidade com 22 mil cães e cerca de 8 mil gatos, em ações de vacinação de casa em casa e com uma considerável população canina e felina não-domiciliada (animais errantes).
O modelo de trabalho dessa instituição, que neste ano completa 28 anos, é tão bem sucedido que já começa a ser exportado. A prefeitura de Puerto Suárez solicitou à prefeitura de Corumbá e à Secretaria de Saúde do município um auxílio para a implantação de um núcleo de combate a doenças endêmicas na região boliviana.
Além do excelente trabalho realizado no combate à dengue, endemia que, no entanto, ainda preocupa e mantém as autoridades em alerta, o CCZ também realiza ações intensas de combate à leishmaniose canina e de castração de animais. A Organização Mundial de Saúde recomenda que uma família tenha, no máximo, dois animais. Em Corumbá, a média é maior do que esta.