Prefeito defende ação intersetorial para ajudar população em situação de rua

“A rua concreta, discreta, nos mostra a frieza da sociedade e a tristeza de um povo esquecido”, já dizia Mariana Chammas em seu poema “A Rua”. Esquecido e marginalizado, como o motorista e operador de máquinas, Fábio Corrêa Gama, 41, que há quatro meses veio a Corumbá com a promessa de um emprego e tudo o que conseguiu foi um banco na Praça da República para dormir. E muita humilhação.

 

“Nesta semana fazia uma noite nublada aqui em Corumbá, de chuva e muito frio. Procurei um lugar seco e menos gelado para dormir e achei a varanda de uma casa abandonada. Quando acordei, ainda no chão, um segurança armado nem deixou eu me explicar. Com uma mangueira dobrada na mão, me xingou, me encheu de borrachada pelo corpo e me expulsou dali”, lembra ele, que alguns dias antes havia presenciado duas mulheres que dormiam em outra praça serem espancadas quase até a morte por moças que saiam de um baile funk. “Eram umas 50 meninas, nunca havia visto gangue de mulheres! Pegaram as duas mulheres e bateram até quase matar, só porque moravam na rua! Se a Guarda Municipal não intervisse, tinham morrido”, acrescenta.

 

Situações como essas incomodam você? Se sua resposta é ‘sim’, é sinal de que nem tudo está perdido. Afinal, enquanto o ser humano for capaz de ficar indignado com alguma situação desumana ou degradante que assola o seu semelhante, é porque ainda há esperança.

 

O que dizer, então, quando esses seres humanos se reúnem para debater diretrizes e rumos que possibilitem a reintegração social e familiar dessas pessoas em situação de rua, o acesso a todos aos direitos garantidos aos cidadãos brasileiros e oportunidades de desenvolvimento social?

 

Com esse objetivo, o prefeito Paulo Duarte abriu nesta sexta-feira, 27, os trabalhos do Colóquio “População em Situação de Rua: Estratégias e Desafios para uma Atuação Intersetorial”. Realizado no Centro de Convenções do Pantanal Miguel Gómez, o evento se encerra nesta sexta-feira, 28, e tem como principal desafio discutir políticas públicas que envolvam diversos segmentos como assistência social, saúde, educação, segurança pública e demais atores responsáveis pelo atendimento a esta demanda para que sejam implementadas ações e serviços adequados às necessidades e especificidades da população em situação de rua.

 

“Não adianta só o Poder Público, em suas esferas municipal, estadual e federal, se envolver. Tem de haver a participação também da sociedade civil, das universidades, da Defensoria Pública e dos órgãos de segurança”, disse o prefeito, que aproveitou a oportunidade para criticar posturas que não contribuem para a resolução do problema. “Colocar dentro do ônibus e mandar pra outra cidade, como já foi feito no passado em Corumbá, não adianta. Muito menos fingir que essas pessoas são invisíveis, como faz uma parcela considerável da sociedade, que convenientemente finge que não enxerga esses moradores de rua caídos, maltrapilhos e carentes. Posso afirmar que da nossa parte elas não são invisíveis e que há disposição de ajudá-las”.

 

Para o chefe do executivo, o caráter informal de um colóquio, ideal para diálogos democráticos nos quais todos podem expor opiniões e experiências, vem ao encontro do atual momento pelo qual o País atravessa. “O grande recado que vem das vozes roucas das ruas é que, além de quererem ser ouvidas, as pessoas desejam participar dessas decisões. Por isso, estamos aqui para ouvi-los, respeitando as opiniões e divergências. Juntos mudaremos essa triste situação”, acrescentou.

 

Para a Secretaria de Assistência Social e Cidadania de Corumbá, Andrea Cabral Ulle, trata-se de uma questão urgente e de dignidade humana. “Trata-se de um tema que gera indignação do nosso prefeito, que desde os primeiros dias de governo tem sido sensível a essa causa, que não deve ser tratada meramente de forma assistencialista ou por meio de higienização social, mas com políticas públicas que culminem com a garantia de direitos a todos”, explicou.

 

A abertura do colóquio contou também com palestras da Coordenadora de Proteção Social Especial, Marlene Veiga Espósito, da Secretaria de Trabalho e Assistência Social de Mato Grosso do Sul; e da Gerente de Saúde Mental, Fernanda Cristina Rodrigues, da Secretaria de Saúde de Mato Grosso do Sul.  “As pessoas não ‘são’ de rua, elas ‘estão’ na rua e são produtos da sociedade, que os levam a viver nesse ambiente por diversos motivos, como a pobreza, fragilidade de vínculos familiares, busca frustrada por um trabalho rentável na cidade grande, uso abusivo de drogas e vários outros”, explica a coordenadora Marlene Espósito.

 

“É preciso, antes de mais nada, haver respeito a essas pessoas, humanizar o atendimento e dar tempo para que ele surta resultados, respeitar as diferenças e escolhas de cada um e construir uma rede de atenção e de planos de atendimento”, apontou.

 

As palestras foram seguidas por perguntas da plateia, composta essencialmente por assistentes sociais, psicólogos e diversos outros especialistas da área social.

 

Nesta sexta-feira, a apresentação será do advogado e defensor público Carlos Eduardo Oliveira de Souza, seguida por uma mesa redonda que debaterá as estratégias e desafios de uma ação integrada entre as áreas de Saúde, Segurança Pública e Assistência Social. Após isso, será composta a equipe intersetorial para elaborar, acompanhar e monitorar as próximas ações. 

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