Comércio vive momento de confiança e dá um salto de qualidade em Corumbá

O ano de 2013 representou um verdadeiro salto de qualidade para o comércio corumbaense. Basta contar quantos estabelecimentos passaram por uma boa reforma e praticamente se reinventaram no ano passado ou quantas novas lojas e franquias abriram suas portas na Cidade Branca ao longo desse mesmo período e constatar que os exemplos não cabem em duas mãos.

 

Esta reportagem foi às ruas da cidade entender os motivos de tamanho reboliço e encontrou comerciantes animados e otimistas: ‘Corumbá está na boca dos investidores’, ‘mais dinheiro circulando na praça’, ‘administração séria e comprometida com o comércio’, ‘valorização do empresário que paga em dia seus tributos’, ‘o corumbaense está mais exigente’, ‘a chegada de novas franquias’, ‘relação de parceria com a administração municipal’, ‘aumento do número de eventos e turistas’, ‘cidade mais limpa, bonita e bem-cuidada’ etc. Enfim, seja lá qual for a resposta ou o motivo, o fato é que uma maré de otimismo toma conta do comércio em Corumbá e isso se reflete na oferta de um novo padrão de qualidade de serviços e produtos que a partir de 2013 começou a se consolidar na cidade.

 

Mitos e verdades

 

Aquela história de que o corumbaense é tradicionalista, prefere frequentar os mesmos lugares de sempre e consumir produtos e serviços habituais não é de todo verdade. Os comerciantes estão apostando cada vez mais em novidades para atender uma demanda crescente na cidade.

 

Um típico exemplo disso é a franquia de Corumbá da Sorveteria Chiquinho, que antes mesmo de ser inaugurada – em agosto de 2013 – foi sentenciada à falência por um daqueles corumbaenses avessos à novidades. “Viemos de fora para investir num mercado já estabelecido na cidade, que é o de sorvetes de massa, mas com uma nova proposta, de sorvete italiano ou soft italiano”, explica a douradense Kênnia Garcia. “Antes da inauguração, ainda durante a reforma da loja, um senhor que passava pela calçada questionou o que seria ali e, ao ouvir a resposta, previu que não duraríamos três meses”, lembra.

 

Segundo a empresária, no primeiro mês a meta de vendas foi dobrada e em 90 dias, quintuplicada, colocando a operação de Corumbá à frente das unidades de grandes capitais, como Campo Grande e São Paulo! “Ganhamos destaque nacional da franquia em 2013 e os representantes vieram de São Paulo para entender por que vendíamos tanto”, acrescentou a empresária, que se empolgou tanto com a cidade que quatro meses depois inaugurou, na rua ao lado, uma franquia paranaense de bijuterias. “Abrimos com a proposta de vender somente bijuterias por preços legais. Hoje até os bolivianos vem comprar de nós”.

 

Até mesmo quem é do ramo há muito tempo, como o casal Roberto e Cristina Oliveira, já percebeu que é preciso sair da zona de conforto e se renovar constantemente para crescer. Há sete anos no segmento de padaria, ambos decidiram se mudar da Nova Corumbá, onde já estavam estabelecidos, e se aventurar em uma área mais central, na rua Cabral. “O corumbaense está mais exigente e sentíamos que faltava uma opção de padaria diferenciada, com produtos e atendimento de qualidade e preço justo, um espaço onde você entra e se sente bem. Arriscamos tudo e abrimos uma padaria do jeito que imaginávamos”, relembra Renata. “Após seis meses de reforma, inauguramos no dia 1 de julho do ano passado e hoje vemos o retorno, com 80% de clientes novos e fieis”, acrescentou ela. “Corumbá está mais bonita, mais bem cuidada, as pessoas estão pintando suas casas, varrendo mais suas calçadas e o comércio não pode se acomodar e parar no tempo. Além disso, vejo a cidade com mais turistas, chegou a hora do comerciante faturar mais com o turismo em Corumbá”, completou Roberto.

 

O risco é ainda maior quando não existe sequer o mercado no qual se deseja investir. Ou seja, sem casos concretos de sucesso a seguir, a aposta se dá exclusivamente em uma demanda reprimida. É o caso do empresário Roberto Cândia, há três anos conhecido no setor corporativo por meio da Grafiká, e que decidiu ampliar e popularizar seus serviços apostando no segmento de gráfica rápida e comunicação visual num grande galpão em um dos endereços mais centrais e movimentados de Corumbá. “Era preciso atender o cliente ‘ponta a ponta’. Não dava mais pra ir à capital sempre que necessitava de um material gráfico. Além disso, notei a carência de uma gráfica voltada ao pequeno empresário”, lembra ele. “Hoje, 80% dos meus clientes são micro e pequenos empreendedores”, revela.  

 

Familiar x Profissional

 

Outro mito urbano é que as empresas familiares, que em Corumbá existem em grande quantidade, se apoiam exclusivamente em sua tradição e experiência para se manter ativas e competitivas no mercado.

 

Mais do que nunca, os termos branding, top of mind, fidelização dos clientes, gestão de pessoas estão fazendo parte do vocabulário dos empreendedores. “Faço uma reunião de pauta com minha equipe diariamente antes de abrirmos a loja. É uma espécie de reunião de alinhamento, de uns 30 a 40 minutos, sobre atendimento, prazos, desafios etc”, revela Roberto Cândia. “Estamos migrando da empresa familiar para a empresa profissional, que não precisa, no entanto, deixar de ser familiar”, acrescenta.

 

Até mesmo a Família Campos, que neste ano completa 70 anos no ramo de ótica, joalheria e relojoaria em Corumbá, tem sido movida pelos ares do progresso que sopram na cidade. A família possui três comércios em Corumbá e, de uns anos pra cá, tem protagonizado uma verdadeira disputa na qual o maior beneficiado é justamente o cliente. “Durante quase uma década tive a ótica mais bonita da cidade. Foi quando, no final de 2012, meu tio reformou sua loja e me superou. Resultado: antecipei minha reforma de dezembro para abril de 2013 e hoje tenho uma loja linda, ‘padrão shopping-center’, climatizada, aromatizada e um ambiente favorável e confortável para o cliente”, revelou o empresário André Campos.

 

Concorrência

 

Talvez o exemplo mais visível dessa corrida pela excelência é o que vem acontecendo nos últimos anos na rua Frei Mariano e região e que se intensificou bastante em 2013. A construção da padaria Dolce Café desencadeou uma série de reformas na concorrência, principalmente de bares e restaurantes, consolidando a rua como o point gastronômico de Corumbá. Laço de Ouro, Miguéis, Avalon, Tô na Roça, além da própria Dolce Café, modernizaram suas instalações e atraíram não só os turistas, mas também muitos corumbaenses ávidos de agito e novidade. “Nossa intenção é impressionar e encantar não apenas o turista, mas principalmente o corumbaense, que está aqui todo dia, oferecendo um ambiente e produtos de alta qualidade“, diz André Mezacasa, da Churrascaria Laço de Ouro.

 

A empresária Clara Lito assume, sem nenhum pudor, que investiu pesado na mais recente reforma promovida no Restaurante Rodeio do Pantanal por conta das movimentações ocorridas ali perto na Frei Mariano.  “A concorrência, quando é leal, te impulsiona a querer melhorar a qualidade do produto, do serviço e do ambiente. E essa sempre foi mesmo a proposta do nosso restaurante”, diz ela, que contratou uma arquiteta e uma decoradora de ambientes para dar um toque personalizado ao seu restaurante, que no ano que vem completa 60 anos com o título de mais antigo em atividade no município.

 

Mas engana-se quem pensa que só há bares e restaurantes de alto nível na região mais central da cidade. O empresário Jeremias Pedroso poderia muito bem se acomodar com sua clientela, que não abre mão do típico programa corumbaense de comer espetinhos e tomar cerveja na mesa da calçada. No entanto preferiu investir também no conforto e bem-estar dos clientes e provar que há vida noturna fora da Frei Mariano. “Foi mais do que uma reforma, comprei novos maquinários e remodelei todo o estabelecimento, que agora passa a ser também um rodízio de carnes e peixes”, disse o dono do tradicional Espeteria Glória, rebatizado de Glória Grill Restaurante. “Há vida fora da Frei Mariano. A vizinhança agora pode parar de gastar gasolina e vir comer aqui mesmo, com toda a qualidade e conforto”, brinca o paranaense, que há 31 anos mora na Cidade Branca e já se considera um corumbaense.

 

Nova geração

 

Oito dos dez empresários entrevistados por esta reportagem tem menos de 40 anos. Longe de ser uma coincidência, esta tem sido uma tendência nesse novo comércio que evolui a passos largos em Corumbá. É o caso também da jovem Samah Ziad, terceira geração de uma família de comerciantes palestinos que há 25 anos chegou em Corumbá.

 

Apesar dos outros negócios da família, muito bem consolidados na cidade, resolveu ter sua própria loja, um local onde pudesse imprimir seu estilo e personalidade. “No ano passado inaugurei um espaço feminino, onde a cliente encontrasse o melhor da moda, manicure, pedicure, massagem, tudo em um único ambiente, e estou muito feliz com o resultado”, disse.

 

O secretário de Indústria e Comércio de Corumbá, Pedro Paulo Marinho de Barros, comemora a chegada desses jovens empresários, que arejam e dão uma nova dinâmica ao comércio local. “Eles acreditam mais em seus instintos e, ao mesmo tempo, são mais antenados e atualizados sobre as últimas tendências, pois estão constantemente buscando informações e referências a respeito das melhores práticas e modelos comerciais para a nossa cidade”.  

 

E esse frescor está mudando até a rotina e o dia-a-dia da cidade. “Nós movimentamos a Frei Mariano, que era uma rua morta à noite. O comércio da região está até fechando mais tarde em função disso. As pessoas me dizem por aqui que nós mudamos a Frei Mariano”, revela a empresária Kênnya, dona da mais nova loja de sorvetes de Corumbá, que atrai predominantemente o público jovem.  

 

Ali ao lado, bem na esquina das ruas 13 de Junho e Frei Mariano, uma outra franquia também agita a região. “Mudamos todo o mobiliário, demos uma requintada no visual interno e externo, modernizamos a gestão e deixamos a loja bonita, agradável e climatizada, com preços competitivos. Ficou tão bonito que até pensamos que as pessoas não entrariam na loja por se sentirem intimidadas. Graças a Deus o resultado tem sido o melhor possível”, comemora o goiano José Augusto Borges, gestor da Farmais de Corumbá e funcionário do seu filho, Paulo Henrique, o proprietário.

 

As franquias, aliás, são apontadas pelos especialistas como parte da solução para uma antiga carência do mercado, a falta de mão de obra especializada. “As franquias, com seus sistemas de gestão centralizados, trazem ao município também uma visão profissional e voltada a resultados e isso não só na gestão como na capacitação dos funcionários e no atendimento ao cliente”, diz o secretário de Indústria e Comércio.

 

Além da Sorveteria Chiquinho, Moça Biju e Farmais, destacam-se no comércio corumbaense as franquias Cacau Show e as Casas Bahia, esta última inaugurada no final de 2013 no centro da cidade com uma moderna loja de 1,2 mil metros quadrados.

 

Segundo o prefeito de Corumbá Paulo Duarte, a chegada da maior rede de varejo de móveis e eletrodomésticos do Brasil – de acordo com estudos de top-of-mind a mais presente na mente dos brasileiros – é um divisor de águas para todo o mercado local de varejo. “Temos uma empresa de porte nacional confirmando a força da economia de Corumbá e isso deve atrair uma série de outros empreendimentos para cá, além de desenvolver a concorrência e beneficiar o consumidor”, comemorou.

 

De fato, outras grandes redes de expressão nacional voltaram suas atenções para Corumbá e já prospectam o mercado da Cidade Branca.

 

Parceria

 

A relação de parceria com a administração municipal também foi citada pelos empreendedores como um dos fatores do excelente crescimento que o comércio vem experimentando desde 2013.

 

Para o empresário Roberto Cândia, “a atual gestão valoriza quem paga seus tributos corretamente” e que “2013 foi o ano em que o comércio se fortaleceu e que conseguimos sonhar que é possível chegar a algum lugar”. De acordo com Jeremias Pedroso, “a prefeitura tem dado uma parcela importante de contribuição, promovendo muitos eventos, mantendo o turista e fomentando o comércio”. A proprietária do Italian Coffee sente a cidade “mais bonita e bem cuidada, em um clima favorável para que os pequenos comércios também faturem com o turismo”.

 

O ótico André Campos afirma que “Corumbá está vivendo um momento muito propício e que as coisas estão começando a conspirar a favor”. Para ele, “com uma administração séria e presente, o corumbaense está retomando sua auto-estima” e cita os exemplos do ‘Liquida Corumbá’, do Refis e da decoração de natal (parceria da prefeitura com o comércio). “Nunca vi Corumbá tão linda quanto no natal de 2013”.

 

A empresária Kênnya destaca ainda a gestão participativa da prefeitura. “Fomos chamados pela prefeitura para ajudar a organizar o novo código de postura municipal. Isso é inédito pra mim”.

 

E 2014 promete ser ainda melhor para o varejo. Todos os empresários entrevistados, sem exceção, pretendem reformar, ampliar ou trazer novidades para seus clientes. No final do ano passado a Secretaria da Indústria e Comércio ouviu 103 empresários. Em relação à economia corumbaense, os empresários mostraram-se otimistas quanto a 2014. Segundo a pesquisa, 42% dos entrevistados estão confiantes com a economia local. Em relação às demandas pelos seus produtos, o comércio mostrou-se bem otimista. 60% dos entrevistados informaram esperar que a procura pelos seus produtos aumente nos próximos dois meses.

 

Enfim, a julgar pelo otimismo dos empreendedores, boas e alvissareiras notícias vem por aí. É esperar pra ver. 

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