Pela primeira vez no FAS, workshop de viola-de-cocho atrai público jovem

 

Pela primeira vez inserida como uma das atrações do Festival América do Sul, na tarde desta quinta-feira, 01, teve início o “I Workshop de Viola de Cocho e Siriri”. Com a iniciativa de proporcionar ao público contato com esse complexo musical e coreográfico, a oficina acontece no escritório do IPHAN em Corumbá e segue até o próximo sábado, dia 03, sempre a partir das 14horas.

 

Promovido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), em parceria com a Fundação de Cultura de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, juntamente com a Fundação de Cultura de Corumbá, o trabalho traz a preocupação de salvaguarda as duas artes, que são registradas como Patrimônio Cultural Brasileiro.

 

“Foi a primeira vez que conseguimos inserir essa oficina nesse festival tão importante. E a intenção é justamente fazer esse tipo de contribuição, além de promover esse intercâmbio cultural”, comentou a Superintendente do I IPHAN e responsável pelo dossiê sobre a viola-de-cocho, Norma Daris Ribeiro.

 

Para seu Sebastião, de 70 anos, que toca a viola de cocho desde pequeno, é um privilégio passar um pouco da arte para os mais jovens. “É uma oportunidade de resgatar a nossa cultura, passando um pouquinho que a gente sabe”, disse. Já para Vilma da Silva, oficineira de Cuiabá, a oficina traz um aprendizado bacana com características de cada lugar. “ O nosso ritmo de dança é diferente, mais acelerado e na evolução coreográfica usa bem mais tempo”, explicou, Vilma, acrescentando que seu maior desejo é contribuir de forma positiva com o cururu e siriri do Pantanal.

 

A vice-prefeita e presidente da Fundação de Cultura de Corumbá, Márcia Rolon, destaca que as culturas são muito parecidas, mas divergentes. “O jeito de dançar o siriri no Estado de Mato Grosso tem outras maneiras que são diferentes das nossas. Mas ao mesmo tempo toda essa diversidade fortalece um e outro”, observou.  “É bom saber que realmente esse patrimônio da viola de cocho e do siriri ele é territorial, ele é do Pantanal. Ele pertence a Mato Grosso do Sul e pertence muitíssimo a Mato Grosso”, acrescentou.

 

Ainda segundo ela, Corumbá tem caminhado para se igualar a manifestação cultural que já existe em Cuiabá. “Desde o ano passado a gente esta fazendo esse evento do Festival da Viola de Cocho, e 40 pessoas de Cuiabá se juntaram a nós para uma grande manifestação cultural”, lembrou Márcia, acrescentando que Corumbá já possui 20 meninos que estão aprendendo a tocar o instrumento. “Quando a gente trouxe o minicurso da Funart, fizemos questão de convidar o seu Sebastião para trabalhar também, contribuindo com a nossa arte”, completou.

 

Viola de Cocho

 

A viola-de-cocho é um instrumento musical singular quanto à forma e sonoridade, produzido exclusivamente de forma artesanal, com a utilização de matérias-primas existentes na Região Centro-Oeste do Brasil. Sua produção é realizada por mestres cururueiros, tanto para uso próprio como para atender à demanda do mercado local, constituída por cururueiros e mestres da dança do siriri. O Modo de Fazer a Viola-de-Cocho foi registrado no Livro dos Saberes, em 2005.

 

O nome viola-de-cocho deve-se à técnica de escavação da caixa de ressonância da viola em uma tora de madeir inteiriça, mesma técnica utilizada na fabricação de cochos (recipientes em que é depositado o alimento para o gado). Nesse cocho, já talhado no formato de viola, são afixados um tampo e, em seguida, as partes que caracterizam o instrumento, como cavalete, espelho, rastilho e cravelhas. A confecção, artesanal, determina variações observadas de artesão para artesão, de braço para braço, de forma para forma.

 

 

Os materiais utilizados tradicionalmente para sua confecção são encontrados no ecossistema regional, correspondendo a tipos especiais de madeiras para o corpo, tampo e demais detalhes do instrumento; ao sumo da batata ‘sumbaré’ ou, na falta desta, a um grude feito da vesícula natatória dos peixes (ou poca) para a colagem das partes componentes; a fios de algodão revestidos para trastes (que, na região, também são denominados pontos) e tripa de animais para as cordas.

 

Sua confecção, feita de forma artesanal, determina variações observadas de artesão para artesão, de braço para braço, de fôrma para fôrma. As violas podem ser decoradas, desenhadas a fogo e pintadas, ou mantidas na madeira crua, envernizadas ou não. As fitas coloridas amarradas no cabo indicam o número de rodas de cururu em que a viola foi tocada em homenagem a algum santo – que possui, cada qual, sua cor particular.

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