Prefeitura e Marinha levam ajuda a famílias ilhadas por cheia no alto Paraguai

Após 52 horas de viagem, a equipe do programa social Povo das Águas retornou no último sábado da região da Barra do São Lourenço, no alto Pantanal, onde esteve desde quarta-feira promovendo uma ação emergencial em prol das 30 famílias ribeirinhas afetadas pela cheia do rio Paraguai.

 

A ação contou com o auxílio fundamental da Marinha do Brasil, que colocou a embarcação Piraim e uma tropa de apoio de 23 oficiais à disposição. Já a equipe do Povo das Águas foi composta por 11 pessoas, entre as quais um médico, duas enfermeiras, um dentista, uma auxiliar, uma assistente social e um agente da Defesa Civil, que levaram atendimento médico, odontológico, medicamentos, cestas básicas, lonas e produtos de limpeza aos ribeirinhos.

 

De acordo com a última aferição na régua de Bela Vista do Norte, as águas do rio Paraguai na região do alto Pantanal já atingem 6,25 metros, um dos maiores níveis dos últimos anos, inundando casas de dezenas de famílias ribeirinhas e obrigando-as a se deslocarem a outros locais temporariamente. É o caso do João Alberto de Oliveira, mais conhecido na região como João Jaracussú. Ele viu sua casa invadida pelas águas e teve de se mudar do Porto Xané para a Barra de São Lourenço, a exemplo de outras três famílias, que construíram barracas improvisadas no Aterro do Socorro.

 

Segundo o representante da Embrapa, Carlos Padovani, que também acompanhou a equipe do Povo das Águas durante a expedição, a cheia deste ano é resultado das chuvas nas bacias das nascentes com o rio Paraguai, na região de Cáceres, e na fronteira com a Bolívia, na bacia do Corixo Grande.

 

Para ele, cheias como a deste ano merecem toda a atenção por parte do Poder Público, no entanto são recorrentes, uma vez que ocorrem desde o início do século passado, quando o rio Paraguai atingiu 6,64 metros em 1905 (régua de Ladário). “A maior cheia foi em 1982, de 7,20 metros. E cerca de 1/3 das cheias que se tem registro ultrapassaram a marca dos 6 metros, sendo a última em 2011, de 6,08 metros”, explica.

 

De fato, dona Leonilda Aires de Souza (mais conhecida na região por dona Eliane) diz que como boa pantaneira já não se surpreende com o ciclo das águas e tem contado sempre com o apoio da prefeitura. “Minha família mora no Pantanal há 150 anos, estamos acostumados com as cheias do rio e desde 1974 vivemos nessa agonia, de lá pra cá”, explica. “Pelo menos podemos contar com a ajuda da prefeitura sempre que pedimos socorro. O pessoal do Povo das Águas é nosso amigo, conhece nossa realidade e sempre nos trata com muito carinho”, diz.

 

O pescador Ronildo Alves da Silva mora há 20 anos na região e concorda. “Já temos costume de enfrentar o ‘pé d’água’, a gente já não se assusta mais”, acrescenta o ribeirinho, que só tem medo mesmo da cobra boca de sapo e dos jacarés que com a inundação ficam mais perto de sua casa e dos filhos.

 

Segundo Maria Aparecida, o auxílio foi providencial. “Avisamos a prefeitura há 20 dias e até que eles vieram rápido, a ajuda chegou em boa hora, principalmente a cesta básica e os medicamentos”, disse.

 

De acordo com a coordenadora do Povo das Águas, Elisama Cabalhero, o saldo da ação foi positivo. “Cerca de 30 famílias foram atendidas, num total de 75 adultos e 15 crianças, por isso a ação foi um sucesso. Os ribeirinhos já perceberam que não estão sozinhos e que a prefeitura, por meio do programa Povo das Águas, estará sempre por perto para ampará-los”, diz. “A expectativa agora é quanto tempo vai levar para as águas baixarem, torcemos para que não mais do que dois a três meses”. 

 

Apesar das cheias que periodicamente assolam o rio Paraguai, os ribeirinhos nem pensam em abandonar a região. “Não trocamos o Pantanal por nada, aqui minha família mora há mais de 100 anos e vivemos em paz. Apenas queremos debater com as autoridades uma solução permanente para proteger nossa família das cheias, um aterro ou local mais alto onde as águas não cheguem”, disse dona Eliane.

 

Para o Comandante Proença, do 6º Distrito Naval da Marinha do Brasil, que coordenou a logística da expedição, a sensação foi de dever cumprido e de satisfação pessoal e profissional. “Para mim é uma felicidade muito grande ajudar o próximo levando dignidade por meio dessa ação cívico-social, ainda mais em um momento como este, de grande necessidade. E nós estamos aqui para poder ajudar essa população, fazendo com que os ribeirinhos tenham uma qualidade de vida melhor”.

 

Cronograma

 

Após esta ação emergencial, o programa Povo das Águas retorna à região do alto Pantanal no período de 25 a 31 de maio, para atendimento aos ribeirinhos residentes da Colônia São Domingos ao Porto Novo Horizonte, na divisa com o Mato Grosso.

 

A segunda edição será no período de 08 a 13 de junho, na região do Taquari, no médio Pantanal, do Corixão até o Porto Sairú, na Colônia Bracinho. A terceira será entre 13 e 18 de julho, no baixo Pantanal, do Porto Formigueiro até Forte Coimbra.

 

Em agosto, de 03 a 08, a ação retorna ao Taquari. No período de 24 a 30 de agosto, será no alto Pantanal; de 07 a 12 de setembro, no baixo Pantanal; de 12 a 17 de outubro, no Taquari; de 09 a 15 de novembro, no alto Pantanal, e de 07 a 12 de dezembro, no baixo Pantanal. Serão ao todo, nove edições até o final o ano, com três em cada região pantaneira.

Skip to content