Rota bioceânica: Corumbá assume interlocução em diálogo Brasil/Bolívia

No último fim de semana Corumbá deu um importante passo para consolidar-se como principal portão de entrada e saída do Brasil na rota logístico que liga os produtos brasileiros do Porto de Santos e da capital Campo Grande ao Oceano Pacífico e ao mercado exterior.

 

Mas, principalmente, a Cidade Branca assumiu uma posição de interlocutor-chave, liderando uma comitiva composta por um senador boliviano, representantes logísticos e da agência de desenvolvimento fronteiriço daquele país de Corumbá até a capital a fim de viabilizar a rota bioceânica com os empresários do setor de transporte rodoviário de cargas do Mato Grosso do Sul.

 

Durante a Trans Expo Latin América, em Campo Grande, um encontro comandado pelo secretário da Indústria e Comércio de Corumbá, Pedro Paulo Marinho de Barros, reuniu representantes da Bolívia e empresários do SetLogMS (Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas e Logística de Mato Grosso do Sul) e marcou a retomada das boas relações entre as duas partes, estremecidas desde a expedição em setembro passado, quando os empresários sul-matogrossenses rodaram cerca de 6 mil quilômetros ao longo de cinco países para conhecer de perto o percurso até os portos do Pacífico.

 

“De Corumbá a Santa Cruz (de la Sierra) fomos muito bem. À partir daí e até Cochabamba as estradas não ajudaram, falta infraestrutura, postos de gasolina e pontos de apoio aos motoristas e pra completar a receptividade em La Paz deixou muito a desejar”, lamentou o presidente do SetLogMS, Cláudio Cavol, que destacou a importância do papel estratégico e conciliador do prefeito de Corumbá para ajudar a resolver o problema. “O SetLog agradece ao prefeito Paulo Duarte por articular esse encontro e nos colocar em contato direto com a Ademaf (Agência para o Desenvolvimento das Macrorregiões e Zonas Fronteiriças da Bolívia). Agora abriram-se novamente os olhos para a rota via Corumbá e isso beneficia não só a cidade como também toda a cadeia logística do estado”, elogiou.

 

Presente no encontro, o empresário Marcos Mitsuo Noma também não poupou elogios ao chefe do executivo corumbaense. “É indiscutível o esforço de um prefeito que vai até o presidente, ainda mais o presidente de um outro país a fim de buscar uma solução para viabilizar a rota bioceânica. Um esforço desses merece mérito e todo o nosso reconhecimento”, disse o empresário, dono do segundo maior grupo fabricante de carretas do Brasil. “Isso revela também visão de longo prazo, pois Corumbá se desenvolverá muito com essa rota, que estava sendo bastante contestada até então. Com a atitude do prefeito, tudo deve mudar a partir de agora”, acrescentou.

 

Correção de rota

 

Dos 2,7 mil quilômetros que ligam Campo Grande ao Porto de Iquique, no Chile, cerca de 2 mil quilômetros são de estradas bolivianas, daí a importância do alinhamento técnico e político com as autoridades do país vizinho para viabilizar esta que é a principal rota bioceânica e o escoamento dos produtos brasileiros do Oceano Pacífico aos mercados estrangeiros.

 

Entre as principais reivindicações dos transportadores brasileiros estão a flexibilização da burocracia na aduana boliviana, um maior número de postos e pontos de apoio aos motoristas ao longo das estradas e a disponibilização do Diesel S10, utilizado na maioria dos motores mais modernos de caminhões de grande porte. Mais segurança jurídica e portos dotados de maior infraestrutura também constaram na pauta da reunião com representantes da Ademaf e o senador Isac Abalo, do mesmo partido político do presidente Evo Morales.

 

“Quero dizer que há vontade política do comandante Evo Morales para receber os produtos dos senhores e viabilizar a rota, que trará desenvolvimento ao nosso país também. Por isso, levarei essas demandas à ministra de Planejamento e Desenvolvimento e ao nosso presidente”, disse o senador na reunião. “Posso adiantar que de Santa Cruz (de la Sierra) a Cochabamba estamos iniciando a duplicação das estradas ainda neste ano e temos investimentos e obras de integração previstas para os próximos dois a três anos”, antecipou Abalo.

 

Representando a Ademaf, Simon William Durán Blacutt convidou os empresários do SetLogMS para uma nova expedição em terras bolivianas, desta vez com o aval e com o apoio da agência de desenvolvimento. “A experiência dos senhores não foi tão boa quanto poderia na Bolívia pois não acionaram a Ademaf, que é subordinada ao Ministério de Planejamento e Desenvolvimento e por isso a única autoridade capaz de viabilizar junto ao governo boliviano os investimentos e melhorias necessárias em nosso país. Por isso, convido-os para que nos acompanhem em uma nova viagem e assim avaliaremos a capacidade operacional e todos os problemas e reivindicações”, disse o representante da Ademaf, que propôs uma rota diferente, com chegada no Porto de Ilo, no Peru, com o compromisso de construção de estradas à partir de La Paz nos próximos dois a três anos. 

 

“Há vontade política e pelas informações que temos é um porto pequeno, mas com potencial de crescimento para receber toda a demanda de soja e grãos”, acrescentou. Os empresários brasileiros aceitaram prontamente o convite e a nova expedição deve acontecer no início do segundo semestre. “Quero mais uma vez louvar a iniciativa do secretário da Indústria e Comércio e do prefeito de Corumbá, que articulou essa reunião à partir de encontro com o comandante Evo Morales. Graças a isso, hoje a negociação está sendo promovida com as autoridades bolivianas corretas e agora vamos, juntos, tornar o sonho da rota bioceânica uma realidade”, concluiu.

 

Para o secretário Pedro Paulo Marinho de Barros a sensação após a reunião foi de dever cumprido. “Após esse encontro nossa percepção é que a rota bioceânica por Corumbá ganhou ainda mais força, afinal colocamos na mesma sala, em volta da mesma mesa o principal articulador logístico da rota bioceânica no Brasil e o governo boliviano”, finalizou.

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