Banho de São João é ritual insubstituível para maior parte dos festeiros

A ladeira histórica mostra o trajeto. Não há tapete vermelho, mas um teto colorido por bandeirolas e fogos de artifício. A ladainha que todo corumbaense desde cedo aprende a cantar vem embalada por bandas no caminho até as águas pantaneiras do rio Paraguai que naquela noite se tornam sagradas para o batismo de mais de uma centena de imagens do mais cultuado santo junino de Corumbá.

 

São João Batista mistura fé e alegria a cada andor que desce a ladeira Cunha e Cruz rumo à prainha do Porto Geral. São demonstrações de sentimentos, a princípio, distantes, mas que, em Corumbá, dialogam fazendo da representação da passagem bíblica do Batismo uma atração.

 

Pessoas de diversas religiões se misturam na ladeira, assim como as diferentes motivações para passar por baixo dos andores, uma tradição local que, segundo os relatos, garante o atendimento de pedidos vários, dentre os mais populares, um bom casamento para as moças solteiras.

 

Há gente que na simplicidade descreve o motivo de tanta alegria ao festejar o santo. É o caso da festeira Umbelina. Há dez anos ela leva a imagem de São João para o banho no rio Paraguai e resume seu sentimento na comparação. “São João é de gostar, é igualzinho quando pega um serviço que gosta”, diz a festeira.

 

Não importa a distância para a grande parte dos festeiros nada substitui as águas de um dos mais importantes rios da Bacia Pantaneira. Maria Divina Delgado, veio da parte alta da cidade, do bairro Guatós, e explica que o sacrifício vale a pena.

 

“Minha filha era doente, ficou internada muito tempo e por intercessão de São João foi curada e assim comecei a fazer a festa. Pode ter chuva, frio, distância, mas há 10 anos venho banhar a imagem o rio e só tenho conseguido graças”, diz a senhora.

 

E se o assunto é distância, tem gente como a senhora Astrogilda Lopes Rabelo que percorre mais de 400 km entre a Capital, Campo Grande, e Corumbá para renovar a fé em São João. Aos 85 anos de idade, a senhora tem seu próprio ritual: se veste de branco e só banha a imagem em hora “inteira”.  Aliás, ela traz as imagens, pois são três, dentro de uma cesta toda enfeitada.

 

“A fé é a mesma. Só substituo o andor porque a cesta é mais fácil de transportar de Campo Grade para cá e também porque com minha idade descendo essa ladeira a pé a cesta me facilita”, disse Astrogilda que há cinco anos diz cumprir uma missão em Corumbá.

 

“Ele (São João) faz muita cura, te curado muita criança doente, quando chega na época de vir, eu trago os pedidos de todo mundo. Temos que sempre seguir a tradição e respeitar o santo”, ensina a senhora que pela fé e a participação constante na festa de Corumbá recebeu da Fundação de Cultura o certificado de agente cultural do município, documento que os festeiros cadastrados na autarquia pública local recebem anualmente.

 

“Estou muito emocionada, é algo que vou levar para toda vida, para mim é uma grande alegria”, afirmou a devota de São João que se diz uma apaixonada pela cidade de Corumbá e seu povo alegre e religioso.

 

A noite de 23 e madruga de 24 de junho seguiu com diversas histórias de fé e alegria, renovando por mais um ano a tradição singular do corumbaense que está pleiteando junto ao IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) o reconhecimento como Bem Cultural Imaterial Nacional. 

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