Preservar a cultura musical de crianças e adolescentes. É esse o objetivo do Projeto Tambores do Tocantins, uma das atrações da 12ª edição do Festival América do Sul Pantanal (FASP). Em passagem por Corumbá, a equipe do músico Marcio Bello, líder do grupo, preparou oficinas de confecção de tambor e ritmos tocantinenses para os alunos do Instituto Moinho Cultural, na tarde dessa terça-feira, 19.
Ao todo, 30 alunos com idade entre 09 e 16 anos, aprenderam que é possível transformar elementos simples como pele de animal, cerâmica e madeira, em música. “Ensinamos a construção de instrumentos artesanais, produzidos a partir da cerâmica (argila), matéria prima fácil de ser encontrada aqui na região”, comentou Márcio Bello, coordenador da oficina.
Há 12 anos trabalhando com artes, Márcio Bello, que é sul-mato-grossense, conta que tudo começou em abril de 1992, quando teve o primeiro contato com as manifestações tradicionais do Tocantins. “Com a convivência e o aprendizado com os mestres e grupos tradicionais, percebi que em algumas manifestações, elementos importantes como instrumentos de percussão, estavam se perdendo pela falta de transmissão das técnicas de confecção. Foi assim que nasceu a ideia do Projeto Tambores do Tocantins”, conta o músico.
Ainda de acordo com ele, o projeto nasceu como ferramenta de preservação e valorização da cultura e dos saberes musical tradicional do Tocantins e, consequentemente, como ferramenta de inclusão social de crianças, jovens, adolescentes e suas comunidades. “O Grupo Musical Tambores do Tocantins é o resultado de todas as experiências vivenciadas no projeto. No palco, os jovens músicos tocantinenses, mostram a força dos ritmos e da pulsação do coração do Brasil.”, comentou.
Oficina
Durante a oficina, instrumentos como o “Fuxico” e o “Tambor de Rabo”, que imita o som da onça, foram destaques na hora da confecção. “Estou achando o máximo participar das aulas. Eu sou músico do Moinho, aprendi tudo que sei aqui, mas confeccionar o próprio instrumento é muito interessante e divertido, e eu não sabia”, comentou Leandro Henrique, que participou da oficina para, futuramente, ser um multiplicador. “Eu vou dar continuidade ao trabalho por aqui. Quero que outros jovens aprendam a confeccionar os tambores, aproveitando toda matéria prima que temos na região, que é a argila”, completou.
Ainda de acordo com o coordenador Márcio Bello, os instrumentos confeccionados pelo grupo, além de terem um caráter artesanal, prestam homenagens aos povos que ajudaram a consolidar a cultura do povo do Tocantins. Para isso, os tambores são criados com cara de índio ou negro. “Temos também instrumentos esculpidos com imagens de animais como anta, onça, preguiça e tamanduá”, acrescenta.
FASP
O grupo Tambores do Tocantins se apresenta nesta quinta, 20, a partir das 22 horas, na Praça Generoso Ponce . No repertório, além de músicas autorais do grupo, como “Raoni”, “Tambores do Tocantins” e “Pilão de Dois”, serão apresentados trabalhos de outros compositores brasileiros, entre eles os tocantinenses Juraildes da Cruz, Braguinha Barroso, Genésio Tocantins e Dorivã; dos goianos Adalto Bento Leal e Amilton Carneiro; do paraense Ronaldo Silva. e do baiano Raimundo Sodré.
Tambores do Tocantins
Nascidos às margens do rio que dá nome à formação, o Tambores do Tocantins representa o batuque histórico de cidades como Porto Nacional e Natividade. A iniciativa de mesclar as peculiaridades da tradição local à musicalidade contemporânea criou um som novo, que se inspira nos sotaques do Nordeste, nos ritmos dos festejos locais e no pulso que vem das influências nortistas do país, como o sussa, catira, roda, baião e samba. São vários gêneros aproveitados em seus espetáculos, cortejos e oficinas.
O grupo já fez diversas apresentações pelo Brasil e na França, Noruega, Itália e Reino Unido, representando a cultura tradicional do Tocantins em vários eventos.