Oitenta e quatro festeiros de São João foram certificados como agente municipal de Cultura pela Prefeitura Municipal de Corumbá, por meio da Fundação de Cultura, na noite desta terça-feira, 21 de junho. Reunidos no pátio da Casa de Cultura Luiz de Albuquerque (ILA), homens e mulheres de diversas idades quem mantem a tradição dos festejos do santo junino mais celebrado em Corumbá, ouviram da vice-prefeita, Márcia Rolon, e do diretor-presidente da Fundação de Cultura, Joílson Cruz, o papel vital que desempenham para a manutenção da fé e cultura do povo corumbaense.
“A Prefeitura vem honrando o compromisso que possui em preparar um trajeto mais enfeitado, em ajudar a cidade na organização do trânsito, de deixar a rua Manoel Cavassa com shows e praça de alimentação, mas quem faz a festa são vocês, ela só tem valor porque vocês a preparam em seus rituais de fé em casa e levam ao conhecimento de toda a cidade na descida da ladeira Cunha e Cruz”, disse Joílson.
“É uma festa popular, da comunidade, é feita de vocês e para vocês. A Prefeitura só joga o tapete. A festa não é da Prefeitura, independente dela colocar decoração, show, vocês são os devotos que descem com o andor, que é aquilo que torna essa festa diferente de todas existentes no país. Esse certificado entregue desde 2013 reforça que vocês são os nossos agentes municipais de cultura, que fazem a festa”, comentou a vice-prefeita Márcia Rolon ao lembrar que essa característica singular atrai muitos visitantes de outras cidades para presenciar esse momento único de devoção.
A festeira Maria Divina Delgado foi uma das primeiras a receber o certificado e contou como surgiu para ela a devoção em São João. “Minha filha ficou muito doente, ficou desenganada e pedi a cura para São João. Ela tem 42 anos, é cadeirante, mas vai todo ano comigo na festa e desce a ladeira. Para nós que somos festeiros temos que guardar com muito carinho esse certificado que é um símbolo”, disse a senhora que realiza a festa no bairro Aeroporto.
De outro canto da cidade, o bairro Cristo Redentor, o festeiro Anderson José de Souza, bairro Cristo Redentor, resolveu fazer a festa para São João não para retribuir uma graça alcançada, mas pela fé sincrética que carrega consigo.
“Sou umbandista e resolvi fazer a festa para homenagear Xangô das Pedreiras que, no sincrestismo, é São João. Minha mãe é festeira já faz tempo e daí, a gente se reúne na casa dela para a reza com outros festeiros e andores, somos, no total, uns sete a oito andores que descemos todos juntos para o rio Paraguai”, disse o festeiro.
Junto ao certificado de agente cultural, os festeiros recebem um benefício financeiro que, geralmente, é utilizado para incrementar o ornamento dos andores que descem a ladeira Cunha e Cruz rumo à prainha do Porto Geral para num ato simbólico banhar, entre a noite de 23 e a madrugada de 24 de junho, a imagem de São João representando a passagem bíblica do Batismo.
Em toda a cidade, há registro de mais de cem festejos espalhados por diversos bairros. A maioria segue a tradição de banhar a imagem do santo nas águas do rio Paraguai que, para os devotos, torna-se milagrosa na noite de festejos dedicados a São João. Esse ato de fé, que mistura o sacro e profano, é reconhecidamente patrimônio cultural imaterial do Estado de Mato Grosso do Sul e pleiteia, junto ao IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), o título de patrimônio imaterial cultural do Brasil.