Visita técnica às escolas rurais do Município oferece suporte aos professores na região das águas

Cerca de seis horas de barco separam a escola Sebastião Rolón de Corumbá. Construída no meio do Pantanal, às margens do rio Taquari, a escola atende 25 alunos do 1º ao 9º ano, que moram na vizinhança da comunidade do Porto Sairu. O trator é único veículo capaz de enfrentar as condições mais adversas do Pantanal, como os comuns atoleiros e corixos. Diariamente, às 5 da manhã o tratorista da Prefeitura inicia o trajeto que leva cerca de uma hora e meia, recolhendo os alunos em vários pontos da estrada rumo à sala de aula. Na escola, os alunos chegam cedinho, lancham e já vão para a aula.

 

Como as escolas da zona rural são multiseriadas, simultaneamente, um único professor ensina alunos de diferentes séries a mesma matéria. O desafio do professor é acompanhar o desenvolvimento individual, promover a curiosidade e o prazer pelo ensino em etapas tão distintas do aprendizado infantil.  

 

Joilson Hernochi de Morais é um professor de história que mora no Pantanal desde 2013. Recém-formado, viu uma oportunidade na carreira com a vaga em uma escola rural. “Havia o desafio, mas também havia a qualidade de vida. Aqui eu tenho tempo para tudo”. Junto com outras três professoras, Joilson compõe o corpo docente da escola Sebastião Rolon.

 

Na escola, as crianças participam de projetos de astronomia, olimpíadas de matemática e, em 2017, as unidades educacionais do Município aderiram ao Agrinho, um programa do Senar que promove a integração do conhecimento entre campo e cidade. As crianças sabem pescar, cozinhar, caçar e conhecem os bichos pelo barulho que fazem, pela pelagem ou pelo comportamento.  “No campo, as crianças têm uma vivência de mundo ampliada, pois elas aprendem a se virar muito cedo, sabem reconhecer os sinais do rio, da floresta, dos bichos e compreendem, por exemplo, se vai fazer muito frio, só de ver o gado deitado no gramado”, resume a coordenadora Isabela Xavier.

 

Para o instrutor do Agrinho, Renato Costa Vieira de Faria, o projeto valoriza o conhecimento preexistente e dá um direcionamento para uso prático: “No Agrinho, tratamos de assuntos como ética,  sustentabilidade, saúde e pluralidade cultural, a partir de temas locais”, resume.

 

De frente para a escola, o rio Taquari por vezes se perde no meio da vegetação de camalotes, tornando uma grande floresta flutuante. Os baceiros, como são chamados, enroscam no motor do barco e exigem paciência e perseverança do piloteiro do município, Atamil Vieira da Silva. Há 17 anos na profissão, Atamil conhece e é conhecido nas comunidades escolares. “A gente fica satisfeito em saber que eles gostam do nosso trabalho, fico emocionado com tanta atenção que eles dão, não sabem o que fazer para agradar a gente”.

 

São seis escolas rurais e suas extensões que atendem as comunidades do Pantanal, tanto na região do rio Paraguai quanto no Taquari. Nesta viagem, a equipe visitou todos os núcleos do rio Taquari atendidos pelo Município, com 347 alunos. “O objetivo da missão é dar suporte aos professores neste final de bimestre, conhecer os desafios, acompanhar o desenvolvimento dos alunos e entender as necessidades da comunidade”, aponta a diretora Rozemeri dos Santos, responsável pela viagem. “Os desafios no campo são diferentes dos enfrentados por um professor na cidade, e é preciso ser sensível às demandas de quem, por vezes, fica dias sem comunicação com a cidade”, complementa.

 

Em cada escola visitada, é realizada uma reunião entre representantes da rede municipal de ensino e a comunidade. “O nosso objetivo é identificar os desafios que a educação no campo tem e buscar as melhores alternativas viáveis”, relata Rozemeri. As visitas periódicas servem para dar suporte ao trabalho desenvolvido pelos professores, dar encorajamento e descobrir problemas que precisam ser resolvidos. Rozemeri analisa: “a cada visita técnica, nós avaliamos o desempenho dos alunos, solicitamos o apoio da comunidade, buscamos melhorias na infraestrutura da escola, transporte e merenda. Além disso, apontamos situações que a Assistência Social pode solucionar, como doação de agasalhos e calçados”.

 

Apesar da menor concentração de alunos nas escolas rurais, é lá que existem mais desafios logísticos. Junto com a diretora e coordenadores, o técnico do Núcleo de Transporte Escolar, Isaac Aguero, realizou uma visita técnica às escolas, com foco em encontrar soluções para implementar no transporte escolar. O Município possui quatro tratores para o transporte escolar que serão disponibilizados no próximo semestre. “Estamos estudando as rotas mais longas e mais complicadas que precisam do auxílio de um trator, para fornecer o veículo a essas unidades escolares”, explica.

 

São vários desafios em uma região tão complexa quanto o Pantanal – com cheias frequentes, regiões alagadas e mata fechada. Somente nas escolas da região do Taquari, foram percorridos 300 km de barco, trator, caminhote e cavalo. Em algumas comunidades há sinal de celular que  funciona esporadicamente, em outras, somente a comunicação boca a boca. Energia elétrica racionada por gerador, distância da família e da vida social, falta de comunicação e opção de entretenimento não são motivos para afastar os professores das escolas rurais. “Mesmo diante de tantas circunstâncias desafiadoras, nossos professores costumam permanecer muitos anos na zona rural e fazendo a diferença na educação inclusiva dessas comunidades, é muito gratificante”, finaliza Rozemeri.


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