Casos de leishmaniose podem diminuir com ajuda dos moradores, afirma CCZ

De dois a três milímetros de tamanho e com picada extremamente dolorida, o mosquito-palha está presente em toda a cidade de Corumbá. Inseto muito comum no pantanal, precisa de ambientes quentes e úmidos para se reproduzir. O mosquito-palha adulto vive de 15 a 30 dias e a fêmea pode depositar de 40 a 70 ovos de uma só vez em locais como folhas caídas ao chão, troncos apodrecidos, materiais orgânicos a céu aberto e até em fezes de animais.

 

Há cerca de 450 espécies de mosquito-palha espalhadas por todo o continente americano. O problema é que uma dessas espécies pode transmitir aos seres humanos uma doença conhecida como leishmaniose. Cães são as principais vítimas do inseto. Esses animais contaminados, por sua vez, acabam sem querer transmitindo a doença ao homem. O mosquito-palha, ao picar um animal infectado, pode passar a leishmaniose para o ser humano ao picá-lo. Por isso, a importância da atuação de cada morador de Corumbá no combate ao inseto.

 

De acordo com a médica-veterinária Walkíria Arruda, chefe do Centro de Controle de Zoonoses do Município, a população corumbaense precisa eliminar de seus lares ambientes propícios ao desenvolvimento do mosquito-palha. Limpar os quintais e jardins, ensacar as folhas secas, não deixar ao chão frutas e verduras caídas de árvores, não deixar lixo orgânico a céu aberto, coletar as fezes de animais domésticos e ensacá-las são atitudes que diminuem a circulação do mosquito-palha nas residências.

 

“Muitas pessoas pensam que eliminando seu cão acaba-se o problema, mas não acabou. Primeiro, porque o cão é um reservatório, o mosquito transmite a doença nele e o protozoário vai se reproduzindo ali dentro, aí outro mosquito vai lá, pica ele e pica outro animal ou o homem. O cão é uma vítima. As pessoas acham que não podem tocar no cachorro doente, mas podem. Quem transmite a leishmaniose é o flebotomíneo [tipo de inseto]. Só eliminar o cão não adianta”, destacou Walkíria.

 

Conforme a veterinária, algumas pessoas reclamam que sempre pegam cachorros para criar e os animais acabam contraindo a mesma doença. De acordo com ela, nesses casos, é provável que o morador da casa não esteja fazendo o manejo ambiental adequado. “Manejo ambiental significa limpar o quintal, tirar esse material orgânico, rastilhar o quintal e ensacar o lixo, não pode deixar no canto. A gente precisa combater quem transmite a leishmaniose, que é o mosquito-palha. Esse é um dever de cada morador”, disse Walkíria Arruda.

 

Além de limpar bem a casa, as pessoas devem ter a consciência que não podem jogar lixo em terrenos baldios porque além de favorecer a proliferação do mosquito-palha, pode facilitar também a reprodução do Aedes aegypti, transmissor da dengue, zika e chikungunya. Jogar lixo em terreno baldio também atrai ratos e, através deles, outras doenças. A leishmaniose é grave e acomete geralmente crianças, idosos e pessoas com baixa imunidade. O tratamento é longo e desconfortante, com injeções muitas vezes diárias.

 

Já houve mais de 300 casos confirmados em cachorros


“Se não tiver o envolvimento da população, nenhuma doença vai diminuir e quem vai sofrer com isso é a própria população”, frisou Walkíria Arruda. De acordo com dados do Centro de Controle de Zoonoses, em Corumbá, de janeiro a maio deste ano, houve sete casos confirmados de leishmaniose em humanos, com um óbito. O número de casos em cães nos cinco primeiro meses do ano chegou a 315, o equivalente a cerca de 74% do número de infectados durante todo ano de 2016, quando houve 427 confirmações da doença.

 

Walkíria lembrou que no Município há kits rápidos para identificação da doença em humanos. Quando um profissional da saúde desconfia que a pessoa pode estar infectada, ele já realiza o teste. Ela lembra que quanto mais cedo for identificada a doença em humanos, mais chances o doente tem de sobreviver.

 

A pessoa infectada pelo mosquito-palha pode não desenvolver a doença e o organismo evoluir para a cura espontânea. No entanto, a maioria das pessoas infectadas vai desenvolver sintomas em um período de dois a sete meses. Os principais sintomas são febre prolongada por muitos dias, perda de apetite e emagrecimento, palidez e fraqueza, tosse seca e com o passar do tempo, o doente apresenta aumento do fígado e baço.

 

O morador que tem cachorro deve ficar atento aos seguintes sintomas no seu animal de estimação: perda de apetite, emagrecimento rápido, aparecimento de feridas na pele (em especial no focinho e nas orelhas), queda de pelos, crescimento exagerado das unhas. Podem também ocorrer diarreia e perda dos movimentos das patas traseiras. No cão, a doença ainda não tem cura nem tratamento eficaz. A recomendação do Ministério da Saúde é a eutanásia dos animais infectados.

 

Walkíria Arruda lembrou que nem todo crescimento exagerado de unhas em cães se trata de leishmaniose. Cachorros idosos ou que vivam em locais com piso podem ter unhas mais compridas, já que não as desgastam. Ela explicou também que as feridas que não cicatrizam em cães são caracterizadas pela profundidade e pelas bordas altas, que lembram crateras da Lua.

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