Relatos de esporotricose, micose provocada pelo fungo Sporothrix schenckii, sempre existiram no Brasil, sendo mais comuns desde a década de 1990, tornando-se há pouco tempo epidemia no Rio de Janeiro. Em Corumbá, os primeiros casos estão sendo registrados este ano, sendo aproximadamente 26 em gatos e uma confirmação em humano. A doença provoca na pele ulcerações e geralmente é passada de animais para humanos. O Centro de Controle de Zoonoses trabalha para tentar isolar os casos e controlar a proliferação da doença.
O material dos animais que estão chegando ao CCZ com suspeita da doença está sendo coletado e analisado. “É um trabalho que estamos fazendo em parceria com a UFMS e com a doutora Raquel Soares Juliano, da Embrapa Pantanal, para ver se a gente consegue isolar e identificar se é a mesma esporotricose que está lá no Rio de Janeiro, porque às vezes pode ser uma mais agressiva ou não. Na outra fase do trabalho, a gente quer fazer duas oficinas, uma com os médicos-veterinários para uma atualização, porque não era uma doença comum aqui, e outra com um especialista na parte humana para fazer essa atualização com os médicos”, afirmou a médica-veterinária Walkíria Arruda, chefe do Centro de Controle de Zoonoses de Corumbá.
Posteriormente, o CCZ pretende orientar melhor as pessoas que tratam diretamente com os animais porque não é só gato que pode contrair a doença. Cachorros, cavalos, ratos e outros bichos podem ser infectados. De acordo com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o fungo causador da esporotricose geralmente habita o solo, palhas, vegetais e também madeiras, podendo ser transmitido por meio de materiais contaminados, como farpas ou espinhos. Animais contaminados, em especial os gatos, transmitem a doença por meio de arranhões, mordidas e contato direto da pele lesionada.
A veterinária Walkíria Arruda afirmou que o mais complicado de lidar com a doença é que geralmente proprietários de gatos gostam de estar em bastante contato com esses animais, o que pode facilitar a transmissão da doença de um gato infectado para o humano. A Fiocruz recomenda que as pessoas que tenham animais contaminados não sacrifiquem seus bichos, não os maltrate e não os abandone. A doença tem se alastrado bastante no Rio de Janeiro e o número de casos por todo o Brasil tem crescido consideravelmente nos últimos meses.
Ainda conforme a Fiocruz, a doença se manifesta no ser humano na forma de lesões na pele, que começam com um pequeno caroço vermelho, que pode virar uma ferida. Geralmente aparecem nos braços, nas pernas ou no rosto, às vezes formando uma fileira de carocinhos ou feridas. Como pode ser confundida com outras doenças de pele, o ideal é procurar um dermatologista para obter um diagnóstico adequado.
Esporotricose tem cura
Em Corumbá, a dona de um gato com esporotricose entregou o animal ao CCZ e acabou adquirindo a doença. Ela está em tratamento, que deve durar ao menos seis meses. “Estamos tentando montar uma estratégia para que a gente consiga segurar a evolução da doença que é muito rápida. No ano passado não tivemos nenhum caso e esse ano, até maio, já tinham 26. Isso é o que chega até o CCZ, fora os casos que chegam às clínicas e aqueles que estão nas ruas”, disse Walkíria.
A veterinária explicou que o maior transmissor da doença é o gato por estar sempre em contato com outros animais da mesma espécie e com o meio ambiente. Como se trata de um fungo, não existe vacina contra a doença que pode se tornar fatal caso não seja tratada, tanto em humanos quanto em animais. O fungo pode se alastrar e atingir órgãos internos do corpo, sendo mais difícil o sucesso no tratamento. O CCZ recomenda que ao perceber uma ferida nova no seu animal de estimação, o proprietário deve entrar logo em contato com o CCZ ou acionar um veterinário.
“Evitar que o seu animal vá para a rua”, essa é a principal recomendação do CCZ. “Gato é complicado, é difícil segurar em casa, mas o ideal é que o animal não entre em contato com outros e qualquer lesão que comece a surgir, não deve esperar que se torne feia e a pessoa deve procurar logo o atendimento porque quanto mais cedo entrar com tratamento, mais rápida será a resposta, menos sofrimento para o animal e menos risco para a pessoa adquirir a doença”, finalizou Walkíria Arruda.
*Foto de um gato infectado entregue ao CCZ de Corumbá. (Foto: Divulgação CCZ/PMC)