Levantamento realizado pela Secretaria Municipal de Assistência Social revelou que 79% das pessoas em situação de rua em Corumbá tiveram vida profissional no passado. O que tem afastado essas pessoas dos vínculos familiares e do mercado de trabalho é a dependência química, na grande maioria dos casos, conforme pesquisa. O objetivo agora do Município é promover discussão intersetorial com diversas Secretarias para construção de plano de políticas públicas para as pessoas que se encontram nessa situação.
Para Adelma Galeano, assessora de políticas sociais da Secretaria Municipal de Assistência Social, não adianta fazer apenas ações pontuais voltadas para esse público, embora sejam importantes. É necessário realizar discussão aprofundada com outros setores sobre a situação deles, especialmente com a Saúde. “Nosso primeiro passo para podermos fazer políticas públicas voltadas para essas pessoas foi descobrir quem são elas, de onde são e por que estão na rua, se estão cadastradas em programas sociais, para poder criar um comitê e elaborar um plano para o morador de rua”, afirmou.
Conforme o diagnóstico feito pela Assistência Social, a maioria das pessoas em situação de rua em Corumbá trabalha atualmente de maneira autônoma. Esses moradores ganham dinheiro fazendo serviços gerais, cuidando carros, catando materiais recicláveis, fazendo capinagem, fabricando artesanatos, trabalhando com pesca, alguns são eletricistas e outros disseram fazer tatuagens e se prostituir para sobreviver. “Alguns disseram que trabalham em fazendas. Eles ganham dinheiro na fazenda, muitas vezes passam até seis meses por lá, mas voltam e gastam tudo com bebida. Esses moradores de rua que trabalham na fazenda geralmente são todos dependentes de álcool. Passam um mês aqui, acabam com tudo o que receberam na fazenda, aí voltam para lá de novo”, explicou Adelma Galeano.
O Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (CAPS AD) auxilia dependentes químicos a se libertarem do vício. Pessoas em situação de rua, que expressam o desejo de sair da dependência, são encaminhadas ao CAPS AD e monitoradas pelo Centro Pop. Geralmente, passam a dormir na Casa de Passagem enquanto realizam o tratamento. Além disso, a Prefeitura de Corumbá desenvolve junto a essas pessoas o programa Reabilitar. Para participar dele, o interessado deve provar que frequenta o CAPS AD ou outra comunidade terapêutica como o Projeto Cerda há pelo menos três meses.
“Depois, essa pessoa será introduzida em um curso de qualificação profissional e a própria Prefeitura já contrata mão de obra para trabalhar, seja com jardinagem, seja no CRAS. No prédio da Assistência Social têm dois trabalhando e monitoramos para que não caiam no vício de novo. Tudo isso nós queremos colocar em uma política pública e nosso próximo passo é construir um grupo de trabalho intersetorial, com Defensoria Pública e todas as nossas Secretarias, para que cada um tenha sua responsabilidade neste processo”, explicou Adelma Galeano.
“O trabalho com pessoas em situação de rua é constante e não podemos desistir. É um serviço que não dá retorno rápido porque a pessoa tem o direito de ficar na rua. O que nos preocupa é quando percebemos o alto grau de dependência química daquela pessoa e a vontade dela de continuar na rua. Por isso, precisamos da Defensoria Pública com a gente. Vejo que nosso marco será a construção de uma política intersetorial porque assim poderemos dividir a corresponsabilidade de cada um. Depois, vamos instalar um fórum permanente para fazermos avaliações e traçarmos novas metas”, afirmou Adelma Galeano.
Conforme ela, o trabalho feito com pessoas em situação de rua não é fácil. No entanto, algumas situações positivas que acontecem no cotidiano impulsionam a Assistência Social a não desistir das atividades com esse público. “Há quinze dias estamos lutando com um casal. Nossa desconfiança é que a mulher está grávida, mas ela não confirma. Em uma abordagem que fiz com o Centro Pop, eu conversei com o homem e perguntei se ele não queria sair da rua. Ele falou que queria, mas quem estava dificultando a saída era a sua mulher, porque é mais dependente do que ele e estava muito agitada. A gente disse que se ele realmente quisesse, iríamos ajudá-lo”, contou Adelma.
E, realmente, aquele senhor buscou ajuda. “Ele trouxe os documentos, fez cadastro na Gerência de Habitação, conseguiu tirar o NIS dele, está na fila de espera do cadastro. Mas para receber esse tipo de benefício, ele tem que provar que está no processo de mudança, então ele foi ao CAPS AD, não está mais vivendo na rua, está dormindo na Casa de Passagem. Todo dia de manhã, o Centro Pop monitora a saída dele da Casa de Passagem até o CAPS. Isso porque para receber o benefício, o dependente químico tem que estar em tratamento”, finalizou Adelma Galeano.
*78% dos moradores de rua em Corumbá querem mudar de vida, aponta pesquisa