Profissionais, pacientes e familiares envolvidos com as atividades do CAPS ad participaram da comemoração dos 10 anos do Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas na tarde desta quinta-feira, 08 de março. Participaram também do evento o prefeito Marcelo Iunes, que esteve presente com sua esposa Amanda Balancieri Iunes, e o secretário municipal de Saúde Rogério Leite. Além do lanche da tarde, apresentação de dança e depoimentos de pacientes recuperados e em tratamento fizeram parte da festividade.
“É uma satisfação enorme está aqui hoje porque também faço parte da saúde, sou biomédico, tenho laboratório, sabemos das dificuldades dos familiares, mas vocês são vencedores, principalmente os pacientes que têm coragem de vir para cá e se tratar. É difícil entrar nas drogas e sair, mas a força de vontade de vocês e a ajuda do pessoal do CAPS ad vocês conseguem”, afirmou Marcelo Iunes em discurso.
O prefeito assegurou sua confiança na Secretaria Municipal de Saúde e sua disposição em ajudar a Secretaria no que precisar. “O que pudermos fazer, nós vamos fazer. Vamos dar auxílio e condições de trabalho”, disse Iunes.
“Estava conversando do o Dr. Rogério para irmos ao Ministério Público, que conseguiu doar para nós R$ 2 milhões em multas para construção da Fundação de Meio Ambiente, e por que não também através deles conseguirmos apoio para podermos ajudar vocês aqui?”, disse o prefeito em discurso. “Vamos correr atrás, vamos fazer um projeto para levarmos ao Ministério Público, também para o Governo do Estado, para podermos ajudar a melhorar o CAPS ad. Parabéns a todos”, completou Marcelo Iunes.
Conforme o secretário Rogério Leite, o trabalho do CAPS ad é fundamental por oferecer condições, através do corpo técnico composto por psicólogos, médico, terapeutas e demais profissionais, de bem-estar em saúde aos pacientes. “O CAPS ad é uma frente de atendimento de assistência muito importante à nossa população que vive em área problemática de fronteira, onde o uso de drogas ilícitas e do próprio álcool tem incidência muito elevada e está entrando em todos os lares, não tem classe social, não tem profissão que não seja afetada, e que todos estamos a mercê de ter um problema como este em casa”, disse.
Para ele, não podemos falar em pessoas doentes. “São pessoas que estão atravessando um problema que está sendo cuidado em conjunto através desses profissionais do CAPS ad e da família. A gente sabe que ter em casa uma pessoa que passe pelo problema de álcool e drogas é muito ruim, o seio familiar acaba sendo destruído. O ideal é que a gente tenha essa ajuda que a Prefeitura oferece levando o bem-estar para essa família, trazendo essa pessoa novamente para a vida”, afirmou o secretário municipal de Saúde.
“Fico muito feliz em ter hoje o CAPS ad funcionando. Além dele, temos hoje na saúde mental do Município o CAPS i (infantil) e o CAPS II, que trata de outros problemas da mente. É importante a gente investir nessa frente de trabalho para dar um conforto e melhoria do bem-estar em saúde para a nossa população porque, apesar de não termos na nossa família uma pessoa nessas condições, com certeza, somos atingidos indiretamente por termos em nossa região pessoas que não são tratadas”, afirmou Rogério Leite.
“Parabéns a toda equipe, a todo profissional envolvido, às pessoas que procuram o atendimento e aos seus familiares que acreditam no seu parente, na sua conquista enquanto família e também acreditam no sistema que existe. Saúde em dia, construindo a nossa história”, completou.
Pacientes do CAPS ad mandam recado para a juventude
Há 09 anos longe do vício das drogas e do álcool, Edernicio Tavares, 51 anos, foi paciente do CAPS ad quando o Centro estava no início de suas atividades. Por nove meses ele usou os serviços da instituição e nunca teve recaídas, mas luta diariamente contra o vício. “Passei quase vinte anos no vício e me sinto hoje muito melhor. Tenho agora uma família, estou bem na sociedade, saí desse mundo da ‘louquice’ porque droga é ilusão. A gente acaba roubando e furtando por causa dessa porcaria e acaba beneficiando só os ‘boqueiros’. Somos humilhados na rua e em qualquer lugar aonde vamos, inclusive geramos desconfiança dentro de casa porque ninguém pode deixar nada porque a gente acaba pegando para trocar por droga”, disse Edernicio.
Ele contou que logo no início do CAPS ad havia muitos pacientes, mas muitos desistiram, no entanto, ele perseverou. “O meu primeiro trabalho, depois de ‘limpo’, foi em uma escola de samba, no barracão. Um integrante do Alcoólicos Anônimos me viu e disse que era para eu não conviver com o pessoal da escola porque lá havia bebida, mas eu disse que eu tinha que vencer isso e consegui. Fui vencendo essa luta. Pedia a Deus todos os dias para eu vencer e isso me fortalecia. Eu me sentia forte no meio deles e de usuários de drogas porque eu conseguia dizer não”, contou.
Hoje, ele é prestador de serviço de uma empresa que é contratada de uma grande instituição na cidade. “A mensagem que deixo para os jovens é que eles não devem ir pela cabeça de ninguém. É necessário respeitar a mãe quando ela fala dos ‘ajuntamentos’ porque eles trazem problemas. Você pode até não usar droga, mas se conviver com quem usa, você pode usar um dia também e quando percebe, já está dentro. O álcool está impregnado entre os jovens em Corumbá e é a mesma coisa”.
Os pacientes do CAPS ad são conscientes que o vício tem tratamento, mas não tem cura. Conforme psicólogos e médicos, todos vão lutar a vida inteira contra o vício, uns mais fortalecidos, outros com mais dificuldades. Munir Abdullah, 42, por exemplo, mergulhou nas drogas e no álcool aos 14 anos. Em 2009, passou pelo CAPS ad pela primeira vez, recebendo alta no final de 2010, quando começou a trabalhar. No entanto, caiu várias vezes, mas sempre se levantou.
“Conheci o CAPS ad quando estava há dois anos na penitenciária. Através de um juiz, tive oportunidade de vir para o CAPS ad e, por causa do tratamento, consegui redução de pena e consegui meu primeiro serviço. Tudo começou pelo vício no álcool e nas drogas e fui parar na prisão por causa disso porque para consumir eu roubava e furtava”, relatou Munir.
“Hoje tenho batalhas e decepções, mas prefiro sofrer sem usar drogas do que usando. Eu pensava que usar droga era curtição, mas na verdade é só sofrimento, eu chego a viver em estado animal, eu reviro lixo, mendigo na cidade, mesmo tendo família”, disse o paciente que é casado há 22 anos e tem três filhos. Atualmente, Munir vende salgados, tem apoio da mãe para combater o vício e sempre participa do Alcoólicos Anônimos e do Narcóticos Anônimos.
“Não usem drogas. Vivam a vida sem drogas porque uma vida com drogas é escuridão, é você não ter luz, é viver em um abismo, não é curtição, não tem nada disso, é só sofrimento. Perdi minha vida, minha adolescência, não consegui estudar e vivo eternamente lutando contra o vício”, finalizou Munir.