85% dos casos de câncer podem ser evitados, de acordo com oncologista

Câncer ainda é uma doença que assusta pacientes ao receberem o diagnóstico, seja pelo medo de não vencê-lo, seja pelas reações comuns do corpo ao tratamento. O bom é saber que 85% dos cânceres podem ser evitados, conforme o oncologista clínico Antonio Carlos Cavalcante Godoy. Não fumar, evitar ingestão de álcool e realizar atividades físicas regulares são aspectos de um estilo de vida que beneficia a saúde física e mental, diminuindo bastante as chances do desenvolvimento de inúmeros tipos de câncer.

 

Para o Dr. Antonio Godoy, campanhas de prevenção ao câncer deveriam ser pautadas na melhoria da qualidade de vida das pessoas, especialmente no incentivo à alimentação adequada, exercícios físicos e prevenção à exposição solar em horários de pico. Conforme ele, apenas 15% dos casos são de origem hereditária. O médico lembrou que o câncer do colo do útero, por exemplo, pode ser evitado com uso de preservativos e vacinação.

 

Chances de se ter câncer na cabeça e pescoço diminuem drasticamente ao evitar o fumo e a bebida alcoólica. Dr. Godoy afirmou ainda que o câncer de mama, embora tenha fator genético importante, conta com a obesidade e a ausência de atividades físicas como fatores propulsores. A obesidade está relacionada a 13 tipos dessa doença. Para ele, o ideal é promover mudança cultural alimentar desde a infância.

 

Em Corumbá, a Unidade de Alta Complexidade em Oncologia (UNACON) trabalha na prevenção a esta doença realizando atividades conjuntas com a Rede Feminina de Combate ao Câncer por meio de palestras e campanhas. Junto ao Município, desenvolve ações intensas no fim do ano com o Outubro Rosa e o Novembro Azul. Além disso, há grande demanda de colégios e igrejas por palestras e orientações, geralmente naqueles dois meses do ano. A equipe da UNACON realiza reuniões continuadas e publica artigos acadêmicos com certa frequência. O trabalho de prevenção ao câncer gira em torno necessariamente da difusão de informações.

 

Dr. Godoy, oncologista clínico, é o responsável técnico pela UNACON em Corumbá. (Foto: Renê Marcio Carneiro)

 

Como funciona a UNACON em Corumbá


As Unidades de Alta Complexidade em Oncologia (UNACON) são vinculadas ao SUS e realizam tratamento oncológico no Brasil. São unidades hospitalares que dispõem de todos os recursos humanos e tecnológicos necessários à assistência integral do paciente com câncer, desde o diagnóstico do caso, assistência ambulatorial e hospitalar, atendimento de emergências oncológicas e cuidados paliativos. Nas UNACON é oferecido tratamento para os casos mais prevalentes de câncer no Brasil.

 

De acordo com o Dr. Antonio Godoy, responsável técnico da UNACON em Corumbá, a fila de espera para tratamento nessa unidade de saúde nunca ultrapassou uma semana. Conforme ele, quando há caso suspeito de câncer nas Unidades Básicas de Saúde, o paciente já é atendido pela oncologia, dinâmica já muito bem estabelecida no Município. Quando assumiu a UNACON, em março de 2017, durante a primeira semana de trabalho, a equipe realizou protocolo de encaminhamento com todos os critérios para o paciente poder ser encaminhado das UBS à UNACON. Todos os médicos da rede básica de saúde do Município devem ter conhecimento desse protocolo.

 

Embora o trajeto natural para a UNACON seja via encaminhamento, se o paciente chegar à unidade com exames complementares em mãos, como ultrassom, tomografia, raio x com alta suspeição para doença oncológica, logo é marcada consulta para ele ser atendido na oncologia. “A gente não vai comprometer esse paciente só porque ele não foi encaminhado”, afirmou Dr. Godoy.

 

Outro tipo de paciente que é atendido imediatamente, independente dele ser encaminhado ou não, é aquele que chega com biópsia confirmatória. Em outros casos, quando a pessoa acha que tem câncer, mas não fez exames complementares, ela é orientada a ir à Unidade Básica de Saúde para iniciar o processo.  “A via original e adequada é o paciente ser encaminhado pela rede de saúde com biópsia confirmatória ou exame clínico com alta suspeição oncológica”, frisou o médico.

 

“Quando uma pessoa tem suspeita que algo está errado com a saúde, ela precisa ser atendida primeiro pelo clínico geral ou médico da família na Unidade Básica de Saúde. O médico vai realizar exames e se o diagnóstico apresentar alguma lesão suspeita, o paciente é encaminhado à oncologia. Esse é o caminho certo e mais comum de atendimento na UNACON”, completou Dr. Godoy.

 

Além dele, faz parte da equipe o Dr. Willer Fontanelli da Silveira, cirurgião oncológico, e outros profissionais. A Prefeitura de Corumbá cede dois urologistas que auxiliam nessa especialidade médica. Há também duas enfermeiras, duas técnicas de enfermagem, farmacêutica, assistente social, psicóloga, fisioterapeuta e duas nutricionistas e duas funcionárias do setor administrativo. Os dois médicos integram a equipe desde março de 2017 e residem, desde então, na cidade.

 

Dentro da UNACON há exames que precisam ser feitos com os pacientes como, por exemplo, ultrassom, raio x, tomografia e exames mais modernos, realizados em Campo Grande, como ressonância e cintilografia óssea. Eles servem para confirmação de diagnóstico, estadiar a doença (avaliar grau de disseminação) e fazer o segmento do tratamento. Dr. Godoy lembrou que, como não há público suficiente para se ter aparelho para radioterapia em Corumbá, pacientes que necessitam desse tratamento são encaminhados à Capital.

 

Parte da equipe da UNACON que conta com profissionais da saúde, assistência social, psicologia e do setor administrativo. (Foto: Renê Marcio Carneiro)

 

Outra observação que o Dr. Godoy faz é que a UNACON trata de cânceres sólidos, não estando apta a tratar pacientes oncohematológicos (tumores malignos no sangue e gânglios). Outro detalhe é que a unidade atende a pacientes a partir dos 14 anos, não sendo especializada em oncopediatria. Crianças com câncer continuam sendo encaminhadas a Campo Grande.

 

Para o médico, a estrutura que há na oncologia em Corumbá é robusta o suficiente para atender a população da região. “Teoricamente, a UNACON tem que dar conta de população de até 500 mil habitantes. Aqui, juntando a população de Ladário, Corumbá e bolivianos temos cerca de 150 mil habitantes, então é o suficiente”, afirmou Dr. Godoy. Ele disse também que o número de leitos para o setor é o satisfatório, mas ressalva a necessidade de uma enfermaria específica para oncologia.

 

O serviço oncológico em Corumbá teve início em 2006 e por oito anos foi financiado pelo Município. Depois, foi regulamentado para entrar na linha de atendimento vinculado ao Ministério da Saúde em que há repasse do Governo Federal para atendimento nos municípios de até 500 mil habitantes, transformando o serviço em UNACON. Atualmente, em Corumbá, são realizadas entre 240 e 260 consultas mensais, além dos encaixes relacionados ao atendimento global.

 

Melhor para o paciente e para a família


“Só ouvimos situações positivas em relação ao serviço da UNACON”, assegurou o Dr. Rogério Leite, secretário municipal de Saúde. De acordo com ele, o fato de dois oncologistas estarem residindo em Corumbá há um ano tem resultado em grande melhoria no setor de oncologia. Antigamente, os médicos passavam cerca de três dias na cidade e nos demais dias da semana os pacientes eram acompanhados por outros especialistas. Isso, além de não favorecer o vínculo com o paciente e família, aumentava a fila de espera para consultas e exames.

 

“Pensando nisso, logo que assumimos a Secretaria, conversamos com as três empresas que estavam vinculadas ao processo da UNACON para ver a possibilidade de os médicos residirem em Corumbá. Com isso, queríamos estabelecer vínculo maior do serviço com a comunidade e também oferecer melhor assistência a esses pacientes e suas famílias. Pretendíamos estabelecer uma base de serviço que a gente pudesse ter um clínico oncologista e um cirurgião oncologista residentes na cidade para atender às demandas”, afirmou Rogério Leite.

 

Ele contou que depois do diálogo com as empresas, não houve interesse por parte de nenhuma para que os oncologistas fixassem residência em Corumbá. “Os oncologistas que aceitaram viver aqui, aceitaram todas as condições que colocamos para todas as empresas em questão. Essa necessidade de médicos residindo aqui foi colocada inicialmente e não houve interesse das empresas, mas esses dois profissionais entenderam que isso seria muito bom para a cidade e para a carreira deles. Os oncologistas estão realizando, desde março de 2017, um excelente trabalho”, frisou o secretário.

 

Conforme ele, a dinâmica do serviço mudou totalmente e a relação médico-paciente e família-equipe ficou muito melhor, o que tem possibilitado que o paciente se sinta mais acolhido. A consequência é que o paciente está se sentindo mais seguro e acolhido no tratamento, e psicologicamente é melhor tanto para ele quanto para a sua família a adesão ao tratamento, em um período tão difícil da vida.

 

Unidade conta com farmácia adequada para tratamentos específicos para cada tipo de câncer. (Foto: Renê Marcio Carneiro)

 

“A gente fica muito feliz com isso, principalmente por termos as cirurgias oncológicas sendo feitas semanalmente. Aumentou bastante nossa produção. Antigamente tínhamos fila de espera, hoje não temos mais. O benefício desses médicos em estarem morando aqui, já nos mostra que estamos no caminho certo, principalmente no que tange hoje o processo de descentralização e regionalização em saúde”, disse Rogério Leite.

 

Segundo ele, a população percebeu a grandeza dessa mudança e o crescimento do serviço. “Nada mais justo que a gente entre em entendimento com a União e o Estado, e requisite para Corumbá, agora com a possibilidade da faculdade de medicina, e com a reforma e ampliação do pronto-socorro e maternidade e aumento de leitos no hospital, a chegada do serviço de radioterapia para compor todo o tratamento de oncologia que nosso munícipe necessite dentro de Corumbá”, finalizou o secretário municipal de Saúde.

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