O modo de fazer da viola de cocho, registrado como patrimônio imaterial pelo Ministério da Cultura, conta em Ladário com uma referência: o mestre artesão Sebastião Brandão, de 73 anos, que também é cururueiro, produz a viola, canta e toca, além de ministrar oficinas no galpão de sua casa.
Seu Sebastião era um dos mais “jovens” no grupo de seis cantadores violeiros no Encontro de Cururueiros de Corumbá e Ladário, pelo Festival América do Sul Pantanal, na manhã deste domingo, 27, no Santuário Nossa Senhora Auxiliadora, igreja que fica diante da Praça Independência em Corumbá.
Seu João Damásio, de 86 anos, cuiabano radicado em Ladário, levou a esposa Catarina Ramos, de 75. “Estamos juntos há 56 anos, com oito filhos, quase todos em Ladário”, contou Catarina. “Fico feliz toda vez que vejo meu velho tocar e cantar desse jeito”.
A ausência do seu Agripino Soares, pioneiro da viola de cocho em Corumbá, foi logo notada, mas explica-se: aos 99 anos – em junho ele vai completar o centenário – ele está com dificuldades de se locomover, e prefere se preservar em casa.
Selecionado como mestre pelo Prêmio Culturas Populares do Ministério da Cultura, o nome de Agripino se confunde com a própria historia da viola de cocho no Pantanal. Graças principalmente ao cururueiro nascido em Várzea Grande, no Mato Grosso, o instrumento confeccionado artesanalmente está registrado desde 2005 como patrimônio imaterial no Livro de Saberes do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Do encontro participaram três cururueiros ladarenses – José Cabral, José Damásio e Sebastião Brandão – e três corumbaenses – Virgilio Antonio da Costa, João Moura e Otávio da Silva.
Apesar das condições desfavoráveis de acústica da igreja que impossibilitava ouvir com clareza os versos dos cururueiros, o toque das violas de cocho – agora ligadas a um amplificador – ressoou pelo santuário. Em seguida à apresentação, os cururueiros ainda deram uma “canja” ali em frente, na Praça Independência.
Estavam um tanto cansados, é verdade: no sábado participaram da Rota Cultural no Balanço do Rio Paraguai, fazendo um percurso de barco entre Corumbá e Ladário enquanto tocavam a viola de cocho. “É um privilégio poder vê-los bem de perto nessa atmosfera”, reagiu Décio Badari, paulista de Joanópolis, que veio especialmente para acompanhar o FASP.
Oficina de viola de cocho
A oficina de viola de cocho de Sebastião Brandão, na rua Afonso Pena, bairro Almirante Tamandaré, em Ladário, tornou-se referência cultural e histórica do Centro-Oeste. Pantaneiro nascido na região do Castelo, em Corumbá, na oficina ele ensina como confeccionar a autêntica viola de cocho, artesanato que aprendeu com seu pai e os indígenas guatós, conhecidos canoeiros do Pantanal que fabricam canoas com troncos de árvores – as chamadas canoas de um pau só – e hoje ainda habitam a ilha de Insua no norte do Pantanal, divisa com Mato Grosso.
A viola de cocho é um dos componentes que embalam as rodas de cururu e do siriri, ritmos tradicionais da região. O mestre artesão e cururueiro ensinou os filhos e netos a construir a viola. Hoje, em um pequeno galpão no quintal de casa, ele instrui jovens entre 18 e 29 anos a fabricar o instrumento. A oficina de confecção de viola de cocho faz parte do Microprojeto Pantanal, viabilizado por meio da Funarte.
Orquestra de Viola Caipira
A Orquestra Corumbaense de Viola Caipira do Sesc se apresentou em seguida no Santuário Nossa Senhora Auxiliadora, dentro da programação matutina deste domingo no Festival América do Sul Pantanal.
A orquestra, que contou nesta apresentação com dez instrumentistas com idades que variavam dos 14 aos 57 anos, como representantes do grupo do Sesc, tem por objetivos estimular e incentivar o gosto pela música nacional, com foco tanto no resgate da música caipira tradicional, de raiz, como na valorização da música regional de Mato Grosso do Sul. As informações são da Assessoria de Comunicação FASP.