Em edição histórica, o Festival América do Sul Pantanal (Fasp) contou com mais de 200 atrações e reuniu milhares de pessoas para assistir performances artísticas, sessões de cinema, espetáculos de dança, teatro e circo, exposições e participar de seminários, palestras, debates, oficinas e muito mais. A 14ª edição do Fasp aconteceu de 21 a 27 de maio de 2018 nas cidades sul-mato-grossenses de Corumbá e Ladário e nas bolivianas Puerto Quijarro e Puerto Suárez. Segundo a organização, cerca de 60 mil espectadores prestigiaram as atividades do Festival, superando as edições de 2015 e 2016, que tiveram, respectivamente, um público de 40 mil e 35 mil espectadores.
De acordo com a Polícia Militar, somente o Palco Integração, localizado na praça Generoso Ponce, em Corumbá, obteve a presença de 45 mil espectadores para assistir aos shows de Fábio Kaida, Martinho da Vila, Bro MCs, Criolo, Puerto Candelária, Daniela Mercury, Tostão, Guarany & Aurélio Miranda e a cantora Roberta Miranda. Outro indício de que a edição do Festival foi sucesso de público é que os hotéis e hostels de Corumbá tiveram lotação máxima durante todos os dias.
O secretário de Cultura e Cidadania de Mato Grosso do Sul, Athayde Nery, comemora o grande público que prestigiou o Festival. “Esta 14ª edição foi construída a partir das sugestões feitas em audiência pública e acabou gerando momentos inesquecíveis. Foi um Festival de celebração à vida. Além dos shows com artistas sensacionais, tivemos discussões importantes. Foram debates ligados diretamente ao nosso propósito de refletir sobre o tema Cultura e Cidadania Sem Fronteiras e pensar em valores como o respeito, a democracia e a paz, fundamentos que nortearam a programação deste festival”, frisa.
Para o diretor-presidente da Fundação da Cultura e do Patrimônio Histórico de Corumbá, Joílson Cruz, o Fasp atingiu um novo patamar com o formato deste ano. “O festival trouxe contribuições importantes em 2018. As oficinas e debates mostraram que a cultura pode ser exercida de diversas maneiras e o público se integrou à programação. Estamos deixando de lado essa impressão de que o festival são apenas os shows, mas todas as atividades que acontecem nesses dias”, aponta Joílson. O diretor-presidente ressalta que a discussão de temas ligados às questões LGBT e das mulheres negras, por exemplo, atingiu diversos segmentos da sociedade de Corumbá e que, após o encerramento do Festival, vários grupos da cidade já estavam mobilizados para dar continuidade às pautas levantadas.
Marcelo Iunes, prefeito de Corumbá, afirma que o Fasp tornou-se um dos momentos mais importantes do calendário cultural corumbaense, junto ao Carnaval e ao Banho de São João. “A cidade ganha vida e a população vive um momento de celebração que é único a cada ano”.
Espaço para debate
Um dos pontos temáticos do Festival, em 2018, foi pensar a cultura e a cidadania para além das fronteiras. A presença de nomes como Fernando Griffith, ministro de Cultura do Paraguai, e Jorge Melguizo, ex-secretário de Cultura e Cidadania e de Desenvolvimento Social de Medellín, na Colômbia, destacaram o caráter de espaço para o diálogo internacional do Fasp.
“O Festival cumpre um papel importante na integração da América do Sul, isso foi algo central no que pude ver neste ano. Existem, claramente, desafios históricos a serem superados, mas esforços como esse, que tem a cultura como epicentro, demonstram o poder de transformação social que a arte oferece”, comenta Melguizo, que acompanhou a programação, palestrou sobre a transformação que a cultura trouxe para Medellín e também participou do seminário Cultura e Cidadania.
Música Multicultural
A programação do Festival América do Sul Pantanal destacou artistas importantes da música regional, nacional e internacional nos palcos Rio Paraguai e Integração. No primeiro, apresentaram-se Marcos Assunção, O Santo Chico, Dami Baz, de Mato Grosso do Sul, além de Del Pueblo Del Barrio, do Peru, e Rolando Chaparro do Paraguai. Também foi o palco onde aconteceram as festas que animaram a madrugada de quem estava em Corumbá. No domingo, a programação foi encerrada com uma batalha de rap, a Batalha do Porto, evento já tradicional da cidade, e o som do Vamo Apelá Sistema de Som.
O Festival de Curimba ainda mostrou ao público os sons e a força das religiões de matrizes africanas, são cerca de 400 terreiros na cidade. Por sua vez, o Palco Integração foi o local que reuniu o grande público do Fasp. A festa foi aberta com a harpa de Fábio Kaida, dono de um longo cabelo impossível de não notar, e no ritmo cadenciado de Martinho da Vila que, todo de branco, iniciou sozinho o show recheado de sucessos. Comemorando seus 80 anos, foi ovacionado pelo público.
No outro dia, foi Criolo (pedido em audiência pública) que comandou uma plateia repleta de jovens cantando junto a maioria das músicas. O rapper paulistano não deixou de repetir que só por meio do amor a verdadeira mudança poderia acontecer, que se frustrou quem esperava que houvesse violência em seu show e que a integração proposta pelo festival com os países vizinhos não deveria ser apenas nos dias do evento, mas o ano inteiro. O público já estava embalado pelo desempenho perfeito do Bro MCs, rappers indígenas de Dourados que retrata em suas letras as mazelas e os vários problemas enfrentados pela comunidade indígena em Mato Grosso do Sul.
No terceiro dia do Fasp, foi a vez de Daniela Mercury fazer a cidade toda cantar em um show que ultrapassou duas horas de duração. Antes, os colombianos do Puerto Candelária esquentaram o público, colocando todo mundo para dançar ao som de sua cumbia rebelde. No domingo, último dia de festival, o sertanejo raiz tomou conta da praça Generoso Ponce. Primeiro com o encontro memorável da dupla Tostão e Guarany com o violeiro Aurélio Miranda. Na sequência, o público formado por muitos casais e senhoras que cantaram em coro a maioria das músicas de uma visivelmente empolgada Roberta Miranda.
Maratona Cultural
Com a presença de artistas de 10 países sul-americanos, o Fasp 2018 contou com mais de 17 horas diárias de programação gratuita, com ações iniciando-se às 7h30 e encerrando-se madrugada adentro. As duas festas no palco Rio Paraguai, no Porto Geral, empolgaram o público quase até o amanhecer e ofereceram de diversão ao som de música eletrônica com DJs de destaque, na sexta-feira, e com a tradição do samba e dos grandes sambistas corumbaenses, no sábado.
Mais de 15 locais receberam atrações do festival. As praças de Corumbá foram movimentadas com espetáculos cênicos e os bairros do município também receberam ações, com a circulação da biblioteca itinerante do Sesc, teatro de bonecos com Lício de Castro e o espetáculo Kombinado do ator Anderson Lima, além do show de Xaras Gabriel de Dubmistah. Outras atividades, como o passeio de barco na Rota Cultural contou com a tradição dos cururueiros de Ladário e Corumbá e a encenação do grupo teatro ladarense Tesouro Pantaneiro. Teatro e dança, além do circo, ocuparam espaço de destaque no Festival América do Sul Pantanal 2018, com apresentações em palcos espalhados pela cidade.
Mais de 10 pontos divididos entre Corumbá, Ladário, Puerto Suárez e Puerto Quijarro receberam apresentações de grupos de MS, SP, RN, SE, assim como dos internacionais vindos da Colômbia, Bolívia e Argentina. No Circo da Cultura e Cidadania houve a presença de mais de 500 alunos no período da manhã com apresentações artísticas com temas nos países da América do Sul. Já à tarde o público conferiu, pela primeira vez no Brasil, o espetáculo “Circus” dos colombianos do Circo Medellín, comandado pelo experiente Carlos Alvarez.
Para todos os olhos
As artes visuais e o cinema foram destaque na programação do Fasp. Locais como a Casa Beneficência Portuguesa, o Centro de Convenções Miguel Gomes, o Moinho Cultural, entre outros, receberam obras de inúmeros artistas de Mato Grosso do Sul e do acervo do Museu de Arte Contemporânea (Marco). Também se pode apreciar trabalhos de nomes como Ejti Stih, Alfredo Muller e Adolfo Torrico, artistas bolivianos de Santa Cruz de La Sierra. Dois artistas visuais de Corumbá, Jonir Figueiredo e Rubén Darío, apresentaram exposições individuais. Outro destaque foi o casal de grafiteiros chilenos Tikai e Aner, que criou dois grandes murais em Ladário e Corumbá.
O Festival ainda contou com encontros voltados para o Patrimônio Histórico e Cultural e estandes com artigos sul-americanos e de várias entidades, como dos projetos Instituto Sangue Bom e Fraternidade Sem Fronteiras. A presença de indígenas da etnia guató, assim como uma programação intensa realizada na Tenda dos Saberes Indígenas, chamou a atenção do público. O festival contou com a presença do projeto Rede Solidária, que além de trazer alunos de dança e música para se apresentarem na Praça do CEU, também ofereceu oficinas variadas para a comunidade corumbaense.
O cinema também abriu espaço para produções sul-americanas importantes. Muitas delas inéditas em Mato Grosso do Sul, como foi o caso de “Zama”, da argentina Lucrécia Martel, e o brasileiro “Corpo Elétrico”, de Marcelo Caetano. Outro destaque foi a exibição de “Uma Mulher Fantástica”, filme chileno dirigido por Sebastián Lelio que venceu o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro neste ano. A programação de cinema começou na segunda-feira, antes da abertura oficial do Fasp. Além dos destaques nacionais e internacionais, a programação contou com exibições de produções sul-mato-grossenses com sessões em Ladário e no Centro Artes e Esportes Unificado (CEU).
Houve atividades nas três comunidades quilombolas de Corumbá, assim como o seminário “Itan Otito Wa – Nossa Verdadeira História” em que se discutiu a influência da cultura afrodescendente e políticas públicas voltadas para a comunidade negra. A Subsecretaria de Políticas Públicas LGBT, dirigida por Frank Rossatte, formulou a Carta Fronteiras LGBT durante o Festival, documento que foi entregue em mãos à cantora Daniella Mercury e que apresenta propostas de ações estratégicas de apoio a comunidade LGBT.
No sábado aconteceu a roda de conversa “Acessibilidade Cultural” com professores, acadêmicos e a comunidade em geral. O Fasp contou em várias atividades, como no show de Martinho da Vila, no circuito de contação de histórias, no Quebra-Torto com Letras e nos seminários, a presença de tradutor e intérprete da Língua Brasileira de Sinais (para pessoas com deficiência auditiva) e em outras a audiodescrição (para pessoas com deficiência visual).
O Festival América do Sul Pantanal é uma realização do Governo de Mato Grosso do Sul, por meio da Secretaria de Cultura e Cidadania (SECC), Fundação de Cultura de MS e da prefeitura de Corumbá. Secretaria de Estado de Cultura e Cidadania (SECC)