Há quase três décadas a senhora Joana Batista, 44, vive na região da Barra do São Lourenço, área localizada na parte alta do Pantanal sul-mato-grossense, aproximadamente 210 quilômetros, via Rio Paraguai, da área urbana de Corumbá. Assim como as 22 famílias que residem no local, ela sobrevive basicamente da pesca e do plantio de pequenas culturas.
“Não é uma vida fácil, mas é a que a gente tem. E ninguém quer sair para vir para a cidade, mesmo com as dificuldades que sempre encontramos”, relatou Joana. A preocupação mais recente enfrentada pela centenária comunidade é a iminente ampliação do Parque Nacional do Pantanal, que, se efetivada, diminuiria ainda mais a área de pesca dos ribeirinhos.
“Agora a decoada está bem na nossa região. A água limpa está pra cima, no Parque, mas não podemos entrar lá para pescar e nem pegar isca. Acabamos não tendo como nos sustentar ali. Além disso, o rio está cheio e cobriu praticamente todo o aterro”, narrou Alexandre Marques, 34 anos, nascido e criado na Barra do São Lourenço.
Alexandre, Joana e outros moradores da região participaram nessa terça-feira, 8 de maio, de uma reunião com o prefeito Marcelo Iunes, o diretor da ONG Ecoa, André Luiz Siqueira, e os vereadores Evander Vendramini, presidente do Legislativo, André Fernandes, Manoel Rodrigues, Roberto Façanha, Yussef Salla, Cristóvão Contador, Chicão Vianna, Irailton Santana (Baianinho), Gabriel Alves e Ubiratan Filho (Bira).
O subsecretário de Desenvolvimento Econômico e Sustentável e presidente do Sindicato Rural de Corumbá, Luciano Leite, e a diretora-presidente da Fundação de Meio Ambiente do Pantanal, Ana Cláudia Moreira Boabaid, também participaram da audiência, realizada na Câmara de Vereadores.
“Estamos à disposição para encontrarmos a melhor solução para todos. Essa é uma comunidade tradicional de nossa cidade e merece ser respeitada. Estamos aqui para trabalhar não só pela região urbana, mas também pelas pessoas que vivem na área rural e ribeirinha”, comentou o prefeito Marcelo Iunes, que sugeriu a criação de um distrito no local.
“Isso garantiria o respeito a área que vocês precisam para continuar vivendo lá. Vamos estudar com a Câmara para vermos a possibilidade de concretizar isso”, completou o prefeito de Corumbá, reiterando que seu objetivo é a solução definitiva para os ribeirinhos do Alto Pantanal, comunidade que já é atendida pela Prefeitura por meio do Programa Social Povo das Águas.
Ana Cláudia Boabaid lembrou que o plano de manejo do Parque Nacional está sendo revisto pelas autoridades competentes de modo que atenda aos povos tradicionais do entorno. “Nós da Prefeitura sabemos que onde vocês estão atualmente não tem mais condições de abrigá-los. Estamos participando ativamente desse processo para que vocês possam viver na região com mais dignidade”, afirmou a diretora-presidente da Fundação de Meio Ambiente.
O diretor da Ecoa, por sua vez, sugeriu a criação de uma Reserva de Desenvolvimento Sustentável. André Siqueira observou que a comunidade da Barra do São Lourenço foi, ao longo dos anos, cercada pelas RPPNs (Reserva Particular do Patrimônio Natural) e pelo Parque Nacional, o que diminuiu a área de pesca dos ribeirinhos.
“Essa é só uma sugestão. Nosso objetivo não é criar reservas, mas sim viabilizar a continuidade dessa comunidade tradicional no Pantanal”, reformou o representante da ONG, lembrando que muitas famílias da Barra já se mudaram para o aterro do Binéga, um aterro artificial construído na região na década de 50.
O vereador André Fernandes destacou a iniciativa e a participação ativa de todo o Poder Público. “Estamos marcando o início de uma discussão que envolve a Prefeitura, Câmara, Ministério Público, Sindicato Rural e moradores. Vamos fazer as coisas com cuidado e consciência para encontrarmos a melhor alternativa para a cidade e pera os ribeirinhos”, enfatizou.
“Essa casa está aberta para buscar uma solução rápida e que valorize o turismo, a pecuária e essa comunidade que vive ali há mais de cem anos”, complementou o vereador Manoel Rodrigues. Para dona Joana, a agenda foi muito produtiva. “É algo que a gente nem esperava. Vir aqui, conversar com o prefeito, vereadores e explicarmos nossa situação. Isso deixa a gente muito confiante”, concluiu a ribeirinha.