Um dos redutos de episódios mais marcantes da história de Mato Grosso do Sul, a localidade de Forte Coimbra, distante cerca de 100 quilômetros da área urbana de Corumbá, completa neste domingo, 13 de setembro, 240 anos de fundação. De acordo com o pesquisador Raul Silveira de Mello, o primitivo Forte Coimbra foi oficialmente fundado em 13 de setembro de1775, embora a decisão de estabelecê-lo tenha sido tomada muito antes, no contexto da assinatura e das demarcações decorrentes do Tratado de Madri (1750).
O local histórico rodeado pela natureza é um daqueles pedaços de chão onde o tempo parece andar mais devagar, onde as pessoas se conhecem por apelidos e através de toda a linhagem de ascendentes, onde as ruas de areia levam a poucos comércios e às poucas opções de lazer, porém ocupando espaço importante no centro está a capela que guarda a imagem da santa cultuada há séculos desde que se atribuiu a ela fatos milagrosos envolvendo confrontos no século XIX.
Credita-se à santa, milagres durante batalhas ocorridos contra espanhóis e paraguaios, em 1801 e 1864. Conta a história, que Nossa Senhora do Carmo livrou a guarnição militar do forte (110 homens, cinco canoas e três canhões) de um massacre no dia 17 de setembro de 1801, quando um exército espanhol (600 homens, navios e 30 canhões) tinha ordem de ocupar o lugar na disputa pelo território com Portugal.
Após nove dias de batalha, os espanhóis venceram, mas se retiraram do local ao verem a imagem da santa na entrada do forte. Desde então, a imagem passou a ser referenciada pela população local, que acredita em milagres.
O outro episódio conta que o ditador paraguaio Solano Lopez queria conquistar uma saída para o mar e para isso objetivou conseguir terras em três países: Brasil, Argentina e Uruguai. O antigo Estado de Mato Grosso estava nesse caminho e por isso sofreu investiduras das forças paraguaias. No dia 28 de dezembro de 1864, tropa paraguaia com 3,2 mil homens, 41 canhões, 11 navios e farta munição cercou o forte. Os brasileiros (149 homens) resistiram até o segundo dia, quando um soldado exibiu a imagem da santa a pedido da esposa do comandante do Forte, Ludovina Portocarrero, e os inimigos suspenderam o fogo, permitindo a fuga dos sobreviventes.
A mesma imagem, trazida pelo construtor e depois comandante do forte, Ricardo Franco, é venerada desde então, como a “Rainha da Paz”. Ela encontra-se na capela da vila, onde recebe as honras militares. As joias, fotos, dinheiro e condecorações junto a seu manto representam graças recebidas. No dia da festa, 16 de julho, a imagem é carregada por uma guarda real com vestimentas de gala da época do Império durante a procissão, que segue da capela para a vila militar e termina no Rio Paraguai.
Muitas são as graças atribuídas à santa que também se acredita que confira poderes milagrosos às águas do interior da gruta Ricardo Franco, onde uma estalagmite é observada como a figura da santa. Apesar de a Ciência considerar as águas cristalinas como contaminadas pelas fezes dos morcegos que nela habitam, a população crê que resida poderes milagrosos no líquido.
A fortificação foi tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) 200 anos após sua fundação. As dependências do monumento sediam atualmente a 3ª Companhia de Fronteira – Forte Coimbra, subordinada à 18ª Brigada de Infantaria de Fronteira do Exército brasileiro. Esta unidade recebeu, em 2002, a denominação histórica de Companhia Portocarrero. No Forte, também há um monumento que guarda os restos mortais do coronel Ricardo Franco de Almeida Serra.