Evento reafirma papel de Corumbá no fortalecimento da identidade negra

Reunindo capoeiristas das cidades de Sonora, Pedro Gomes, Campo Grande, Jardim, Aquidauana, Anastácia, Miranda, Ladário e Corumbá, além do município mato-grossense de Ouro Branco do Sul, a quarta edição do Escambo Cultural teve início na noite desta sexta-feira, 08 de agosto, em Corumbá, onde a presença do renomado mestre Reinaldo Ramos Suassuna abrilhanta o evento realizado pelo Cordão de Ouro de Mato Grosso do Sul, com apoio da Prefeitura Municipal, por meio da Secretaria de Assistência Social e Cidadania.

 

O Escambo é um encontro pedagógico com apresentações culturais, além de conscientização de temáticas raciais e Salvaguarda da Capoeira no Estado. Com inúmeras atividades, o evento segue durante todo esse sábado, 09, em três espaços culturais da cidade: Moinho Cultural, no MUHPAN e no Iphan.

 

“Esse evento vem reafirmar o que a própria história diz que é a verdade, que é o sentimento. Nós acreditamos no saber de cada um, independente de sua formação acadêmica. Resgatar as raízes, valorizar a cultura vem fortalecer qualquer manifesta cultural, especialmente esse que vem falando das culturas de matrizes africanas”, disse Romilda Neto Pizani, coordenadora do Fórum Estadual das entidades do Movimento Negro de MS e presidente do Conselho Estadual de Direitos do Negro.

 

Ela avaliou que ainda hoje há uma “grande luta pela inserção do negro em vários setores da sociedade e, através da cultura, são encontrados alguns dos caminhos para mudar isso”.  Pizani ainda comentou sobre o papel de Corumbá dentro do Estado em ações para o fortalecimento das causas do povo negro.

 

“Corumbá tem o que há de melhor: a população. A essência do Estado também está aqui de uma forma muito arraigada. A atual gestão municipal tem contribuído muito para o fortalecimento da valorização dessa cultura, ou seria, é de fundamental importância que os gestores tenham essa sensibilidade e dê essa oportunidade para que o outro se reconheça, se aproprie e dê continuidade a sua história”, avaliou.

 

Romilda foi uma das representantes do Movimento Negro de MS que participou na tarde da última sexta-feira de um encontro com a prefeita em exercício de Corumbá e diretora-presidente da Fundação de Cultura, Márcia Rolon. O encontro, que contou com a presença do mestre Suassuna e também do subsecretário de Assistência Social e Cidadania, Nilo Corrêa, serviu para o Executivo mostrar a importância que a capoeira possui dentro da atual gestão municipal, bem como apresentar o que Corumbá tem realizado em prol da cultural local, onde o elemento cultural negro é bastante forte.

 

“A capoeira é de fundamental importância dentro das nossas ações, inclusive não se restringindo apenas à parte cultural. Temos a levado para atividades na área da Saúde, da Educação, pois percebermos que ela é bastante atrativa e capaz de promover mudanças positivas no indivíduo. Ouvi dias atrás de um frequentador do CAPS que quando ele tocou o atabaque a cantou numa roda de capoeira, ele teve a percepção de sua existência. Isso é a transformação que a gente quer levar”, afirmou a prefeita.

 

Com 76 anos de idade e divulgador da capoeira em todo o mundo, o mestre Suassuna avaliou de forma bastante positiva a abertura que o Município proporciona para essa arte que já foi bastante discriminada, porém que, hoje, somente através do grupo Cordão de Ouro, atinge quase 180 países com destaque bastante expressivo para Israel, onde há cerca de 6 mil alunos.

 

“O Ariano (Suassuna) – primo do mestre capoeirista – dizia que tinha dó do povo que não cultura sua história, sua cultura. Vejo a capoeira num cenário bastante positivo aqui em Corumbá, quem dera que em todas as cidades fosse assim”, disse o mestre ao falar nos atuais desafios que a capoeira possui em nossa sociedade.

 

“Temos muitas crianças e jovens querendo fazer a capoeira, mas que esbarram na religião dos pais que as impede de frequentar porque há cânticos que falam de algum santo ou orixá, mas a gente vai buscando driblar isso assim como aconteceu com o preconceito contra o capoeirista”, contou Suassuna ao analisar o motivo pelo qual a capoeira fascina tanta gente ao redor do mundo.

 

“A música, a batucada trazem o sentimento do ser humano. A capoeira com seus elementos mexem com as pessoas que, no fundo, são as mesmas em qualquer lugar do globo. Ser capoeirista, antes de tudo, é um estilo de vida, é ter uma postura diante do mundo e nós, na Cordão de Ouro, nos importamos com o que temos como slogan, que é formar uma família, a família da capoeira”, afirmou o mestre que fez uma pausa na gravação de seu mais recente CD e DVD para participar do Escambo Cultural em Corumbá.

 

Depois da passagem pela cidade pantaneira, ele segue para a região Nordeste e, posteriormente, cumprirá eventos agendados nos Estados Unidos e Índia. Ele foi convidado pela prefeita Márcia Rolon a retornar a Corumbá, assim que o prédio do ILA (Instituto Luiz de Albuquerque) passar pelas restaurações do PAC Cidades Históricas.

 

“Convido-o para retornar e conhecer o que será o maior complexo cultural do Estado, com espaço para as diversas manifestações culturais em nosso município, dentre elas, especialmente, a capoeira”, disse.

 

O Escambo Cultural será encerrado no domingo, 10 de agosto, e a programação prevê a partir das 07 horas, café da manhã, batismo e entrega de graduação, além de uma solenidade de encerramento às 10 horas.

 

Agosto é considerado o Mês da Capoeira. O Dia do Capoeirista é celebrado em 3 de agosto e foi criado pela lei estadual de São Paulo 4.649/85. Hoje, a Arte Negra esta em processo de Salvaguarda da Capoeira pelo IPHAN. 

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