O dia 20 de maio tem tudo para entrar para a história das relações bilaterais entre Brasil e Bolívia no que diz respeito à segurança na fronteira. Nesta segunda-feira foi realizado no hotel Jardín del Bibosi, em Puerto Quijarro, um encontro que reuniu um grande número de autoridades civis e militares de ambos os países para tratar de temas comuns de integração econômica e segurança fronteiriça.
Fruto de uma iniciativa pessoal do prefeito de Corumbá, Paulo Duarte, o encontro está sendo considerado inédito por diversos fatores. Um deles é que há, desta vez, o empenho particular do próprio presidente da Bolívia, Evo Morales, que dois meses atrás esteve com o chefe do executivo corumbaense e atendeu com boa vontade e celeridade sua solicitação por um canal de diálogo mais efetivo com os representantes bolivianos afim de tratar do tema específico de segurança fronteiriça. “É uma reunião histórica e está acontecendo apenas dois meses após meu encontro com o presidente Evo Morales. Aliás, tenho certeza de que, não fosse por seu esforço, não haveria a presença maciça de tantas autoridades nesta sala”, elogiou o prefeito Paulo Duarte.
Este, aliás, é o outro fator excepcional do evento: a abordagem local e, ao mesmo tempo, multidisciplinar do encontro, que jamais havia contado com representantes de tantos órgãos de segurança pública federal, civil, militar, rodoviária, autarquias fiscais de ambos os países, além dos prefeitos, alcaides e secretários de todas as quatro cidades diretamente envolvidas, quais sejam Corumbá, Ladário, Puerto Suarez, Puerto Quijarro e da capital Santa Cruz de la Sierra. “Sou prefeito há 1 ano e 4 meses e sempre ouvi falar de problemas fronteiriços. O Brasil é muito grande, com muitos problemas e desafios, não dá pra ficar esperando a solução vir somente de Brasília. Era preciso que a iniciativa partisse de nós mesmos, diretamente afetados com os problemas”, explica o prefeito, que também comemorou a presença de órgãos dedicados ao estudo dos problemas fronteiriços de ambas as partes, como a Agência para o Desenvolvimento das Macrorregiões e Zonas Fronteiriças (ADEMAF), do Ministério de Planejamento e Desenvolvimento do Governo da Bolívia, e o Gabinete de Gestão Integrada de Fronteira (GGI-Fron), da Secretaria de Justiça e Segurança Pública de Mato Grosso do Sul.
Crescimento e segurança
O prefeito Paulo Duarte lembrou que, apesar do aumento do número de problemas de segurança na área de fronteira, o turismo de Corumbá tem sido um grande gerador de desenvolvimento para o setor comercial de Puerto Suarez e Puerto Quijarro. Segundo dados apurados pelo Observatório do Turismo, da Fundação de Turismo, visitantes que passaram por Corumbá deixaram cerca de 25 milhões de dólares nas cidades bolivianas ao longo de 2013. “Esses números são bons, mas poderiam ser ainda melhores se tratássemos a questão da segurança publica de forma conjunta e integrada. As pessoas querem ir para a Bolívia, mas estão com medo. E tudo isso por causa de uma minoria de brasileiros e bolivianos, pois a maioria é de gente honesta e trabalhadora”, disse. “Corumbá não quer crescer sozinha, mas se não trabalharmos em conjunto esse desenvolvimento ficará comprometido e teremos que tomar algumas atitudes. Não existe desenvolvimento sustentável sem segurança”, acrescentou ele que esteve acompanhado com a vice-prefeita Márcia Rolon, que está à frente do grupo de trabalho brasileiro.
Temática e problemática
Entre os temas levantados durante a reunião e eleitos pelas autoridades como assuntos estratégicos dentro da temática segurança fronteiriça estão o crime organizado; delinquência comum; tráfico de pessoas; narcotráfico; trânsito e transporte; contrabando; e problemática de migração.
O coronel Victor Tordoya Echeverria, diretor de Segurança da ADEMAF propôs a criação de uma comissão bilateral multissetorial Brasil-Bolívia com diversas mesas de trabalho que abarquem tópicos específicos de segurança. “Precisamos criar uma dinâmica de trabalho sistematizada, com reuniões periódicas por área de trabalho afim de aprofundar cada tema e propor soluções específicas”, disse o militar, cuja proposta obteve a aprovação de todos.
Outras propostas e temas foram levantados como a realização simultânea de ações militares em ambos os países; maior controle migratório de estrangeiros; mais colaboração das forças policiais das duas partes no cruzamento de dados e informações sobre veículos furtados, controle e fluxo de aeronaves e de pistas clandestinas; intercâmbio de informações judiciais; burocracias e legislações bolivianas e brasileiras; colaboração na apreensão e devolução de veículos roubados em um país desovados no país vizinho, emplacamento. “Queremos que os bolivianos digam `não` aos `maus brasileiros` e os devolvam para que possamos dar o devido encaminhamento”, solicitou o tenente-coronel Joilson Sant’Ana, comandante do 6º Batalhão de Polícia Militar de Corumbá.
À partir da reunião de hoje um documento será gerado e servirá de base para pautar as próximas iniciativas, tarefas e encontros.