Uma dívida estimada em R$ 16 milhões, adquirida pela gestão anterior, inviabiliza o repasse de verbas para a Santa Casa de Corumbá. Por esse motivo, o dinheiro proveniente do amistoso entre Corumbaense e Botafogo, realizado em julho de 2010, e do show da cantora Cláudia Leitte, em fevereiro deste ano, ambas iniciativas promovidas pela Prefeitura de Corumbá para implantar novos serviços e melhorar o atendimento à população, não foram depositados diretamente na conta do hospital.
“Se isso tivesse sido feito, esse dinheiro teria sido sequestrado pela Justiça e repassado aos credores da Santa Casa”, explicou o médico Eduardo Pacheco Lasmar, que responde interinamente pela Junta Interventora responsável pela administração do maior hospital público da região pantaneira. “No último dia 1º de junho, por exemplo, foram sequestrados R$ 0,57 centavos que estavam na conta da instituição. Se esse dinheiro estivesse lá, fatalmente teria sido bloqueado pelos credores”, continuou o médico.
Em janeiro deste ano, um repasse no valor de R$ 330 mil também foi bloqueado pela Justiça por causa de outras dívidas antigas do hospital. A maior parte do dinheiro seria destinada para o setor de Oncologia, credenciado pelo Ministério da Saúde em outubro de 2011. “Fizemos vários contatos, buscamos várias formas, mas até agora não conseguimos fazer com que esse dinheiro fosse devolvido ao hospital”, continuou Lasmar, enfatizando a gravidade da situação.
“Hoje nada pode ser depositado nessa conta. Nem mesmo os repasses do SUS (Sistema Único de Saúde), dos quais cerca de 80% são usados para pagar os funcionários”. Ainda de acordo com o médico, os três depoentes ouvidos nesta segunda-feira (18) na CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito), aberta pela Câmara Municipal para apurar possíveis irregularidades na instituição médica, foram bastante claros quando questionados sobre os repasses do SUS.
“Essas dívidas da gestão anterior foram evidenciadas desde o início da intervenção na Santa Casa. A Prefeitura e a Junta Interventora sempre foram bem claras com relação às dificuldades enfrentadas por causa dessa situação herdada da administração passada. No meu entender, faltou interesse de parte da imprensa em divulgar isso”, completou, se referindo às reportagens veiculadas nesta terça-feira (19).
Com relação ao recurso repassado pela Vale, através de convênio assinado no final de 2011 com a Prefeitura, os R$ 1.780,00 foram utilizados na compra de 334 itens para hospital, conforme especificado em processo licitatório a cargo do Executivo Municipal. Os aparelhos totalizaram um investimento de R$ 1.474.071,00. A diferença (R$ 305.929,00) também será aplicada no hospital. O Executivo, a direção da Santa Casa e a Vale vão definir a melhor forma de investir esse montante.
Pediatria
Eduardo Lasmar, que também responde pela Atenção Básica em Saúde de Corumbá, confirmou ainda que uma antiga dívida com a empresa White Martins, fornecedora de gases industriais, pode levar a Santa Casa a perder o prédio onde atualmente funciona o setor de pediatria. Uma ação que tramita desde 1995 na Justiça cobra mais de R$ 1,4 milhão do hospital. A edificação, onde funcionam 40 leitos, foi avaliada em R$ 1,14 milhão, conforme a carta de penhora recebida pela Junta Interventora.
Segundo o médico, a dívida foi decretada em 2001. “Em 2010, quando foi feita a intervenção pública no Hospital, fizemos um contato com a empresa, mas não houve acordo”, destacando que em várias outras oportunidades a empresa tentou o diálogo com a antiga administração, também sem sucesso. “Não podemos perder esse prédio. Será mais uma dívida de mais de milhão de reais que teremos que assumir”, disse o presidente interino da Junta Interventora.