A imigração de trabalhadores bolivianos para o Brasil e outros países da América Latina e da Europa foi tema de um encontro realizado entre a última quinta-feira (18) e sábado (20), em Puerto Quijarro, na fronteira com Corumbá. O evento envolveu dirigentes sindicais da Central Operaria Boliviana (COB/Bolívia), Central Única dos Trabalhadores (CUT/Brasil) e União Geral dos Trabalhadores (UGT/Espanha). No decorrer dos trabalhos, que tiveram apoio do Ministério de Relação Exteriores do país ibérico, foi discutida uma agenda positiva de trabalho que favoreça a maior integração profissional e educacional na região de fronteira dos dois países.
Esta e a primeira iniciativa de entidades sindicais dos trabalhadores para alinhavar ações conjuntas de lutas e identificar as causas e consequências do fluxo migratório de operários dos distritos e departamentos da faixa de fronteira para cidades brasileiras, principalmente São Paulo – cuja rota principal inclui Corumbá – e outros países, como a Espanha. Só no Brasil, a comunidade de trabalhadores bolivianos já ultrapassa os 500 mil operários, concentrados principalmente nos setores de confecção ou de serviços domésticos. A estimativa de imigração boliviana em todo o mundo, segundo dados extra-oficiais, já supera 2,5 milhões de pessoas.
O desenvolvimento freado, a falta de empregos e de qualificação profissional foram apontados pelos sindicalistas e dirigentes populares bolivianos como a principal causa da imigração. Como exemplo, eles citaram a instalação da Mineradora Mutun, em Puerto Soares, que não amenizou a situação do desemprego na região, pois das 2 mil vagas acordadas pelo grupo indiano com o governo boliviano sobraram aos moradores das províncias da região somente os empregos terceirizados, de baixos salários, pois não foi implantado um plano de capacitação profissional prévia de mão-de-obra.
Os dirigentes reivindicam também a formatação de acordo bilateral que garanta o cumprimento dos direitos trabalhistas e de melhores condições de trabalho aos imigrantes bolivianos que deixam seus países, filhos e familiares em busca de emprego e qualidade de vida no Brasil e na Europa. "Não temos alternativa, ou imigramos ou somos obrigados a ver nossos filhos envolverem-se com narcotráfico para garantir sua sobrevivência", reclama uma dirigente popular boliviana.
Os imigrantes também cobram de ambos os governos, brasileiro e boliviano, a implantação de políticas públicas que levem ao desenvolvimento econômico e social dos departamentos localizados na faixa de fronteira. Umas das alternativas apontadas para o curto prazo seria a celebração de convênios bilaterais que garantam acesso de estudantes bolivianos a cursos técnicos da rede federal de ensino brasileira.
Os sindicalistas bolivianos defendem a aproximação política com sindicalistas brasileiros, principalmente de Mato Grosso do Sul, no sentido de trocar experiências e lutas conjuntas para o cumprimento dos direitos trabalhistas e implantação do sistema de Previdência e Seguridade Social na Bolívia. Eles também destacam, nesse contexto, o fortalecimento da agricultura familiar, melhoria da condições de trabalho no setor mínero-siderúrgico, organização sindical no setor público e investimentos conjuntos em infra-estrutura, com o asfaltamento da La Carretara.
Outra proposta apresentada foi a discussão do modelo de desenvolvimento econômico da região pantaneira e da faixa de fronteira. Nela predominam o comércio informal de produtos importados, o modelo da monocultura da soja na região de Santa Cruz da La Sierra, a concentração fundiária na pecuária extensiva, empregos em atividades primárias como frigorífico e mineração e, mais recentemente, em Mato Grosso do Sul, a produção de cana de açúcar e florestas de eucalipto. Por fim, as centrais sindicais sinalizaram a realização de uma nova rodada de discussões, prevista para outubro, em Santa Cruz, cujo tema será a organização e direitos dos servidores públicos, além das experiências sobre a qualificação profissional e agricultura familiar.