"Nosso compromisso é com o futuro do nosso hospital, que deverá ser orgulho do povo pantaneiro". Com esse lema, os membros da Junta Interventora que administra o Hospital de Caridade de Corumbá iniciaram a audiência pública que apresentou o trabalho realizado nos últimos 14 meses. Passo a passo, foram detalhadas todas as ações promovidas na principal instituição médica da região pantaneira. Uma das conquistas mais celebradas foi a implantação do sistema informatizado, que possibilita o acompanhamento diário dos medicamentos e materiais utilizados no hospital. "Temos o controle efetivo do que é comprado e utilizado. Não há desperdício", afirmou o presidente da Junta, Daniel Martins Costa, secretário municipal de Administração e Finanças.
Este sistema, pioneiro em Mato Grosso do Sul, possibilita também o agendamento e acompanhamento online das cirurgias eletivas. Durante a apresentação, o diretor de gestão, Victor Salomão Paiva, fez uma demonstração de como o instrumento é importante para a Santa Casa. Do Centro de Convenções do Pantanal Miguel Gómez, onde aconteceu o encontro na noite desta terça-feira (02), ele abriu o mapa de ocupação do hospital. A exigência de login, senha e reconhecimento do IP do computador utilizado garantem à ferramenta total segurança contra possíveis invasões. "Qualquer entrada no sistema, sabemos quem foi, em que horas e de onde foi feita a visita", garantiu Victor.
Na simulação de um agendamento de cirurgia, foi possível saber o médico, dia, horário e sala em que o procedimento será realizado. A ocupação de todos os setores também pode ser acompanhada em tempo real. "Agora temos cinco pacientes na UTI, coincidentemente, todos do SUS", demonstrou o diretor. O equipamento possibilita ainda o faturamento (controle geral do paciente, desde sua entrada até a alta, incluindo os medicamentos utilizados) dos prontuários. Este sistema será estendido para o Pronto Socorro Municipal, qualificando e agilizando o serviço prestado a população local.
Outro avanço ressaltado durante a audiência foi a renegociação dos valores repassados pelos planos de saúde ao hospital. "Realizamos reuniões com todos os convênios, nas quais os valores foram atualizados. Antigamente, havia casos em que a Santa Casa acabava pagando um plano para realizar um procedimento", esclareceu Daniel Martins. A padronização das refeições servidas aos pacientes, acompanhantes e funcionários da Santa Casa foi mais um ponto considerado positivo. Antes da intervenção determinada pelo Ministério Público Estadual (MPE), havia diferenciação entre usuários do SUS, de convênios e funcionários. Hoje o cardápio do mês é elaborado por uma nutricionista.
"Sempre houve uma vontade muito grande, por parte do corpo clínico, de que melhorias ocorressem para um atendimento melhor aos munícipes. Mas tínhamos dificuldades de conseguir isso. Com a entrada da Junta Interventora, esse caminhou foi viabilizado", afirmou o médico Marco Antônio Cazzolato, diretor clínico da Santa Casa desde março de 2010. Responsável direto pelos atos médicos realizados na instituição, ele acionou a comissão de ética, por reclamações dos usuários, por seis vezes durante este período. Nos últimos seis anos, o conselho não havia sido acionado nenhuma vez sequer.
"Felizmente todos os processos foram sanados. Mas é importante que eles existam porque isso prova que estamos caminhando para mais melhorias", definiu Cazzolato. Ainda segundo o médico, a intervenção "veio para ficar", já que as mudanças foram salutares. "Vemos as pessoas comentando sobre o hospital com mais apresso e mais credibilidade. Estamos conseguindo atrair de volta antigos colaboradores", completou.
Opinião semelhante é a do médico Manoel João, responsável técnico pela Santa Casa de Corumbá. "Aceitei este desafio porque, como corumbaense, não poderia deixar passar esta oportunidade pela qual sempre lutei. Eu vi três intervenções e nenhuma delas deu em nada. Durante o tempo que estou neste cargo, com esta atual administração, aprendi a confiar no trabalho da Junta", disse. Este relacionamento, segundo ele, foi construído à base de muita conversa e trabalho diário. "Hoje temos materiais e instrumentos funcionando, os médicos vem trabalhar da melhor forma possível e com satisfação. Houve melhoras importantes", completou.
Receitas
"O trabalho de contabilidade e tesouraria vem sendo feito em diversas etapas. Quando chegamos aqui, o setor estava destruído, sem documentos dentro do hospital e diversas outros problemas", detalhou o contador Mário Sérgio Aguiar. Um recadastramento total dos funcionários e o controle das horas extras e faltas foi implementado de imediato. "Hoje temos o controle absoluto de todos os papéis, relatórios, entradas e saídas da Santa Casa", reforçou, observando que a prova disso foi o balanço dos atendimentos realizados no mês de julho.
Na Clínica Médica 01 (ABC 01), foram 34 internações e dois óbitos; na Clínica Médica e Cirurgia (ABC 02), 96 internações com quatro mortes; no ABC 03 foram outros 157 internos, com seis óbitos; na Clínica Cirúrgica (ABC 04) mais 97 internações e dois óbitos; na Pediatria (ABC 05), apenas 20 internações e nenhuma morte; na Maternidade, Ginecologia e Obstetrícia (ABC 06) foram 680 procedimentos, com 191 partos e mais três domiciliares. Foram 186 nascidos vivos e dois natimortos. A Junta Interventora providenciou ainda local adequado para que o Cartório Civil pudesse oferecer certidão de nascimento gratuita a todos os recém nascidos.
No setor de Ortopedia (ABC 07), foram 78 internações em julho, sem mortes. No Centro Cirúrgico, composto por quatro salas, foram 498 cirurgias, sendo 284 eletivas e 214 emergenciais, também sem óbitos. No CTI, foram 45 internações e 14 mortes, com tempo médio de internação de 2 a 14 dias. Entre os 84 profissionais da área de saúde, são sete anestesistas, 11 pediatras, 18 ginecologistas obstetras, oito cirurgiões gerais, um nefrologista, seis ortopedistas, um endocrinologista, um cirurgião trauma buco-maxilo facial, três cardiologistas, um cirurgião vascular, quatro urologistas, três otorrinolaringologista, um pneumologista, um cirurgião plástico, um oftalmologista, dois oncologistas, um psiquiatra, uma farmacêutica bio-química, uma fonoaudióloga, um gastroenterologista e 13 clínicos gerais.
Hoje a Santa Casa de Corumbá têm plantonistas em todos os horários. O setor de compras tem um processo formalizado para aquisições de medicamentos e materiais hospitalares. Ainda neste mês, ocorre a primeira aquisição na modalidade "Pregão" que será realizada pela equipe da Prefeitura de Corumbá. "A herança recebida impede que tenhamos crédito junto aos fabricantes, com isso somos obrigados a efetuar nossas aquisições junto aos fornecedores, que na maioria das vezes são atacadistas e varejistas", lamentou o administrador Victor Paiva.