A grande noite do Arraial do Banho de São João movimentou a cidade de Corumbá e arrastou uma verdadeira multidão ao Porto Geral, às margens do Rio Paraguai, ponto central da festa marcada pela tradição do banho da imagem do santo nas águas do mais importante rio da bacia pantaneira. Teve também uma programação bastante diversificada, com direito a show da dupla cuiabana Nico e Lau, Amigos do Chamamé, Marinho Azevedo e a dupla Thúlio e Thiago.
A comemoração atravessou a noite e terminou na madrugada desta sexta-feira (24). A estimativa dos organizadores é que a festa tenha movimentado um público de 40 mil pessoas, tanto no Porto Geral, bem como nas mais de 100 celebrações que aconteceram nas casas dos festeiros. Para se ter uma ideia, somente na Fundação de Cultura e Turismo do Pantanal de Corumbá, estão cadastradas 90 famílias e, todas, desceram a Ladeira Cunha e Cruz na noite de quinta-feira e nas primeiras horas desta sexta, para banhar a imagem do santo nas águas do Paraguai.
O ponto alto do Arraial do Banho de São João, como o próprio nome diz, é o ato de banhar o santo nas águas do Rio Paraguai. São momentos em que as ladainhas dão lugar ao batuque, que lembra carnaval, e as pessoas pulam de alegria segurando a vela acesa, descendo o piso de paralelepípedos da Ladeira Cunha e Cruz. A fé e a curiosidade atraem milhares de pessoas à beira do rio. O ritual do "batismo" de São João tem influências portuguesas. Organizado pelas comunidades, com o passar do tempo incorporou o cururu e siriri, ritmo e dança presentes às festas indígenas e africanas.
O primeiro andor a descer a Ladeira foi de Clemilson Medina. Por volta das 19h20, ele e seu grupo se dirigiu às margens do Paraguai, para banhar a imagem do santo, ato seguido por outros festeiros durante mais de cinco horas. Dois andores por sinal, foram saudados pelo show pirotécnico preparado pela Prefeitura, que realiza o Arraial, exatamente à meia noite. É que, neste exato momento, estavam descendo os festeiros comandados por dona Regina Concha, do bairro Universitário, e de Luis Martins, do centro da cidade.
E são os festeiros os principais responsáveis pelo espetáculo. Eles mantêm viva a maior e mais autêntica festa junina do Brasil Central. Este ano, a Prefeitura cadastrou 90 casas de rezas que organizam o ritual. São, na maioria, famílias pobres, que cultuam o santo geralmente por uma graça alcançada. Segundo historiadores, a tradição do Banho de São João foi introduzida na região por volta de 1882. O ato de levar a imagem do santo em procissão ao Porto-Geral, uma das referências históricas da cidade, é movido pelas crendices, superstições e fortes emoções. Dizem os mais antigos que o banho renova as forças do santo e abençoa tudo o que se relaciona água com o homem.
A louvação ao santo tem dois momentos marcantes, durante a procissão pelas ruas da cidade. Ouve-se primeiro a ladainha: "Deus te salve João/Batista sagrado/O teu nascimento/Nos tem alegrado". Logo, a banda imprime um ritmo carnavalesco e o povo pula de alegria, cantando: "Se São João soubesse que hoje era o seu dia/ Descia do céu à terra/Com prazer e alegria".
Durante o banho, o povo entra na água, toca a imagem, se percebe a religiosidade dominante. Aos gritos de "Viva São João", escuta-se batuque da umbanda na beira do rio, anunciando a presença de entidades num grande terreiro. Os pagadores de promessas se ajoelham com emoção e fé fervorosa. O andor retorna para a casa do festeiro, subindo a Ladeira, onde é tradição cumprimentar quem desce, até a madrugada do dia 24.
Entre as mais conhecidas superstições juninas, estão as relativas a casamento. Diz a lenda que mocinhas precisam passar por baixo do andor do santo durante o trajeto, para encontrarem o futuro esposo antes do próximo festejo. E o que se viu ontem, foram filas. Não só de mocinhas, mas também de mocinhos que entraram no clima da festa.