Pelo portão da 13 de Junho, 2 mil alunos avançam
Embora vermelho e estalado à meia altura ao leste do céu, o sol mostra-se ainda tímido pouco antes das 7 horas quando os primeiros alunos, em seus uniformes azuis e leves agasalhos para o friozinho de agosto, começam a apontar na Rua 13 de Junho, em direção ao portão da Escola Estadual Dom Bosco. Entre dois quebra-molas, carros e motos liberam os estudantes, mas a maioria vai chegando mesmo após uma preguiçosa caminhada matinal.
Aos poucos, crianças e jovens de todas as idades, tamanhos e cores se aglomeram em frente à única entrada, onde são alegremente recebidos pela recepcionista de portaria Maria José Nascimento Ramos da Silva, 53 anos, ela mesma ex-aluna da escola. É mais um dia de aula que começa na instituição-mãe do imenso complexo missionário e educacional iniciado há 50 anos pelo padre Ernesto Sassida, a Cidade Dom Bosco.
Enquanto as centenas de alunos percorrem o longo corredor que leva ao prédio principal, Jocimar Valentim Magalhães, 17 anos, permanece estático em frente ao portão. "Para mim, é um privilégio estudar aqui, pela qualidade do ensino, pela aplicação e preocupação dos professores com o nosso futuro", diz o estudante do 3º ano, há três na instituição. Já no corredor, Renaíza Oliveira de Souza Cunha, 15 anos e aluna do 1º ano, completa: "Há um ano e meio, minha mãe fez questão de me colocar aqui, dizendo que seria melhor até mesmo do que uma escola particular, pois os professores têm amor e prazer em ensinam. Agora nem penso em sair".
As duas observações retratam algumas das motivações do fundador da obra quando iniciou, em 1961, a Escola Profissional Alexandre de Castro: preocupação com o futuro, qualidade do ensino e amor ao ensinar. Foi perpetuando esses princípios que a Escola Dom Bosco abriga aproximadamente 2.100 alunos assíduos, conforme o último censo escolar, nos três turnos e nos ensinos fundamental e médio. Logo, eles se juntarão aos mais de 25 mil que já passaram pela instituição ao longo de seus 50 anos.
"É uma instituição diferente por trabalhar no sistema educativo de Dom Bosco, e ainda mais por ter alunos que disputam e exercem a Prefeitura da Cidade Dom Bosco. Ou seja, cada período tem seu prefeito, líderes de classe e grupos de legionários", explica a professora Maria Angélica de Jesus Timóteo Amorim, diretora da escola. Hoje aos 51 anos, ela passou a maior parte deles na instituição, tendo sido aluna por oito anos, desde a 1ª série, e funcionária por quase todo o restante. "Aqui são alunos educando alunos, filosofia de Dom Bosco que foi implantada pelo padre Ernesto há mais de 40 anos. Hoje, apesar da idade, a cada ano ele inova e inventa novos meios de para obter melhores resultados", acrescenta.
Conforme explica o padre Osvaldo Scotti, diretor da Cidade Bosco desde 2001, em nome da Missão Salesiana de Mato Grosso – que assumiu a obra em 1988 -, o fato de o Governo do Estado custear a escola dá à instituição uma tranquilidade financeira essencial à sua existência, enquanto deixa aos salesianos o direito de aplicar a pedagogia de Dom Bosco. "Isso cria originalidade, autonomia, personalidade e, ao mesmo tempo, a despreocupação com o lado econômico, que exigiria muito esforço. Ou seja, o Estado garante a manutenção e zela pelo conteúdo das disciplinas, e deixa-nos a orientação das formações humanas, cívicas, morais e cristãs", explica.
"O ensino é gratuito, mas a educação é salesiana, com ensino religioso e formações mensais, para não deixar morrer essa vivacidade da obra", descreve Maria Angélica, enfatizando que os professores buscam transmitir o amor recebido ao longo dos anos. No entanto, padre Osvaldo ressalta o respeito ao ecumenismo. "Procuramos transmitir valores religiosos comuns a todas as religiões e mesmo para as pessoas sem religião, insistindo no respeito, na justiça, na fraternidade, no amor e demais valores que ajudam na convivência humana", reforça.
"Trabalhar aqui é uma dádiva de Deus", diz a diretora adjunta Rosa Francisca Moraes Almiron, 51 anos, segundo quem a escola surgiu para atender alunos carentes, mas que atualmente comporta todas as classes sociais, pela disciplina, qualidade do ensino e preocupação com todos os aspectos da vida dos alunos. "Estamos sempre atendo à situação social e emocional deles. Quando eles faltam, ligamos, chamamos os pais e, se preciso, vamos até as casas para saber o que ocorre", completa.
Na opinião do professor coordenador Paulo Roberto Rodrigues, 58 anos, 37 dos quais dedicados à Cidade Dom Bosco, o que mais lhe chama a atenção é a importância da instituição para a comunidade no entorno. "Ela deu outra vida, outro ânimo ao então bairro Cidade Jardim, hoje bairro Dom Bosco, transformando-o em um dos melhores e mais populosos de nossa cidade, graças à obra do padre Ernesto". Parte disso é resultado do ambiente de "alegria, harmonia, amizade e união entre professores e alunos, entre os salesianos e a comunidade", conforme a professora de história Arinê Maria Viégas de Pinho, 52 anos, ex-aluna e professora há 26 anos.
"Lembro-me com ternura das falas diárias do padre Ernesto, quando nos prevenia sobre os males do mundo já naqueles tempos, já nos anos 60, alertando sobre a inversão de valores tão visível nos dias de hoje", afirma o advogado Luís José da Silva, XX anos, aluno da Cidade Dom Bosco entre 1961 e 1968. Para ele, mais do que a alfabetização, a instituição ensinou a todos que por ela passaram "os verdadeiros valores, como o perdão e a fé em Deus, no próximo e em nós mesmos".
"Não posso falar da minha vida sem falar de todos os anos que passei na Cidade Dom Bosco, o alicerce do que sou hoje, graças ao que recebi e ao fruto plantado naqueles anos", diz a professora Neide Leones Pereira, 48 anos, técnica pedagógica do Município de Corumbá. Quando criança muito pobre, iniciou os estudos ainda na pré-escola, em 1968, e cresceu na instituição, aprendendo a importância de doar ao outro. "Por isso, é com muita gratidão que falo da dedicação do padre Ernesto aos alunos, da sua relação de carinho e cuidado pelos seus", diz.
Quando olha o resultado do passado e a dimensão do presente de sua obra, já passados os 90 anos de vida e 65 anos de missão no Brasil, padre Ernesto se expressa serenamente: "Sou feliz porque me realizei com o que fiz pelas crianças. Não foi um trabalho em vão". Para ele, mais do que um trabalho frutífero, a única explicação é o que chama de ação direta de Deus em sua vida, tornando-o um instrumento incansável em favor da educação, da solidariedade e, sobretudo, do amor ao próximo.
Do zunido do eletrodo ao tilintar das agulhas
Atrás de luvas e macacões de couro rústico, máscaras e óculos de proteção, garotos de 16 a 18 anos conduzem os eletrodos sobre uma espessa chapa de ferro, produzindo um zunido estridente e uma incandescente mistura de fogo, fumaça e fagulhas. Em um imenso barracão, 100 jovens, divididos em várias turmas práticas e teóricas, aprendem os primeiros passos de uma profissão que chama a atenção tanto pela dificuldade quanto pelas oportunidades de emprego e ótimo retorno financeiro: solda e montagem.
Trata-se de um dos quatro cursos oferecidos pelo Centro Profissional Dom Bosco, peça essencial da Cidade Dom Bosco e versão moderna da Escola Profissional Alexandre de Castro, cujo propósito sempre fora criar perspectivas a crianças e jovens de baixa renda. Ao lado do galpão, mais 95 jovens aprendem a produzir pães, bolos e outros quitutes que vão alimentar parte dos alunos da própria instituição e da Escola Dom Bosco: é o curso de panificação e confeitaria, que se soma à computação (76 alunos) e ao corte e costura (20 alunas, algumas adultas), totalizando 291 aprendizes.
"É uma profissão que admiro, com amplo mercado de trabalho para quem se qualifica", afirma Kelvin Silva de Camargo, 18 anos e iniciante em solda e montagem, que enfatiza: "É apenas o ponto de partida, mas sou grato pela oportunidade de adquirir esse conhecimento, a parir do qual vou continuar evoluindo". Atraído pelo exemplo do tio, soldador profissional, Jonny Marques Ramirez Corrêa, 16 anos e aluno do 9º ano da Escola Dom Bosco, mostra-se determinado: "É um trabalho difícil e pesado, que poucas pessoas têm coragem de encarar, por isso mesmo quero seguir carreira, pois as chances de dar certo são grandes".
Enquanto no galpão tomado pelo cheiro de ferro queimado é total a presença de meninos, nos demais ambientes as meninas formam número bem maior, como na cozinha industrial onde o que toma conta é o aroma de polvilho dos biscoitos recém saídos do forno. "Além de ser uma boa formação para o trabalho, o que aprendemos aqui vai servir para nossos lares no futuro", ressalta Daniele Ariane da Silva Valdez, 17 anos, referindo-se ao curso de panificação e confeitaria. "Com o certificado daqui, será fácil conseguir um emprego", completa Liane Estela Ribas Bobadilha, 15 anos e aluna do 9º ano da Escola Dom Bosco.
Ex-aluno do centro e da escola, Alex Ramão Maldonado, 22 anos, tornou-se instrutor e se diz bastante realizado por ajudar a formar pessoas na área de panificação, que inclui ainda salgados, bolos e sorvetes. Ele explica que, além dos ingredientes, os alunos aprendem sobre manipulação dos alimentos e higiene, ponto de partida para o trabalho na área. Já Adenilson Fernandes, 21 anos e também ex-aluno da instituição, diz seguir os fundamentos de Dom Bosco para ensinar a prática da solda, acrescentando princípios para a vida à formação profissional. "Aqui instruímos os alunos com metrologia, corte e solda propriamente dita, além de manutenção de equipamentos. É uma área na qual não há desempregados", diz.
Dirigindo a instituição desde o início de 2010, mestre Lauri Dorneles, 44 anos, explica que os cursos variam em carga horária, mas todos têm duração anual, com aulas teóricas e práticas de meio período duas vezes por semana, com exceção de informática. As vagas são divulgadas na imprensa local em janeiro de cada ano e, conforme ele, ocupadas por ordem de chegada e critério sócio-econômico, já que a prioridade é dada a jovens carentes. "Logo em seguida, marcamos a data de matrícula e, no início de fevereiro, as turmas já estão formadas e prontas para começar a aprender", completa.
"Além de educar para o trabalho, o Centro Profissional ensina disciplina e administração pessoal", frisa o padre Osvaldo Scotti, prosseguindo: "Dentro da Cidade Dom Bosco, é a única obra que não recebe ajuda do Poder Público, sendo mantida exclusivamente com doações de padrinhos e madrinhas. Mesmo assim, conseguimos oferecer cursos para os quais existe demanda no mercado". Mestre Lauri complementa que os recursos vêm principalmente da Itália, Eslovênia e Espanha, onde fiéis católicos ajudam a manter a obra salesiana iniciada pelo padre Ernesto Sassida. "Assim custeamos as despesas correntes, salários, alimentação, matéria-prima e equipamentos de segurança", acrescenta.
Responsável por estreitar a relação entre funcionários, pais e alunos, e ainda pelo acompanhamento social aos jovens, a bióloga Silvana Coelho Vital Lopo traz, aos 32 anos, uma longa história dentro da Cidade Dom Bosco. Foi aluna da escola, aprendiz e funcionária do centro, tornando-se orientadora pedagógica. Assim, ela expressa o que chama de imensa gratidão ao padre Ernesto pela importância dele em sua formação: "Com base no exemplo dele, tentamos fazer o melhor por esses jovens carentes de afeto e de educação, que estão aqui aprendendo mais do que uma profissão, uma lição de vida", complementa.
E não é difícil encontrar manifestações sobre o resultado desse trabalho, como observa o comerciante aposentado e colaborador da obra Balbino Gonçalves de Oliveira, 70 anos: "Recentemente, visitei a Feira de Amostra do Centro Profissional Dom Bosco, confirmando que a Cidade Dom Bosco está estruturada, organizada e tem todos os elementos básicos necessários para a vida de uma comunidade trabalhadora, fraterna e geradora de cidadãos profissionais para continuar servindo e impulsionando Corumbá para o progresso".
A prevenção antes que seja necessário remediar
Com delicadeza e precisão, e as mãos ainda leves dos 14 anos, ela tira do surrado teclado Casio à sua frente as notas que expressam a segurança, a certeza do acolhimento, a convivência harmônica e a amizade. Há mais de quatro anos, Helen Tainara Massab da Silva deixa a Escola Dom Bosco ao meio-dia e segue imediatamente para as instalações do Projeto Criança e Adolescente Feliz (PCAF), onde recebe reforço escolar, participa de oficinas de esporte e recreação e, principalmente, aprende a arte da música, com aulas teóricas e práticas de teclado.
Ela é uma das cerca de 280 crianças e adolescentes atendidos pelo terceiro pilar da Cidade Dom Bosco, completando todas as áreas de atenção sócio-educacional da obra criada pelo padre Ernesto Sassida. "Antes, eu chegava da escola e tinha que ficar na casa da minha avó sem nada para fazer, e ela tinha dificuldade para cuidar de todos nós. Então descobri este projeto e vim, a princípio para melhorar minhas notas, mas depois descobri que aqui eu poderia aprender muitas coisas, participar das oficinas, fazer amigos e ter companhia. O acompanhamento que recebemos aqui não se vê em lugar nenhum", diz.
Esta é, basicamente, a opinião de muitos outros que encontram no PCAF uma oportunidade de ocupar o tempo livre, em que estariam em casa ou nas ruas expostos a situações de risco, com atividades recreativas e educativas, cujo fim primordial é a formação do caráter dos cidadãos do futuro. "Eu não tinha nada para fazer em casa e não tinha com quem ficar, então meu pai me trouxe para cá, onde jogo futsal e ajudo a cuidar da horta", diz Elielson Soares da Silva, 12 anos. "Minhas notas estavam péssimas, mas, desde que cheguei aqui, começaram a melhorar e agora são muito boas", acrescenta Iuriane Évelin, 17 anos, seguida por Patrícia Andrade de Oliveira, 13 anos: "E ainda jogo futebol, em um time só de meninas".
Conforme explica o padre Osvaldo Scotti, a pedagogia salesiana pauta-se pela prevenção antes que seja necessário remediar, e esta é a filosofia que caracteriza a instituição. "Devido ao trabalho dos pais ou mesmo às situações de desestrutura familiar, temos um grande número de crianças que ficam um período sozinhas em casa, sem a presença de adultos, prestando-se mais às coisas erradas do que às certas", observa, salientando que essas crianças, após alguns anos em tais condições, podem se tornar meninos de rua, com tendência à violência. "Então, o projeto ajuda a prevenir que crianças carentes e sozinhas busquem cominhos tortuosos", completa.
Instalado ao lado do antigo Cine Teatro e do pavilhão principal da Cidade Dom Bosco desde 1988, mas em funcionamento formal desde 1972, como resultado de iniciativas diversas lideradas pelo padre Ernesto e colaboradores em prol de crianças de rua, o PCAF atende crianças e adolescentes entre oito e 17 anos, do 2º ano ao ensino médio. "Hoje, o projeto atende 140 crianças no período matutino, do 2º ao 5º ano, com aulas de reforço, oficinas e prática de esportes, e 140 no vespertino, do 6º ano ao ensino médio. O requisito para participar é estar estudando", afirma a professora Delair do Carmo Nunes Siqueira, 45 anos, coordenadora da instituição.
Ainda conforme ela, as oficinas oferecidas incluem jogos de recreação, argila, violão, teclado e informática (em parceria com o Centro Profissional Dom Bosco), além do esporte, com tênis de mesa, futsal, basquete, handebol e natação (em parceria com a Prefeitura de Corumbá), nos dois períodos. Essas atividades são escolhidas pelos alunos, conforme interesse e aptidão, mas o reforço escolar é obrigatório para todos, em todas as idades. "Além disso, muitas dessas crianças têm uma boa refeição diária, que muitas vezes não têm em casa, e tomam um bom banho, que muitas vezes não o fazem em casa também", acrescenta padre Osvaldo.
Para isso, ele lembra que a obra é custeada por padrinhos e madrinhas da Itália, Eslovênia e Espanha, cujas doações se somam ao apoio da prefeitura – que cede seis professores ao projeto – e dos governos estadual e federal, todos ajudando na compra da alimentação e na manutenção dos recursos humanos. "Mas o que garante mesmo a continuidade do trabalho é o suporte vindo da Europa, como resultado da luta de mais de 40 anos do padre Ernesto e do trabalho dos salesianos, com o padre Osvaldo", afirma Delair, observando que seria impossível saber quantas crianças já foram atendidas pelo projeto até hoje.
Com a responsabilidade de fazer o PCAF produzir os resultados a que se propõe, instrutores e professores ocupam pelo menos oito horas diárias das crianças e adolescentes com atividades educativas e esportivas. É o caso da turismóloga Cássia de Brito, 25 anos, instrutora violão e teclado. Ela é quem conduz Helen Tainara e outros vários alunos por entre as notas musicais, ajudando-os a adquirir uma habilidade para a vida e, quem sabe, uma profissão. "As crianças captam energias e ensinamentos muito facilmente e, por isso, trabalhamos a religiosidade delas para suprir a estrutura familiar que falta. Assim, elas se tornarão cidadãos mais preparados para ajudar a desenvolver esta cidade", afirma.
Já a professora Lucibene de Almeida Barros, 41 anos, ex-aluna e ex-professora da Escola Dom Bosco, é uma das responsáveis pelo reforço escolar. De manhã, ela alfabetiza crianças que ainda não sabem ler e escrever, e à tarde, ensina língua portuguesa literatura, inglês e artes a adolescentes do 8º ano ao ensino médio. "Aqui reforçamos o conteúdo que eles estudam na escola regularmente, auxiliamos nas tarefas escolares, ampliando e complementando o que eles aprendem. Mais do que isso, no entanto, orientamo-los a serem cidadãos bons e honestos, por meio de um incessante trabalho de desenvolvimento do caráter e do incentivo à gentileza", completa.
Talvez por ser a obra que melhor represente a essência da trajetória de seu fundador em Corumbá – a educação preventiva e a ocupação às crianças carentes -, quem encontra envolvido com ela não faz qualquer esforço para esconder sua fonte de inspiração para o trabalho: "Tenho como um espelho o padre Ernesto, pelos valores, pelas conquistas, a afetividade, o carinho e a vontade de estar à frente das pessoas carentes", diz Delair. "O caráter dele me fascina, e muito do que aprendi devo a ele", acrescenta Lucibene, enquanto Cássia finaliza: "O amor que ele tem por essas crianças inspira o nosso trabalho e nos faz querer fazer sempre mais por elas".
A coluna que sustenta a Cidade e suas estruturas
Rosimare da Conceição, 38 anos, é viúva e mãe de seis filhos. Até alguns anos atrás, morava na fazenda Nazaré, região do Paiaguás, onde trabalhava como cozinheira, mas ficou doente e precisou se mudar para a periferia de Corumbá para tratar das fortes dores de cabeça e nas costas. Depois de quase ter sido "internada como louca", hoje toma remédios controlados e trabalha como diarista. Dos seis filhos (Renato, Rodrigo, Renata, Raí, Roseane e Gabriel), o último ela precisou dar para a irmã, e o mais velho, de 14 anos, é quem toma conta dela e dos irmãos.
"A casa onde moro foi doada pela Cidade Dom Bosco, que também me ajuda com remédios, roupas, alimentos, gás e outras coisas que preciso", diz Rosimare, continuando: "Por meio do Ernesto, consegui madrinha para cinco dos meus filhos, que é como conseguimos sobreviver hoje". A história da diarista é apenas uma entre milhares de situações de pobreza e vulnerabilidade social que têm chegado ao longo dos anos ao setor de Assistência Social da Cidade Dom Bosco, a ponte entre o trabalho de décadas do padre Ernesto Sassida – as doações vindas do exterior – e as pessoas mais necessitadas de Corumbá.
Como salienta o padre Osvaldo Scotti, que coordena o setor, esta é a coluna que sustenta todas as estruturas da instituição, ao manter o relacionamento entre madrinhas e padrinhos na Europa, que integram o Programa de Adoção à Distância, e as crianças adotadas em Corumbá e Ladário. "A Assistência Social da Cidade Dom Bosco busca alcançar a camada mais empobrecida e necessitada da comunidade, em especial a população infantil, pois a maioria dessas crianças vive sem muitas perspectivas, geralmente como resultado da desestrutura familiar. Para isso, temos padrinhos e benfeitores na Itália, Eslovênia e Espanha", explica.
Atualmente, seis pessoas integram o setor responsável pelo suporte a mais de 1 mil crianças. "Acompanhamos a vida escolar e social delas e de suas famílias, pois o desempenho na escola está diretamente ligado à situação em casa", explica a professora Lindivalda Gonçalves dos Santos, 47 anos, integrante da equipe, ex-aluna da instituição e que também foi assistida durante muitos anos pelo programa. "Essas crianças estão em diversas escolas e até mesmo em Ladário, e o nosso trabalho é acompanhar seu crescimento para enviar notícias às madrinhas na Europa", acrescenta.
Lindivalda explica ainda que o trabalho vai muito além de enviar fotos, boletins escolares e cartas dos afilhados, e de distribuir os recursos e presentes que chegam. "Se a criança precisa de remédio, de fazer uma cirurgia, de usar óculos ou aparelho ortodôntico, procuramos resolver todas essas situações", ressalta, acrescentando a preocupação e o encaminhamento ao reforço escolar, por meio do Projeto Criança e Adolescente Feliz (PCAF), e à qualificação profissional, por meio do Centro Profissional Dom Bosco.
Parte do resultado desse trabalho pode ser visualizada na própria expressão de Rosimare, quando diz: "Não sei o que seria dos meus filhos se não fosse a Cidade Dom Bosco, a quem agradeço por acolhê-los, educá-los e ajudá-los a ter um futuro melhor".
(Texto publicado na Revista Cidade Dom Bosco – 50 Anos, lançada no dia 18 de outubro de 2010)