No Pantanal, pescadores aproveitam a piracema para estudar

Fim da temporada de pesca. No Pantanal de Corumbá, pescadores profissionais e até mesmo piloteiros estão trocando as 'férias forçadas', devido ao período de defeso, pelos bancos escolares, aproveitando a piracema para aprender um pouco mais ou até mesmo para se alfabetizar. E esta oportunidade está sendo possível graças ao Programa Brasil Alfabetizado, desenvolvido pelo Governo Federal, por meio do Ministério da Educação, em parceria com a Prefeitura Municipal, por meio da Secretaria Executiva de Educação.

É o que acontece na região do Porto da Manga, às margens do Rio Paraguai. Na localidade, pescadores, piloteiros e outros moradores retomaram os estudos neste mês de novembro e estão frequentando os bancos escolares na Extensão da Escola Municipal Rural Polo Luis de Albuquerque, todos os dias da semana, no período das 16h às 20 horas, para aulas de português e matemática. O grupo integra uma das seis turmas de 2010/2011 já em funcionamento no município, de um total de 21 turmas já planejadas pela Secretaria de Educação.

Voltado à alfabetização de jovens, adultos e idosos, o Programa Brasil Alfabetizado é realizado pelo Ministério da Cultura desde 2003 e apontado como uma porta de acesso à cidadania e o despertar do interesse pela elevação da escolaridade. Em Corumbá, a Prefeitura aderiu à iniciativa em 2007. Desde então, já possibilitou atendimento a 934 pessoas com idade superior a 15 anos. Foram 306 no ano letivo 2007/2008, 310 em 2008/2009 e 318 em 2009/2010, transformando a vida das pessoas atendidas, que evoluem com os estudos e têm sua auto-estima elevada.

"Nossa expectativa para 2010/2011 é fecharmos com 400 alunos, integrando 21 turmas. Já estamos com 157 alunos cadastrados e seis turmas já ativas, incluindo grupos de pescadores profissionais e piloteiros que aproveitam a piracema para estudar", conta a professora Neide Leones Pereira, coordenadora municipal do programa, lembrando que a iniciativa é desenvolvida tanto na área urbana quanto na rural. "Nesta época do ano, as turmas formadas mais por pescadores e moradores das regiões ribeirinhas, como o Porto da Manga, Barra do São Lourenço e Albuquerque, justamente pelo fato de estarem com as atividades paradas, em virtude da piracema", acrescenta.

A orientação do secretário de Educação, Hélio de Lima, é para levar o programa às mais diferentes localidades do município. Das 21 turmas previstas para 2010/2011, o objetivo é iniciar uma nova turma na Barra do São Lourenço, o que será definido na próxima edição do Programa Povo das Águas, e outras no assentamento São Gabriel e na extensão do Porto Aurélia, no Rio Taquari, região do Paiaguás. "É um compromisso do prefeito Ruiter (Cunha de Oliveira – PT) com a população corumbaense, principalmente com a comunidade ribeirinha, onde o acesso ao ensino se torna mais difícil para pessoas com idade avançada", observou.

Até no Conviver

Neide Pereira explica ainda que o Brasil Alfabetizado é realizado durante oito meses e as aulas são ministradas por bolsistas, que recebem seus salários diretamente do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação. Hoje, 17 professores estão cadastrados. Alguns, principalmente na área urbana, ensinam até duas turmas, com aulas diárias. O programa é desenvolvido em escolas, nas unidades do Centro de Referência em Assistência Social (CRAS), associações de moradores e em outras instituições ligadas ao Poder Público ou mesmo à iniciativa privada.

Para se ter uma ideia, na região urbana de Corumbá, além das escolas, existem turmas frequentando os bancos escolares em salas improvisadas, como no Centro de Convivência dos Idosos (Conviver) e até no Asilo São José. "São pessoas idosas que estão aprendendo e o resultado está sendo tão positivo que muitos já frequentam até cursos de informática, por exemplo", comenta a professora, lembrando que as aulas do Brasil Alfabetizado estão atendendo também adolescentes de programas de medidas sócio-educativas, e a Secretaria Executiva de Assistência Social já prepara a implantação de novas turmas, em parceria com a Educação.

A coordenadora explica que a procura pelas aulas tem sido grande neste ano. "Nossa meta é trabalhar com 400 alunos, mas devemos ultrapassar esse número, a exemplo do que já ocorreu nos anos anteriores", observa, ressaltando ainda que, em novembro, grande parte dos interessados foi de pescadores, piloteiros e moradores de comunidades integradas por pessoas que sobrevivem da pesca, que buscam nos estudos uma alternativa para aprimorar os conhecimentos e, certamente, as condições de vida.

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