Gilson de Carvalho |
Para impedir que a história se perca com o tempo, a prefeitura está montando um local para ensinar a confecção às novas gerações |
Vitalino Soares Pinto, 71 anos, pertence a um seleto grupo de cururueiros com conhecimento e técnica para criar, a partir de matérias primas rústicas, a viola-de-cocho, instrumento musical característico da região pantaneira. “Aprendi a fazer viola ainda guri, lá em Cuiabá”, conta o artista radicado há mais de 50 anos em Corumbá, onde ganhou popularmente o título de mestre. “Hoje somos apenas sete cururueiros. Infelizmente são poucos os que apreciam e conhecem a história do siriri e do cururu. Por isso, o grupo só diminuiu a cada ano”, lamenta.
Para impedir que a história se perca com o tempo, como teme mestre Vitalino, a Prefeitura Municipal, por meio da Fundação de Cultura e Turismo do Pantanal, está montando um local específico para ensinar às novas gerações a confecção, a arte e a tradição deste instrumento diretamente ligado à história local. O projeto é desenvolvido por meio de convênio com o Ministério da Cultura (MinC). O “Ponto de Cultura” é um espaço para articular e impulsionar as ações que já existem nas comunidades. No caso de Corumbá, a fabricação da viola de cocho.
Na última quinta-feira (12), jovens da Banda de Música Manoel Florêncio participaram da primeira oficina do projeto. Com a ajuda do mestre Sebastião de Souza Brandão, de 66 anos, Seu Vitalino mostrou, passo a passo, como são feitas as cordas da viola. “Hoje em dia a gente usa tripa de porco. Antigamente, as cordas eram feitas de tripa de macaco ou de bugiu”, explica Brandão, demonstrando que, além do conhecimento sobre o siriri, possuiu responsabilidade ambiental.
“O pensamento agora é outro. É judiação mesmo matar o animal para aproveitar só uma pequena parte. Por isso as cordas são feitas com a tripa de porco. É um pedaço que quase todo mundo joga fora”, continua. O processo é relativamente simples. “A ‘ciência’ da coisa está na hora de escolher a tripa. Ela não pode ser muito grossa e nem muito fina”, diz Vitalino.
Depois de limpo, o material é amarrado nas pontas e torcido até que saia toda a água e o ar da tripa. Colocado para secar à sombra, ele fica pronto em pouco mais de meio dia. Dependendo da espessura da corda, ela é usada como primeira, segunda, terceira ou quinta amarração da viola. “A quarta é feita de seda. Só tem lá no Mato Grosso”, comenta Brandão, completando: “Aí sim, a viola chora bonito!”.
O “Ponto de Cultura” funcionará na Casa do Artesão, onde um balcão será construído para abrigar a oficina. No Instituto Luiz de Albuquerque (ILA) funcionará a extensão do projeto, com equipamentos multimídia, exposições de violas, roupas e uma ilha para comercialização de souvenires. A Associação Cultural de Amigos do Museu de Folclore Edison Carneiro (Acamufec) é parceria da prefeitura na iniciativa.
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Rodrigo Nascimento – Subsecretaria de Comunicação Institucional