Moradores do Paiaguás agradecem prefeitura por Povo das Águas

Prefeitura de Corumbá
 

Pantaneiros de todas as cores e idades, e com as necessidades mais variadas, são atendidos pela equipe multidisciplinar do programa

De metal e de madeira, as pequenas embarcações se afileiram às margens dos corixos, entre o capim e o camalote, deixando a água pisoteada quase barrenta. Em outras situações, cavalos, carros de boi, carroças e carretas de trator ficam ‘estacionados’ ao longo das precárias cercas de arame farpado. O que todos esses meios de transporte têm em comum é o que trazem: moradores das comunidades e colônias ao longo de parte do Rio Taquari, na região do Paiaguás – na distante profundidade do Pantanal sul-mato-grossense –, cuja ansiedade e satisfação estampam-se no rosto por receber os atendimentos do Programa Social Povo das Águas, da Prefeitura de Corumbá.

Quando a equipe multidisciplinar da prefeitura, composta por 20 profissionais, chega para realizar atendimentos em saúde e assistência social nas ‘sedes’ das comunidades Corixão, Cedro, São Domingos, Bracinho, Figueira e Saiuru, a aglomeração já está formada, com pantaneiros de todas as cores e idades, e com as necessidades mais variadas. São lavradores, criadores de porcos e galinhas, pescadores, trabalhadores braçais que vivem de changa (diária), donas de casa, crianças e adolescentes que, por todas as gerações, vivem embrenhados no Pantanal e com ele desenvolveram uma relação de apego à terra e ao rio, de troca, limitação, sacrifício e dependência.

Historicamente isolados e esquecidos, em uma das regiões que pode ser incluída entre aquelas de mais difícil acesso no planeta, esses moradores não escondem a expressão de alegria ao ver médicos, dentistas, enfermeiras, vacinadores e outros profissionais chegando com caixas de equipamentos, remédios e materiais de primeira necessidade, como alimentos, roupas, cobertores e brinquedos. “Eu nasci e me criei aqui nessa terra, nesse sacrifício, então a gente fica muito grato e feliz de ver esse pessoal vindo para dar essa assistência e ver o nosso sofrimento”, diz a dona de casa Deolinda Soares Cunha, 55 anos, moradora do Cedrinhho, após receber tratamento dentário, remédios e alimentos.

“Isso tudo aqui é Pantanar, né? Então é difícil, é muito sacrificoso, e o único meio aqui é a chalana (canoa de madeira). A gente não tem condições de ir pra cidade buscar um remédio, um médico, um dentista. Por isso, todo mundo está agradecendo muito o sacrifício desse pessoar de vir aqui trazer esse apoio pra gente”, concorda o lavrador Paulo Amaro Soares Vieira, 39 anos, morador do Cedro, com a canoa carregada de alimentos e roupas. Para exemplificar a dificuldade de acesso à cidade, ele chama o também lavrador do Cedrinho, Lorival Maraes de Souza, 48 anos. Este conta que fora picado por uma cascavel e só chegou a Corumbá quatro dias depois para receber atendimento médico, afirmando ter se livrado da morte graças à babosa com álcool.

Outra moradora do Cedrinho, a dona de casa Lucila Costa Soares Vieira, 46 anos, explica, logo após a consulta médica, a rotina da comunidade: “Pra ir à cidade, tem que zingar (mover o barco com uma vara no fundo do rio) por mais de três horas até o Taquari e esperar a lancha esperar a lancha, que só chega lá um dia depois”. Contando que a maior parte das pessoas passa até um ano sem visitar a sede do município, a também dona de casa Rosa Flaviana de Moraes Rodas, 29 anos, da colônia São Domingos, acrescenta: “A gente precisava de alguém que viesse aqui pra fazer o cadastro do Bolsa Família, se não íamos perder o benefício. Então agradecemos essa ajuda na hora certa”.

“Do mesmo jeito que é sacrificoso para nós, sabemos que é difícil para o pessoal da cidade vir até aqui nos atender. Por isso, agradecemos ao prefeito Ruiter (Cunha de Oliveira – PT), à primeira dama (Beatriz Cavassa de Oliveira) e a todo esse pessoal que veio ao nosso encontro”, complementa o agricultor e piloteiro Jéferson Esdras de arruda, 29 anos, do Corixão. Trabalhando com cinco turmas de alunos na Escola Municipal Santa Aurélia, a professora Ana Regina Martins Paes, 49 anos, vive a realidade descrita pelos moradores. “Aqui, ou é muita água ou é muito seco, mas tudo é longe demais. Se não é a prefeitura nos atender, não sei o que seria dessas famílias, que não têm condição de pôr combustível em um barco para ir à cidade”, diz.

Os depoimentos se repetem após cada tratamento dentário, consulta médica ou cadastro para os benefícios e programas sociais. De cada um é possível extrair uma partícula de sensação ao mesmo tempo lúdica e amarga, fruto do isolamento, do esquecimento e das condições precárias de vida que fazem pessoas de 29 anos aparentarem ter mais de 40. No entanto, ainda mais aparente é a expressão de que, enfim, alguém se lembrou deles e que, com esforço e carinho, fez o possível para tornar suas vidas um pouco melhor e assistida por aquilo que, como cidadãos brasileiros, sempre tiveram direito. É visível no sorriso talhado de cada pantaneiro atendido pelo Programa Povo das Águas a expressão “muito obrigado por lembrar que eu existo”.

Gesiel Rocha – Secretaria de Comunicação Institucional

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