Padre Ernesto Sassida iniciou sua missão aos 11 anos quando deixou a família cristã na Eslovênia, uma escolha que considerava ter feito por sempre “ouvir a voz de Deus desde criança” e “aceito a oportunidade que Deus mandava”. Em 2009, véspera de completar 90 anos, ele concedeu uma longa entrevista à nossa equipe e, na época, revelou que a decisão tomada lhe proporcionou uma história rica e intensa, “realmente divina, porque Deus esteve todo momento em minha vida. Foi uma movimentação criada por Deus, que mostrava os caminhos”.
Ele relembrou da sua primeira passagem por Corumbá, em 1935, rumo a Cuiabá, e de quando retornou em 1950, desta vez para ficar. A princípio, como educador no Salesiano de Santa Teresa e, em seguida, “mergulhando no meio dos pobres”. Para o padre, tudo valeu a pena, até a “tragédia” do começo, na Eslovênia. “Tragédia porque houve muitas consequências: a saída da família, a privação do afeto familiar tão cedo, muito cedo. Achei que isso devia ter consequências grandes, pois, para fazer o que estava fazendo, podia ser em qualquer lugar, mesmo perto de casa. Mas Deus quis que fosse longe, do outro lado do oceano”.
Ao lembrar um pouco dos anos passados, o idealizador da Cidade Dom Bosco afirmava que até aquele momento, a presença no meio dos pobres o impressionava muito. “Até que ponto estou mergulhado no meio dos pobres, o significado que essa minha presença traz, o que fiz em nome de Deus. Mas, para tudo isso, precisei dar a vida, me desligar de tudo, não escolher nada, mas aceitar como vinha sendo oferecido por Deus. Fui parar no meio das favelas sem perceber, por acaso. Mas quando me vi envolvido, no meio dos pobres, percebi que eu estava bem, que me sentia bem”, revelou.
Padre Ernesto dizia que o início havia sido muito difícil. “Até amigos diziam que não seria bom ficar aqui, que teria muito trabalho e que não haveria recursos suficientes para desenvolver uma obra no meio deles, os pobres que precisam de coisas concretas”. Mas, o desafio e o “plano de Deus” falaram mais alto, e ele fixou residência em Corumbá, pois sentia a “presença de Deus”, que lhe deu forças para trabalhar.
“Minha presença em Corumbá e Ladário é histórica, e tem também um peso político, econômico e social. Corumbá está mudando. Enquanto existir a Cidade Dom Bosco nesta cidade, ela vai mudando Corumbá, a população”, destacava o padre. “Ela (Cidade Dom Bosco) por si só é transformadora, pois pisa no assunto básico que é a Educação, seguida da integração social. Isso tem que ser valorizado, mais do que qualquer investimento meramente administrativo. É uma presença que, se o povo de Corumbá não entender, perde o fio da história”.