Nascido na Eslovênia em 15 de outubro de 1919, Ernesto Sassida, ainda criança, cultivou a vocação salesiana missionária. Iniciou sua trajetória com 11 anos e, aos 16, em setembro de 1935, chegou ao Brasil, onde continuou os estudos e foi ordenado sacerdote. Foi também em 1935 que passou por Corumbá, onde permaneceu por 10 dias, aguardando a embarcação Fernandes Vieira, para seguir viagem de uma semana até Cuiabá, onde ficou por quatro anos.
Já como sacerdote, em 1950, veio para Corumbá. Foi educador do Colégio Santa Teresa, iniciando os contatos com as famílias pobres da região, conhecendo de perto a realidade local e constatando um enorme contraste social.
Começava, assim, sua trajetória vitoriosa na cidade pantaneira. Sassida iniciava sua missão, o “plano de Deus”, como ele próprio definia, em meio à oferta dos maiores perigos que, na época, já enfraqueciam as famílias consideradas mais carentes: prostituição, consumo e tráfico de drogas e outras situações que afrontam a dignidade da pessoa humana.
Em 1958, já reunia e organizava grupos de meninos que andavam pelas ruas de Corumbá. Em 3 de abril de 1961, fundou a Escola Profissional Alexandre de Castro, o que considera ter sido a primeira semente que germinou. A escola funcionava em um pequeno barracão, na então periferia da cidade, destinada a receber meninos e meninas pobres, com a finalidade de oferecer formação profissional, instrumento para a sua inserção no trabalho, superando a própria situação de miséria.
Pouco depois, a pequena escola converteu-se em um internato para recolher os meninos de rua que não tinham família ou viviam abandonados, expostos à marginalidade, prostituição e criminalidade. Logo o barracão ficou pequeno. Ainda nesse período, em convênio com a prefeitura, implantou um centro de saúde para atender a comunidade carente.
Cidade Dom Bosco
Padre Ernesto não se limitou apenas a conquistar apoio em Corumbá. Buscou recursos em outras cidades brasileiras e no exterior, onde obteve apoio para dar continuidade à sua obra, ou “à obra de Deus”. Entre 1969 e 1971, a Operação Mato Grosso, entidade italiana ligada aos salesianos, construiu uma grande escola de alvenaria na cidade. A partir daquele momento, a obra começou a se chamar “Cidade Dom Bosco”. Os jovens escolhiam o seu prefeito e se organizavam em departamentos, como em uma autêntica cidade.
A instituição foi reconhecida pelo Conselho Estadual de Educação como experiência pioneira. Recebeu o nome de Escola-Comunidade, por oferecer educação integral, com aulas e outras atividades extracurriculares, como banda marcial, teatro, shows, palestras educativas, campanhas de cidadania, envolvendo as famílias e a comunidade.
Na década de 1970, intensificou-se o movimento associativo (Scout, Bandeirantes, Vigilantes Mirins, Engraxates, vendedores ambulantes, Patrulheiros Mirins, entre outros). Para proteger as crianças das ruas e dos perigos, o padre inaugurou a Casa do Pequeno Trabalhador, uma resposta à realidade daqueles tempos, na qual os pequenos trabalhadores puderam ter acesso à escolarização e defesa de seus interesses.
Em 1972, com ajuda do Poder Público Estadual, foi construído um Centro Esportivo e um salão de teatro, favorecendo o desenvolvimento de atividades associativas da comunidade, coordenadas pela Cidade Dom Bosco.
No começo dos anos 80, surgiu um semi-internato, que evoluiu até se converter no atual Projeto Criança e Adolescente Feliz. Já nos anos 1990, foi construído o Centro Profissional Dom Bosco, uma continuação das pequenas oficinas que instruíram muitos jovens nas décadas anteriores, cuja formação assegura aos jovens maiores oportunidades de trabalho dentro e fora de Corumbá, garantindo pleno acesso à cidadania. Hoje, funciona em parceria com a Prefeitura Municipal.
Com o tempo, o bairro de periferia onde fora instalado o Centro Profissional foi se transformando. Hoje, é conhecido como bairro Dom Bosco, uma referência à Cidade Dom Bosco, complexo missionário de atendimento à pobreza, por meio de escola, assistência social, reforço educacional, formação profissional, atendimento à saúde, ações de cidadania e “abertura a Deus”.
A dedicação de Padre Ernesto em cumprir a missão dada “por Deus” motivou outros abnegados, principalmente ex-alunos, a se unirem, contribuindo para implantação de novos projetos na cidade, como o Sino da Caridade, o Centro Padre Ernesto de Promoção Humana e Ambiental (CENPER), o Projeto Pequeno Herói e Pequeno Herói Pantaneiro e o Clube de Amigos do Padre Ernesto. Todas essas iniciativas imbuídas de um mesmo ideal: promover o bem à comunidade, especialmente às crianças, adolescentes e jovens carentes da região pantaneira. (Fonte: cidadedombosco.org.br)