Prefeito alerta para os danos ambientais das PCHs ao longo do rio Paraguai

Nesta terça-feira, 11, em discurso de abertura da 4ª Conferência Intermunicipal de Meio Ambiente, no Centro de Convenções do Pantanal Miguel Gómez, o prefeito de Corumbá, Paulo Duarte, externou sua preocupação com os danos ambientais advindos da disseminação das Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) ao longo do rio Paraguai.

 

“Na década de 70 e 80 nos calamos diante do rio Taquari e hoje a perda estimada de território produtivo em Corumbá passa de 1,5 milhão de hectares com o assoreamento e a cheia permanente do rio”, disse. “Agora estamos nos calando diante das PCHs, que estão sendo ‘construídas a rodo’ ao longo do rio Paraguai, com total irresponsabilidade, prejudicando a qualidade da água, reduzindo a vazão e causando danos ambientais irreversíveis ao nosso ecossistema. Para essas empresa o que vale é o lucro e que se explodam as próximas gerações”, reclamou, indignado.

 

As PCHs são usinas de pequeno porte com capacidade instalada maior do que 1 MW e no máximo 30 MW, com reservatórios de no máximo 3 quilômetros quadrados. Por serem menores, são mais baratas de construir e contribuem para a descentralização da geração de eletricidade. Além disso, causam um dano ambiental menor.

 

O que preocupa o prefeito Paulo Duarte é a grande quantidade de PCHs na Bacia do Alto Paraguai, onde já foram construídas cerca de 30 e há ainda outras 87 planejadas. Segundo alerta feito recentemente por pesquisadores no Ciclo de Conferências 2013 do BIOTA-FAPESP, que teve como tema o Pantanal, essa somatória de PCHs pode impactar inexoravelmente a hidrologia e a conectividade das águas do planalto – onde nasce o rio Paraguai e seus afluentes – e a planície inundada do Pantanal – por onde as águas desses rios escoam – dificultando o fluxo migratório de peixes e outras espécies aquáticas e semiaquáticas do Pantanal.    

 

“A criação dessas PCHs pode causar a quebra de conectividade hidrológica de populações e de processos migratórios reprodutivos, como a piracema, de algumas espécies de peixes”, alerta o professor da Universidade Anhanguera-Uniderp, José Sabino.

 

Segundo o especialista, durante a piracema, período de procriação que antecede as chuvas do verão, algumas espécies de peixes, como o curimbatá (Prochilodus lineatus) e o dourado (Salminus brasiliensis), sobem os rios até as nascentes para desovar. Se o acesso às cabeceiras dos rios for interrompido por algum obstáculo, como uma PCH, a piracema pode ser dificultada. “A construção de mais PCHs na região do Pantanal pode ter uma influência sistêmica sobre o canal porque, além de mudar o funcionamento hidrológico, também deve alterar a força da carga de nutrientes carregada pelas águas das nascentes dos rios no planalto que entram na planície pantaneira”, disse Walfrido Moraes Tomas, pesquisador do Centro de Pesquisa Agropecuária do Pantanal (CPAP) da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), no Mato Grosso do Sul, palestrante na conferência na FAPESP.

 

De acordo com o pesquisador, o Pantanal é uma das áreas úmidas mais ricas em espécies do mundo, distribuídas de forma abundante, mas não homogênea, pela planície pantaneira. Alguns dos últimos levantamentos de espécies apontaram que o bioma possui 269 espécies de peixes, 44 de anfíbios, 127 de répteis, 582 de aves e 152 de mamíferos.

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