No estirão de Domingos Ramos, a 70 quilômetros de Corumbá, à margem direita do rio Paraguai, encontra-se o Porto Maracangalha, um dos recantos mais belos do Alto Pantanal.
Lá moram o sêo Zé Boca e a dona Rita, que periodicamente cedem gentilmente sua fazenda ao Povo das Águas para o atendimento dos ribeirinhos da região. É lá, em meio a carneiros, pavões, galinhas e perus e de uma natureza exuberante, que o Sêo Alfredo, 53, teve seu sorriso restaurado à partir da extração e prótese total dos dentes; onde a tímida e retraída Criziane, 6, que sofre de distúrbios psicomotores, esquece suas limitações e se diverte como nunca com as estórias, canções e brincadeiras das recreadoras e contadoras de estórias.
Famílias ganham cobertores e cestas básicas, são incluídas no cadastro de vulnerabilidade social da Secretaria de Assistência Social e Cidadania de Corumbá, o que lhes garante uma série de direitos e benefícios; crianças e adultos são vacinados e imunizados contra gripe, hepatite, pneumonia, paralisia infantil, meningite, febre amarela e tétano e uma série de outras enfermidades.
Bem ali ao lado, a uns 100 metros, encontra-se a humilde casa de pau a pique do sêo Barão, um ermitão de 78 anos que sobrevive da pesca e do plantio de mandioca, cana, banana, laranja e limão. Ele e seus 7 cães: Campeão, Perigo, Leão, Guri, Tigre, Dália e Neguinha. “Os cachorros fazem companhia e me protegem dos perigos da mata. Nem onça chega mais aqui”, diz ele.
Graças ao sêo Barão e ao trabalho do Povo das Águas e do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), esses fieis companheiros vivem saudáveis e periodicamente são imunizados contra doenças letais, como a raiva e a leischmaniose.
O Porto de Maracangalha é um lugar de natureza, festa e celebração da cidadania, por isso talvez que o sêo Zé Boca goste tanto de receber a equipe do Povo das Águas com um belo café da manhã e a clássica canção de Dorival Caymmi: “Eu vou pra Maracangalha, eu vou”.