O Zé Boca é um velho pantaneiro que exibe uma visão particular da vida, inundada pela imaginação e pelo contentamento de pessoas que seguem mantendo uma relação de intimidade com a natureza e podem nos ensinar a endireitar nosso olhar para novas interpretações da existência e da beleza humana. Periodicamente ele e sua esposa, dona Rita, cedem gentilmente o espaço de sua fazenda ao programa social Povo das Águas para o atendimento dos ribeirinhos da região.
Após 30 anos de serviço militar e trabalho incansável na construção da Paróquia de São João Bosco e outras obras da Cidade Dom Bosco, em Corumbá, ele se refugiou em meio à natureza, onde encontra inspiração para elaborar algumas pérolas de singela sabedoria: “O ser humano é complexo”, diz ele, em um dos seus aforismos prediletos. “Viver com um ser humano por um instante é uma coisa. Conviver é outra”, frase que explica o fato de ele as vezes passar mais tempo em sua fazenda no Pantanal, rodeado de bichos, do que na cidade, onde também possui casa.
Seu recanto é tão especial que já recebeu visitas até de pessoas ilustres, como a de um ministro de Estado, a quem presenteou com a seguinte reflexão: “Na conjuntura atual temos que analisar o contexto para chegarmos a um consenso”.
Bom pescador que é (exibe na sala a gigante cabeça embalsamada de um jaú) conta a dica para uma boa pesca: “Todo pescador tem que ser dotado de sensibilidade e habilidade. Sensibilidade para procurar o peixe e habilidade para tirá-lo da água”.
Outro dom do Zé Boca é o de conversar com os bichos. Alguns deles, como o tuiuiú, singelamente batizado por ele de “João”, só reconhecem e atendem sua voz. Os turistas se divertem ao ver o pássaro símbolo do Pantanal voando de longe e aterrissando para pegar as tuviras quase das mãos do amigo Zé Boca.
Com sua simplicidade e sabedoria pantaneira, o Sêo Zé Boca é a prova viva de que homens e animais silvestres podem viver uma relação de plena harmonia.