O Erick é uma daquelas pessoas que nascem com uma luz e um dom especial de superar obstáculos na vida. Aos 16 anos, ele ama viver, leva uma vida agitada, adora ir à escola (Izabel Corrêa de Oliveira), sair com os amigos, ouvir música, faz aulas de dança, curte muito a família e, principalmente, uma boa pescaria com o avô. Mas não foi sempre assim. Aliás, quem o vê alegre, sorrindo e contando piadas, nem imagina o quanto esse adolescente já sofreu.
Com a mãe falecida quando ainda era bebê, Erick foi morar com o tio e posteriormente acabou sendo entregue ao Conselho Tutelar de Corumbá. Aos 7 anos, com hidrocefalia e preso à uma cadeira de rodas, suas chances de adoção eram praticamente nulas. Mas Deus interveio nessa história e colocou a bióloga Claudia Couto no caminho do Erick. Para ela, foi o contrário. “As pessoas dizem: ‘pôxa, que bom que o Erick tem você’, mas foi justamente o oposto! À partir dele eu me tornei uma pessoa melhor! O Erick chegou para transformar não só a mim, mas toda minha família, que hoje é muito mais unida graças a ele! Me sinto a pessoa mais feliz do mundo! Ele é uma luz na minha vida e essa troca de amor eu devo a Deus”, diz ela, emocionada.
De fato, basta um primeiro contato com Erick para constatar que ele ilumina não só a Cláudia, mas todos à sua volta. O adolescente parece não ligar para as cicatrizes das sete cirurgias realizadas na cabeça ou para os sérios problemas de locomoção. “Ele não reclama de nada! A não ser quando chove e não pode ir à escola, onde ele é um dos alunos mais frequentes e, segundo os professores, dono da letra mais bonita da classe”, diz a mãe, cheia de orgulho.
Um dos seus programas favoritos é recarregar as energias aos fins de semana no Porto Maracangalha, no estirão de Domingos Ramos, a 70 quilômetros de Corumbá. É ali, à margem direita do rio Paraguai, onde ele é sempre muito bem recebido na fazenda dos avós Zé Boca e dona Rita, com direito a bolo de fubá, goiabada, mingau de bocaiúva e muito carinho. “O contato com a natureza faz muito bem a Erick, em todos os sentidos, mas o que ele mais gosta de fazer aqui é pescar comigo”, diz, sem nenhuma modéstia, o avô Zé Boca.
Para a alegria de Erick, periodicamente o Zé Boca e a dona Rita cedem gentilmente o espaço de sua fazenda ao programa social Povo das Águas para que ali seja realizado o atendimento às famílias ribeirinhas da região. O Erick adora essa movimentação, os compadres e comadres se reencontrando, a roda de viola, os atendimentos médicos e odontológicos gratuitos, crianças e adultos sendo vacinados e imunizados contra doenças, outros recebendo orientações, bebês sendo cuidados, mães sendo cadastradas em programas sócio-assistenciais, as crianças correndo e se divertindo, ele ouvindo as histórias de faz-de-conta das recreadoras e contando suas próprias histórias de pescaria.
Todos os integrantes do Povo das Águas já conhecem o Erick e adoram conversar com ele. “Ele virou nosso amigo, a gente chega aqui no Maracangalha e já quer logo saber onde ele está. Damos boas risadas juntos”, diz a assistente social, Lilia Maria Bezerra.
O programa Povo das Águas já é inspirador, por si só, uma celebração de solidariedade e cidadania em pleno Pantanal. No Porto Maracangalha, em meio a carneiros, pavões, galinhas e de uma natureza exuberante, então, e com a presença do Erick, torna-se uma experiência inesquecível. Um lugar onde até os homens conversam com os bichos. Mas aí já é uma outra história que já foi contada aqui.