A pesca predatória e indiscriminada e o assoreamento dos rios no Pantanal estão prejudicando bastante a vida dos moradores do Alto, Médio e Baixo Paraguai. Peixes como o pintado, pacu, palmito, piranha, barbado, jaú, piraputanga e outros de água doce estão seguindo o mesmo caminho do dourado e praticamente entrando em extinção.
Os ribeirinhos, que tradicionalmente dependem da lida na terra e da pesca para garantir o sustento mensal e o alimento da família, começam a passar dificuldades, um pouco amenizadas pelo Programa Social Povo das Águas. “Se não fosse o Povo das Águas, que traz cesta básica, cobertas, médico, não sei o que seria de nós”, diz o pescador José, 48, que mora a pouco mais de 10 metros do rio Paraguai e, juntamente com sua senhora, dona Zenaide, tem uma família de sete filhos para criar na região da Barra de São Lourenço.
Ele relembra os bons tempos em que tirava uma média de R$ 1 mil mensais da pesca e reclama que hoje mal consegue livrar R$ 300 por mês. No quintal de sua casa, 60 piranhas ocas secam ao Sol presas no varal. Vendidas, serão embalsamadas e transformadas em objetos decorativos na cidade. “Antes eu levava 1 hora pra pescar essas 60 piranhas, hoje preciso de quatro dias. Tá difícil, a gente joga a vara e não vem peixe”, compara.
Diante de uma situação de vulnerabilidade social, agravada pela crise de peixes, esses ribeirinhos são impelidos por atravessadores e exploradores a vender os pescados a um preço bem abaixo do mercado. “Essas piranhas estou vendendo por R$ 1,50, cada uma. Se não for assim, não vende”, reclama ele, que representa somente uma história de centenas de outras parecidas de pescadores que sofrem à míngua na beira dos rios Paraguai e Paraguai-Mirim.
De fato, os dias estão difíceis para os moradores ribeirinhos do Pantanal, mas José insiste em não perder a esperança e prefere pensar em dias melhores. “Com o rio baixando, os peixes que ficam nas baías, coriscos e córregos voltam pro Paraguai e aí quem sabe a pesca melhora um pouco pra nós, né?”, diz.