“Recordar é Viver” reuniu diferentes gerações no palco e na plateia

Um momento histórico para a cultura corumbaense é a forma pela qual pode ser definido o show “Recordar é Viver”, realizado na praça Generoso Ponce, neste sábado, 21 de setembro, quando o município completou 235 anos de fundação. Na palco e na plateia, a mistura de gerações acompanhou um espetáculo legitimamente corumbaense não apenas pelos intérpretes e composições, mas pela presença também de poesia, dança e imagens da arquitetura e da natureza locais projetadas num grande telão que fez as vezes do pano de fundo do palco.

 

O espetáculo, que promoveu reencontros após mais de 4 décadas entre compositores e intérpretes dos grandes festivais da canção, também proporcionou o reencontro do povo com sua identidade cultural e artística. Não foi raro ver cenas de pessoas extremamente emocionadas com o show preparado pela Prefeitura Municipal de Corumbá, através da Fundação de Cultura.

 

“A gente desperta um sentimento muito importante que é ‘eu pertenço a esse lugar’. Não sou contra o intercâmbio, mas eu defendo esse local sabendo que ele é tão importante quanto o global. O local dentro do global, não só para cima, mas olhar para dentro da gente. O melhor foi ver muitas pessoas emocionadas lembrando um tempo que não volta mais, porém pode ser reescrito”, declarou a diretora-presidente da Fundação de Cultura de Corumbá, Márcia Rolon.

 

Estruturado a partir da Lenda Bororo, relato poético do surgimento da cidade cuja autoria é de Pedro Medeiros, o show, apresentado por Paula Mirhan e Caio Lima, seguiu mostrando um leque diverso de intérpretes e composições. Grande parte delas que marcaram épocas nos antigos festivais e que, até hoje, ainda estão na memória de muita gente.

 

Entre uma apresentação e outra, Nilo Rubens, que pegou um lugar no “gargarejo”, mostrava extrema emoção. Aos 59 anos de idade, ele afirma que não esperava rever tantos talentos locais reunidos num mesmo palco. “Eu vivi esses tempos, que coisa bonita! Corumbá precisa disso, de cultura, verdade e honestidade. Tem gente que não dá valor a isso ou não percebe esse valor. A letra que esse pessoal fazia…Tadeu e Norma Atagiba cantando da mesma forma fez muito bem ao meu coração. Foi um presente impressionante, nunca imaginei que podia ver isso. Tomara que a cultura continue dessa forma em Corumbá”, declarou.

 

A emoção tocou o público não por acaso, mas porque no palco ela também esteve o tempo todo presente até mesmo para as gerações mais novas como a dos bailarinos da Oficina da Dança da Fundação de Cultura. O grupo que se destaca nacionalmente por levar a dança regional a todos os cantos do país teve, nesta noite, talvez a mais importante de suas apresentações, segundo avaliou o coreógrafo e coordenador da Oficina, Joílson Cruz. “É de extrema importância para nós artistas corumbaenses unirmos a música e a dança regionais. Hoje, concretizamos esse sonho de ter os artistas nossos cantando nossas músicas. É uma realização verdadeira para mim, como coreógrafo, para os alunos da Oficina de Dança. São artistas consagrados que a gente tem o maior respeito e por isso essa grande emoção em dividir o palco com eles”.

 

Reconhecimento e “bis”


Edgar Suruco, autor de “Rosa”, considerada a melhor canção do festival de 1970, fez um desabafo. “Esperei mais de 40 anos para ser valorizado na minha terra. Fiz uma música que ganhou festival e nunca ninguém valorizou, hoje depois de tanto tempo vou ver minha música brilhar num palco digno e com uma plateia dignamente corumbaense”, disse.

 

Grande compositor da época de festivais e autor de várias canções do grupo Terra Branca, Islândio de Jesus, que completa 74 anos de idade, neste dia 23 de setembro, não conteve as lágrimas ao ouvir “Cheiro da Terra”, canção emblemática de Corumbá. “A emoção é tão grande que é difícil até expressar, pois estamos aqui encontrando companheiros de composição de 42 anos atrás. Ei vi nascer o grupo Terra Branca, do qual fui compositor; vi nascer o MJ-6, que participou também de minhas músicas; coloquei vários jovens no caminho da música, como o Ramão Bravo”, falou.

 

Norma Atagiba, voz feminina marcante de nossa música, foi acompanhada por um coro ao interpretar a canção “O Pródigo”. O grupo Terra Branca, que retomou suas atividades com o convite para participar show Recordar é Viver, foi bastante aguardado pelo público que, ao final da apresentação, pediu “bis”. “Queremos parabenizar o prefeito Paulo Duarte que teve a coragem de fazer um evento que valorizou a cultura. Isso aqui não tem preço”, declarou ao microfone, Hélio Ferreira, um dos idealizadores do grupo.

 

Marluci Brasil interpretou a canção que é considerada uma espécie de segundo hino de Corumbá. “Cantiga de Amor a Corumbá” embalou a todos com seu refrão “Cidade Branca é Corumbá/Melhor não há/Nem cá, Nem lá”. Tadeu Vicente Atagiba encerrou o show de forma arrebatadora ao cantar “Caminho Eu”, composição de José Eloy, levantando a plateia. “Nem palavras eu tenho. É uma emoção grande, gratificante essa iniciativa que Fundação de Cultura teve e que para o povo vai ser inesquecível. Realmente, a música “Caminho Eu” é um carro-chefe dos festivais, eu mesmo não quis olhar para ninguém porque, com certeza, choraria. Foi um momento histórico, é um evento que tem que ter continuidade”, declarou.

 

Presente no show, o prefeito Paulo Duarte foi convidado pelos artistas a subir no palco onde recebeu uma homenagem em forma de placa de agradecimento pela atitude de dar destaque para a arte e a cultura corumbaenses. Não fugindo ao clima que perdurou todo o espetáculo, o prefeito, emocionado, fez questão de esclarecer. “Hoje é aniversário de Corumbá e temos que festejar nossa arte, nossa cultura. Nós vamos sim, trazer aqui artistas de renome nacional, como sempre trouxemos, mas queremos, no aniversário de Corumbá, festejar a nossa cidade, a nossa arte. Estou muito feliz porque isso aqui, embora o nome seja “Recordar é Viver”, promoveu uma mistura de gerações no palco e na plateia”, disse ao avisar que a Prefeitura irá providenciar um DVD com o registro do show.

 

Atendendo aos pedidos do público que queria mais, os músicos, todos já no palco, terminaram o espetáculo do jeito que o corumbaense gosta: com carnaval. O músico Caio Lima puxou e todos seguiram com o mais tradicional samba do carnaval corumbaense: “Boa Tarde, Boa Tarde”, do bloco Flor de Abacate. A percussão foi acompanhada de uma queima de fogos.

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